Policiais militares suspeitos de envolvimento com o desaparecimento de Amarildo de Sousa afirmaram que foram obrigados pelo major Edson Santos e pelo tenente Luiz Felipe de Medeiros a ocultar provas da tortura do ajudante de pedreiro, segundo informou o Ministério Público do Rio.
Os acusados também informaram que foram obrigadas a dar declarações combinadas com os superiores.
Segundo o Ministério Público, as declarações foram dadas durante os depoimentos dos acusados após denúncia à Justiça de mais 15 PMs suspeitos no último dia 22.
Ainda de acordo com o MP, o ajudante de pedreiro foi torturado por cerca de 40 minutos em um pequeno depósito atrás do contêiner da UPP da Rocinha. Além de receber choques elétricos, Amarildo teria sido afogado em um balde e sufocado com saco plástico na boca e na cabeça.
Os PMs disseram que no dia da tortura ouviram gritos de dor e pedidos de socorro de um homem por cerca de 40 minutos. Ainda de acordo com Promotoria, o advogado destacado para defender os suspeitos na época pressionou os PMs para saber o que foi dito nos depoimentos à Divisão de Homicídio.
Em depoimento, os policiais afirmaram que, por diversas vezes, o major Edson, então comandante da UPP da Rocinha, teria orientado o que todos deveriam dizer aos investigadores.
As fotos (acima) mostram o local onde, segundo o Ministério Público, o crime teria sido cometido. Os PMs teriam usado óleo de cozinha para apagar as manchas de sangue no local.
Agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) do Ministério Público colheram depoimentos de policiais militares ao longo das últimas semanas. Ao menos cinco confirmaram que Amarildo foi torturado próximo à sede da UPP.
Segundo a promotora Carmem Elisa Bastos, do Gaeco, quatro PMs teriam sido efetivamente os torturadores de Amarildo: tenente Luiz Medeiros, o sargento Gonçalves e os soldados Maia e Vital. De acordo com os depoimentos, 11 policiais receberam ordem do tenente para permanecer dentro do contêiner e puderam ouvir as agressões. Outros 12 vigiavam o local. Os policiais ouvidos também disseram que o major Edson, atualmente preso no complexo de Bangu, ficou em seu escritório, no andar de cima do contêiner, em frente ao local da tortura. As testemunhas também disseram ter ouvido o pedido para trazer uma capa de moto para cobrir o corpo, retirado do depósito pelo telhado em frente à mata.
Ainda segundo o MP-RJ, mais 15 policiais militares, entre eles três mulheres, foram denunciados pelo órgão, totalizando 25 acusados pelo crime.
Amarildo foi torturado por PMs para indicar paiol de armas: "Boi, perdeu. Chegou a tua hora"
No início do mês, o Gaeco havia informado que escutas telefônicas autorizadas pela Justiça do Rio ajudaram a Divisão de Homicídios nas investigações que levaram à prisão preventiva de dez PMs, os primeiros denunciados. Os dez agentes tiveram os telefones celulares grampeados e monitorados.