Quatro em cada dez brasileiros estão com as contas atrasadas
Levantamento referente a junho mostra aumento de 6,54% em comparação com 2021; valor médio das dívidas é R$ 3.583,21
Renda Extra|Do R7
A inadimplência continua a crescer e, em junho, já atingia 62,73 milhões de brasileiros, número que corresponde a quatro em cada dez adultos do país. Isso significa que 38,87% das pessoas com mais de 18 anos não conseguiram pagar todas as suas contas naquele mês, e acabaram ficando negativadas.
Essas informações são de um levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito). Foram usadas informações de capitais e cidades do interior de todos os 26 estados e do Distrito Federal, disponíveis nos bancos de dados das duas entidades. O estudo considera como dívida a relação de um credor com um devedor, independentemente de o credor incluir vários registros desse mesmo devedor junto ao SPC Brasil. Para o levantamento, esse consumidor tem apenas uma dívida.
Em comparação a junho de 2021, a quantidade de inadimplentes no mês teve aumento de 6,54%. Além disso, a variação anual observada no mesmo período, neste ano, ficou acima da registrada no mês anterior: de maio para junho, o número de devedores cresceu 0,64%. Para calcular o crescimento do indicador anual, foram considerados os devedores com tempo de inadimplência de 91 dias a 1 ano, 40,05% do total.
“Os preços continuam subindo, e os itens básicos têm ocupado mais espaço no orçamento das famílias. Com isso, as outras contas acabam ficando para segundo plano”, diz o presidente da CNDL, José César da Costa, que destaca o impacto da inflação na renda da população.
O levantamento mostra que a maior concentração de inadimplentes está na faixa etária de 30 a 39 anos, com 15,58 milhões de pessoas registradas em cadastros de devedores. Esse volume equivale a 45,54% dos indivíduos desse grupo.
Devedores
Cada consumidor devia, em média, R$ 3.583,21, na soma de todas as dívidas, e precisava acertar as contas com 1,91 empresas credoras. Quase quatro em cada dez dívidas são de valores até R$ 500, mas esse percentual chega a 49,75% quando os pagamentos são de quantias de até R$ 1.000. Mais da metade das dívidas é com bancos.
Em junho de 2022, o endividamento no Brasil apresentou crescimento de 12,74% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Na passagem de maio para junho, o número de dívidas sofreu alta de 1,65%.
As dívidas com o setor de bancos foram as que mais aumentaram: 24,31%. Em seguida, vêm água e luz, com crescimento de 4,49% de contas não pagas. Já os segmentos de comunicação e comércio apresentaram queda no total de atrasos, de 10,81% e 4,06%, respectivamente.
O setor credor que concentra a maior parte das dívidas também é o de bancos, com 59,22% do total. Na sequência, aparecem comércio, com 13,48%, água e luz, com 10,95%, e comunicação, com 9,13%.
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Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, apesar de o Banco Central estar tomando medidas para diminuir a inflação, os efeitos ainda não chegaram ao bolso da população. "O consumidor acumula dívidas dos últimos dois anos de crise. É importante que ele tente negociar seus débitos, principalmente com os bancos, que normalmente cobram taxas mais altas pelos atrasos”, aconselha.
A crise econômica mundial também traz prejuízos para os brasileiros. “O cenário internacional, com revisão no crescimento das grandes economias, impacta negativamente a economia do Brasil. Além disso, o país vive um cenário de instabilidade política, que aumenta o nível de incerteza para novos investimentos. Os ajustes na taxa básica de juros levam um tempo para ter efeito na estabilização da inflação, então, a tendência ainda é de aumento nos preços”, explica Merula Borges, especialista em finanças da CNDL.
Ela afirma que o consumidor deve ter cautela em relação aos gastos. “A orientação é sempre tentar não se endividar. Caso a pessoa já esteja endividada, que ela faça um levantamento de todas as dívidas e tente renegociar de uma maneira que tenha condições de honrar os pagamentos. Pode buscar linhas de crédito mais baratas, procurar alternativas de renda extra ou reformular o orçamento. O ideal é dividir o orçamento, para que, junto com a dívida, o consumidor monte sua reserva de emergência e evite entrar em um novo aperto, em caso de algum imprevisto”, explica.