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Choro, protesto e novas denúncias marcam assembleia na Vale 

Apesar das críticas de acionistas minoritários, relatório administrativo foi aprovado na primeira reunião após tragédia de Brumadinho (MG)

Rio de Janeiro|Bruna Oliveira, Do R7

Carolina de Moura tocou uma sirene em protesto
Carolina de Moura tocou uma sirene em protesto

Mesmo diante dos protestos de 11 acionistas críticos, ligados ao grupo Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Vale, o relatório administrativo apresentado pela companhia foi aprovado na sede da empresa em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (30), na primeira assembleia após a tragédia de Brumadinho (MG).

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Entre as principais reivindicações estavam a destituição da atual diretoria e a paralisação das atividades da Vale. No entanto, os votos dos acionistas minoritários não tiveram efeito. 

Uma das maiores críticas do grupo foi em relação à abertura da reunião feita pelo diretor-executivo, Luciano Siani, que leu uma poesia e até chorou ao falar do sentimento diante do rompimento da barragem, que deixou 233 mortos e 37 desaparecidos.


“Foi uma decepção. A empresa está se esforçando para naturalizar os danos, violações e impactos que ela pratica cotidianamente em todas as suas operações. Me chamou a atenção o cinismo durante a apresentação, na qual a empresa tentou se colocar no papel de vítima, reclamando que os funcionários têm vergonha de andar nas ruas e que estão sendo exageradamente culpados numa situação que eles ainda não podem explicar o que aconteceu. Isso foi bastante chocante”, disse o advogado e membro da organização Justiça nos Trilhos, Danilo Chammas. 

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Por outro lado, o momento mais tenso ocorreu ao final do encontro quando a acionista e moradora de Brumadinho, Carolina de Moura, tocou uma sirene na sala.


“Apontamos essa situação há muitos anos e temos sido ignorados, mas diante da magnitude da tragédia eles vieram na defensiva, e subimos um pouco o tom, porque o que fizeram é imperdoável. E é um absurdo o antigo presidente ter dito que as sirenes não tocaram porque foram engolfadas, por isso, centenas de pessoas morreram. Então, trouxemos a sirene para tocar e fomos podados por essa inciativa, porque as regras estavam sendo desrespeitadas. Mas a sirene da justiça vai continuar tocando."

Carolina mora a cerca de 10 km da barragem que se rompeu e enfatizou que o protesto também teve como objetivo mostrar a sensação de insegurança que os sobreviventes precisam lidar.


“Parece que a empresa continua sem tratar seus rejeitos, porque a sirene não soou em Brumadinho e Mariana, mas continua tocando em outros municípios de Minas Gerais, provocando um terrorismo nas barragens em uma população que está em pânico, que tem que sair de casa de madrugada e ir para uma rota de fuga que não sabe onde fica. A sirene que a gente tocou foi para dar um pouquinho dessa sensação."

A professa da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Karina Kato destacou que os rompimentos de barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) não foram “acidentes pontuais”. Kato afirmou ainda que desde 2010, quando começou a participar das assembleias, fez alertas sobre os riscos deste tipo de exploração. E, hoje, mais uma vez, ela disse ter denunciado outros casos.

“Alertamos sobre a situação da CSA, maior siderúrgica da América Latina, uma empresa que ficou seis anos sem licença de operação e foi ré em duas ações por crimes ambientais. Hoje em dia, apesar de ter sido vendida pela Vale, ela ainda é fornecedora de 100% do minério que ali é processado e as famílias [do entorno] convivem com o pó particulado, que respiram diariamente, desde 2010, com chuvas de prata constantes e explosões. E a empresa não fez nada, apenas vendeu para se eximir das responsabilidades dos passivos que causou, tanto ambientais quanto sociais. Foi utilizada a mesma tecnologia criticada em Cubatão, com a VLI, que é simplesmente de retirar material contaminado do fundo oceânico e enterrar numa cova, onde navios fazem manobras, o que futuramente pode explodir e trazer a contaminação de metais pesados." 

Procurada, via e-mail, a empresa ainda não se manifestou sobre as críticas feitas pelo grupo Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Vale. O espaço está aberto para manifestação.

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