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De laje com feijoada a hostel: mulheres se destacam à frente de negócios em comunidades do Rio

Empreendedoras conquistam sonhos e dão dicas para manter o negócio

Rio de Janeiro|Rodrigo Teixeira, do R7

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Tia Léa, Cristiane de Oliveira e Cristina Implantista desenvolveram seus negócios em comunidades do Rio
Tia Léa, Cristiane de Oliveira e Cristina Implantista desenvolveram seus negócios em comunidades do Rio

Sabe aquela mulher que é chefe de família, mãe, avó e ainda toma conta do seu negócio? O Rio de Janeiro está cheio dessas mulheres empreendedoras movimentam a economia de muitas comunidades da capital.

Dados oficiais sobre mulheres empreendedoras em comunidades do Rio de Janeiro ainda são muito iniciais. Entretanto, o Sebrae RJ (Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas) diz que quem comanda os negócios em morros e favelas fluminenses são mulheres negras com idade de aproximadamente 43 anos.


Para a coordenadora do projeto de empreendedorismo em comunidades pacificadas do Sebrae RJ, Carla Teixeira, as mulheres fluminenses têm baixa taxa de dependência da pessoa com a qual ela se relaciona amorosamente e isso facilita a abertura de um negócio e garante o protagonismo feminino.

— O perfil majoritário do microempreendedor nas comunidades são de mulheres. Chegamos a esses dados a partir de uma pesquisa com o IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade). Essas mulheres são empreendedoras por necessidade. Mesmo fora do mercado de trabalho, elas buscam oportunidades para si.


Cristiane da Silva Oliveira é proprietária do hostel Favela Inn
Cristiane da Silva Oliveira é proprietária do hostel Favela Inn

Cristiane da Silva Oliveira sempre morou no morro Chapéu-Mangueira, na zona sul do Rio. A partir da pacificação em sua comunidade e com cursos de capacitação de guia turística, ela aproveitou a vista para as praias do Leme e Copacabana e criou o hostel Favela Inn, que tem atraído turistas brasileiros e estrangeiros o ano inteiro.

— Aqui é verão o ano inteiro e o mundo ama essa cidade. Antes recebíamos turistas na comunidade, mas depois da pacificação chegaram muitas coisas pra gente. Eu fiz um curso e abri uma empresa que deu forma ao Favela Inn.


Cristiane afirma que todo empreendedor deve se capacitar para entender melhor seu negócio e planejar o futuro.

— Hoje, quando eu chego a um banco ou vou a um evento, me olham como empresária. E é isso que eu sou e me dá um orgulho danado. Eu me alegro quando apresento o meu CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). Temos que estar legalizados e com todos os compromissos em dia para não ficarmos para trás.


Cristiane coloca toda a família para trabalhar.

— Hoje a minha família é minha equipe também. Eu, meu marido e meus quatro filhos estamos juntos nessa. Sabemos que aqui tem uma oportunidade para todos. Não falo inglês, mas minha filha fala e já está aprendendo a falar francês. Quero que eles tenham o que eu não tive.

Uma das características observadas nos negócios pelo Sebrae RJ é a capacidade que a mulher tem de fazer com que a renda gerada pelo seu negócio fique na comunidade. Carla Teixeira elogia a postura de Cristiane à frente de seu hostel.

— A mulher quando empreende em uma comunidade faz esse dinheiro circular pela localidade. São multiplicadoras de tudo o que aprendem. Elas se preocupam com o negócio, cuidam da casa e ainda conseguem olhar para a localidade onde moram e fazer um trabalho voluntário. A Cristiane, por exemplo, apoia um grupo de capoeira e está sempre se inteirando de tudo que acontece no Chapéu-Mangueira.

Os ramos da beleza, comida e venda porta a porta são dominados por mulheres, segundo Carla.

— Muitas mulheres deixam de trabalhar formalmente para cuidar dos filhos. Mas elas não podem ficar sem dinheiro e começam a emprender localmente. Vendem cosméticos porta a porta, abrem salões de beleza ou fazem da cozinha de casa uma pensão ou um pequeno restaurante.

Tia Léa e sua feijoada são a cara do Morro do
Vidigal
Tia Léa e sua feijoada são a cara do Morro do Vidigal

Tia Léa, que trabalha como auxiliar de serviços gerais da Câmara de Comércio França-Brasil, incrementa a renda preparando suas receitas para quem estiver disposto a visitar a sua laje no Morro do Vidigal, zona sul do Rio.

Em janeiro 2009, ela convidou o então cônsul-geral da França, Hugues Goisbault, para um almoço em sua casa. O diplomata a surpreendeu ao aceitar a oferta e ainda levou sua turma para a laje no alto.

— Depois que ele veio aqui eu me senti. Muita gente já passou por aqui. O cônsul da Angola e muitos famosos. O Ja Rule e até o Snoopy Dogg já provaram a minha comida.

Tia Léa disse que o segredo do sucesso da sua feijoada é o amor.

— Sabe qual o meu filão? Eu não ofereço uma comida cheia de frescura. A minha comida é caseira, coisa de mãe ou avó. Tem coisa mais gostosa que isso? Hoje eu me considero uma vencedora. Construí um nome com meu tempero. Tem que ter corajem e muita cara de pau para se começar um negócio e se trabalhar direitinho o resultado vem.

Tia Léa marca com sua clientela e fecha almoços em sua laje pela internet. Para não ter problema ou dor de cabeça, o pagamento é antecipado.

— Aqui é assim: eu fecho pacotes com grupos de turistas ou faço um evento para no máximo 30 pessoas. Mas sempre aparece um ou outro... Sempre tenho a mais um prato de feijão ou cozido para atender meus clientes.

Assita ao vídeo:

Cristina Nascimento é referência em implantes
Cristina Nascimento é referência em implantes

As longas madeixas em vários tons de loira da empresária Cristina Nascimento ou melhor Cristina Implantista, como ela gosta de ser chamada, deixam claro a relação que esta empreendedora tem com seu negócio, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.

— Eu mostro o resultado em mim para qualquer cliente ver que esse acabemento que eu faço é algo especial e o que fazemos para cada uma é algo único. Porque a mulher quando entra aqui no salão só sai como diva.

Cristina contou que, quando tudo começou na comunidade da Prainha, em Duque de Caxias, ela saiu do ramo do comércio para cair de cabeça no da beleza.

— Aprendi a tecer tela para cabelo de boneca com uma senhora que trabalhava com isto e perucas de Carnaval. Depois fui ser vendedora, mas conheci o cabeleireiro Wilson Diniz Teixeira. Comecei a aprender as técnicas e não parei mais.

Após 11 anos de trabalho com implante de cabelo humano, Cristina destaca que seu jeito despojado e próximo de suas clientes garante a fidelização.

— Eu chamo minhas clientes de amor e faço questão de responder a cada uma que me manda mensagens pelas redes sociais do salão. Essa gana para o negócio eu aprendi com o meu pai, ele sempre falava que não era para a gente depender de homem.

Com toda simpatia, Cristina leva seu negócio e se orgulha de tudo que construiu. Atualmente, ela gera 31 empregos.

— Hoje fazemos uma média de 50 implantes por dia. E funcionário meu tem carteira assinada. Pago os meus impostos para andar direito com tudo. Não me descuido de nada. Eu sempre digo que aqui em casa e no salão quem apita sou eu e a última palavra é sempre minha.

Confira 5 dicas do Sebrae RJ para você tirar do papel o sonho de abrir um negócio:

1 – Pesquisa: é preciso que o empreendedor que deseja abrir um negócio pesquise bem o ramo onde quer atuar, para levantar os prós e contras de cada atividade.

2 – Entender o cliente: é preciso que o empreendedor conheça as expectativas do seu futuro cliente para que ele possa atendê-lo plenamente.

3 – Planejamento: tudo que envolva o negócio deve ser pensado, calculado e planejado. Deve-se fazer uma lista de tudo que se precisa para abrir um negócio e dar continuidade a ele.

4 – Capital de giro: Para se iniciar um empreendimento, algum investimento deve ser feito. Se o empreendedor não tiver pode até recorrer a um empréstimo. Um erro comum que deve ser evitado por qualquer empreendedor é misturar os gastos da sua empresa com os seus pessoais.

5 – Capacitação: O emprendedor deve estar sempre buscando aprender algo novo que possa lhe guiar no trabalho. O Sebrae disponibiliza rodadas de negócios e capacitação para todo empreendedor e tem até um curso voltado só para as mulheres: Mulheres Emprendedoras.

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8), o R7 fez uma série de reportagens dedicada a elas. Veja aqui o índice completo das matérias publicadas.

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