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Comércio ilegal incentiva roubo de cargas no Rio, aponta Firjan

Campanha alerta população sobre compra de mercadoria roubada

Rio de Janeiro|Do R7*

Iniciativa mostra relação entre roubo de cargas e aumento no valor dos produtos
Iniciativa mostra relação entre roubo de cargas e aumento no valor dos produtos

Para tentar frear o avanço do roubo de cargas no Estado do Rio, a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) está mirando na ponta do problema: a receptação. A campanha Não Compre Violência quer conscientizar a população carioca sobre o papel de cada cidadão no combate a este tipo crime. A ação tenta mostrar em números o impacto do roubo de cargas no dia a dia do carioca, seja pelo encarecimento de produtos ou pelo crescimento da violência.

A campanha lembra ainda que quem compra, transporta, armazena, vende ou utiliza mercadoria roubada também está cometendo um crime. A receptação qualificada está prevista no código penal, com pena entre três e oito anos de prisão.

No ano passado, o Rio foi considerado o Estado mais perigoso para transporte de cargas no país, título que ainda mantém. Foram registrados 9.832 casos, media de 823 roubos por mês. Este ano, considerando os registros entre janeiro e agosto, são 840 casos mensais, totalizando 6.727 ocorrências. Se a média que vem sendo registrada se repetir nos últimos quatro meses deste ano, o Rio pode bater um novo recorde de roubo de cargas, com 10.090 casos.

O aumento no número de casos indica, consequentemente, que há um crescimento do mercado irregular desses produtos. Ter a segurança que a mercadoria será vendida e dará rápido retorno incentiva que os criminosos continuem praticando este tipo de crime, como explica Sérgio Duarte, vice-presidente da Firjan (Federação Nacional das Indústrias do Rio de Janeiro).


— Toda vez que o consumidor vê um produto que normalmente é vendido a R$ 2 no mercado formal e ele encontra alguém vendendo o mesmo produto a R$ 1, ele precisa entender que tem alguma coisa errada nisso, não é um preço de mercado e, consequentemente, esse produto é roubado ou falsificado. Só existe o roubo de carga porque tem onde essa carga ser vendida. O consumidor precisa entender que essa pequena vantagem momentânea estimula toda uma cadeia criminosa por trás.

O lucro obtido com a venda das cargas, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio, financia o crime organizado e o tráfico de drogas e armas. Indiretamente, este tipo de crime alimenta a violência no Estado, ao colocar mais poder de fogo na mão dos criminosos. À exemplo disto, a campanha mostra que apenas no primeiro semestre deste ano, o latrocínio - roubo seguido de morte - cresceu 21,2%.


Mais de 7 mil casos registrados em 2017
Mais de 7 mil casos registrados em 2017

Além de fortalecer a criminalidade, o roubo de cargas contribui para agravar a crise econômica fluminense, já que aumenta o preço dos produtos e pode levar ao desabastecimento, causando efeito cascata em diversos setores. Duarte ressalta que o primeiro impacto pode ser percebido na queda da arrecadação de impostos, seguido pelo desemprego e recesso na economia estadual.

— Tem algumas transportadoras que não querem vir para o Rio, porque tem motoristas que não querem vir para cá, ficam com medo. Se você tem menos caminhões que aceitam vir para o Rio, quando você encontra um é claro que ele vai cobrar mais caro. As industrias do Rio são penalizadas duas vezes, pela mercadoria produzida que é roubada e pela matéria-prima que também é levada e que também já é encarecida por causa do frete. Isso tudo é muito ruim para a economia do Estado — alerta o vice-presidente da Firjan.


O volume de cargas roubadas estaria levando muitas empresas a deixar o estado ou até mesmo a fechar definitivamente as portas. Duarte ressalta que quando uma empresa fecha, também fecham-se postos de trabalho. No primeiro semestre deste ano, havia cerca de 1,3 milhão de desempregados no Estado do Rio, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para as empresas que conseguem se manter no Estado só resta elevar os preços para tentar equilibrar os prejuízos. Estudos desenvolvidos pela Firjan estimam que o roubo de cargas seja responsável pelo aumento de até 30% no valor de eletrônicos e alimentos; eleve o preço de medicamentos em até 35%; e encareça produtos de vestuário em 20%.

— Hoje o seguro de cargas no Rio é o mais caro do Brasil, porque a incidência de roubos aqui é muito grande. Esse custo do seguro impacta diretamente no produto. O consumidor está sendo cobrado diretamente pela elevação dos preços e indiretamente pela falta de ofertas [oferta e demanda], o que também eleva o valor final dos produtos.

Os caminhões são interceptados nas estradas, principalmente na rodovia Presidente Dutra, na Washington Luiz e na avenida Brasil. Nesse trajeto, um dos pontos mais temidos é a área próxima ao Complexo da Pedreira em Costa Barros, zona norte do Rio. O município de São Gonçalo, região metropolitana do Estado também tornou-se um ponto perigoso para os motoristas.

— As quadrilhas perceberam que o roubo de cargas é um tremendo negócio para eles porque quando eles vão roubar um caminhão, só encontram o motorista, um trabalhador que não está preparado para lidar com gente armada, então o risco é pequeno. Um carga pode custar R$ 100, R$ 200 mil com risco zero e venda fácil. Se ele roubasse, mas não tivesse onde vender essa mercadoria, ele ia parar de roubar, mas hoje tem mercado pronto para receber essa carga — afirmou Sérgio Duarte.

Número de ocorrências cai em setembro

Apesar dos números alarmantes, o vice-presidente da Firjan destacou que o setor percebeu uma leve melhora entre agosto e setembro deste ano. O número de casos que chegou ao seu ápice em maio com 1.037 registros, caiu para 676 em setembro, conforme anunciou em primeira mão o secretario de Segurança Pública do Rio, após reunião com o Grupo de Enfrentamento ao Roubo de Cargas, nesta segunda-feira (16). Roberto Sá atribuiu o resultado a parceria com o Governo Federal, com reforço do efetivo da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e envio da Força Nacional.

Força Nacional patrulha vias expressas do Rio
Força Nacional patrulha vias expressas do Rio

— Estamos operando desde maio com a PRF e a Força Nacional nas áreas em que esse indicador era mais expressivo. Nesse mesmo período, fizemos ações importantes para prisões de roubadores de carga — apontou Sá.

No comparativo com o mesmo período do ano passado, setembro apresentou redução de 24% no número de ocorrências. Porém no acumulado, 2017 já registra crescimento de 14,6% no roubo de cargas.

Jaqueline Suarez, estagiária do R7 Rio

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