Arma usada para matar Marielle é a 2ª mais apreendida no Rio

A munição usada para assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Pedro Gomes na última quarta-feira (14), no centro do Rio de Janeiro têm lote numerado da Polícia Federal.

Segundo especialistas ouvidos pelo R7, o calibre de 9mm é de uso das Forças de Segurança e o segundo mais apreendido no Estado carioca. Além de o atirador precisar ter conhecimento técnico e controle sobre a arma.

De acordo com o ex-subsecretário de segurança do Rio de Janeiro Newton de Oliveira, esse calibre é de uso restrito e qualquer policial tem acesso. No momento do crime, a vereadora estava no lado direito do banco de trás do carro — dos nove tiros que atingiram o veículo, quatro alvejaram a cabeça de Marielle. Visto as marcas, Oliveira é categórico: “Na maior parte dos casos, bandidos não têm essa precisão. Quem tem, geralmente, são vinculados às forças policiais”.

O delegado do 14° DP (Leblon), Édezio Ramos, acredita a arma foi desviada ou de um policial ou de um batalhão e, assim, "parou na mão de bandido". Sobre a manipulação da arma, o delegado concorda com o ex-subsecretário. “Quem atirou sabia atirar”, afirma.

Ainda na quarta-feira, a Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro adotou a hipótese de execução na investigação da morte da vereadora e do motorista. Para a polícia, os suspeitos sabiam exatamente a posição de Marielle dentro do veículo e, portanto, foi um crime planejado e pensado anteriormente.

Calibre e munições

O especialista em segurança pública Guaracy Mingardi avalia a pistola 9mm como “calibre alto, não é usado no cotidiano e também não é barato”. O gerente de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, concorda. "O calibre é um dos preferidos pelo tráfico, por ser categorizada como um disparo rápido".

Cerca de 548.777 mil munições foram apreendidas no Estado do Rio durante 2014 a 2017, de acordo com o Instituto Sou da Paz. Destas, 27% (148.169) são de 9mm. Ainda segundo o órgão, armas de 9mm foram o segundo calibre mais apreendido no Estado no ano de 2014: 1.369 (16% do total).

Exército

Publicado em 24 de agosto de 2017, o Exército Brasileiro abriu opção aos agentes de segurança pública para adquirirem diretamente até duas armas de uso restrito. A portaria 967 estabeleceu que o policial não precisa pedir autorização.

partir de agora, o policial não precisará pedir autorização direta para adquirir armas de fogo de uso restrito com calibres .357 Magnun, .40 S&W, .45 ACP ou 9mm, em qualquer modelo, por policial rodoviário federal, policial ferroviário federal, policial civil, policial e bombeiro militar dos Estados e do Distrito Federal.

Forças Armadas

Com características de execução planejada em um Rio de Janeiro supostamente em processo de estabilização, o que se impõe é a falência de um sistema de segurança pública, segundo o ex-subsecretário. “Se insiste irresponsavelmente em repetir fórmulas de ação que não trazem resultados e só fortalecem a criminalidade”, diz.

De acordo com Oliveira, Marielle e Gomes foram vítimas da irresponsabilidade do Estado e do descaso, consequentemente, da segurança pública enfrentada há anos pelos moradores — principalmente os da Maré, região onde a vereadora nasceu, cresceu e se tornou forte líder.