Em um dia como hoje, 1ª de janeiro, mas há dez anos, Angra dos Reis viveu um pesadelo que matou 53 pessoas após as fortes chuvas que fizeram deslizar morros do município do estado do Rio de Janeiro. A mãe da jovem Yumi Faraci Iamanishi, uma das vítimas, com apenas 18 anos, Sonia Imanishi, escreveu um comovente texto nesta quarta-feira em suas redes sociais. "Para nós, pais, é uma fração de segundos, entre um momento em que dávamos gargalhadas e outro em que o tempo não volta mais. Basta apenas uma fração de segundos para que tudo esteja modificado... 10 anos se passaram.." Sônia e o marido, Geraldo Faraci, eram donos da Pousada Sankay, local onde ocorreram 31 mortes. Entre os turistas no estabelecimento estavam Yumi e vários de seus amigos de faculdade, estudantes de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dois deles morreram no incidente iniciado por volta de 3h da madrugada daquele terrível Réveillon, pouco depois de se banharem nas águas da enseada do Bananal, ali ao lado. Choveu tanto naquela virada de ano que boa parte das pousadas da região cancelou as festas por falta de luz e também por receio de colocar em risco os hóspedes. A maioria dos estabelecimentos fechou as portas definitivamente porque a Prefeitura de Angra decidiu não renovar as licenças de funcionamento. Sônia e Geraldo atenderam a um pedido da filha, feito dois meses antes do deslizamento, de ter seu corpo cremado, em seguida abandonaram Angra e se instalaram em MInas Gerais, mais especificamente em Brumadinho, município que em 2019 foi atingido por outra tragédia ambiental, com o desmoronamento de uma barragem da companhia Vale. Dessa vez, no entanto, a família estava distante o suficiente. No texto postado no Facebook, Sônia recorda o pedido da filha, nas palavras da própria Yumi. "Gostaria que minhas cinzas fossem jogadas no alto de uma montanha e no mar. Quando sentirem saudades minhas, respirem! Estou no ar! Quando sentirem saudades minhas, mergulhem! Estou no mar! Estou no mundo! Estou no coração de cada um de vocês!" Sônia é artesã e Geraldo tem um restaurante de comida japonesa. Eles não quiseram falar com a reportagem do R7. Geraldo Faraci enviou esta mensagem à redação: "Prefiro não falar nada para a imprensa . Vivemos porque o amor persiste em nós. Somos eternamente gratos aos amigos, parentes e a todos aqueles que das mais diversas formas nos prestaram seu amor e sua solidariedade." Leia na íntegra a homenagem da mãe:"Y U M I 10 anos se passaram desde que nossa Yumi partiu... Incrível como o tempo é relativo. Para nós pais, é uma fração de segundos, entre um momento em que dávamos gargalhadas e outro em que o tempo não volta mais. Basta apenas uma fração de segundos para que tudo esteja modificado... 10 anos se passaram... Geraldo e eu vamos acompanhando através de vocês, dos primos e dos amigos que cresceram seguindo suas escolhas... Dos nossos amigos que casam seus filhos, nascendo seus netos, e outros até partindo... Ficamos no imaginário de como estaria Yu? Morando no Brasil? Talvez não mais... Doutorando em arquitetura? Não sei... Gostava de estudar, e como! Se somasse todas as notas da escola e dividisse pelo tempo que estudou, dariam mais de 93% de aproveitamento... Mas... E a música? E o esporte? Qual teria sido sua prioridade? Obrigada queridos amigos, através de vocês, conseguimos imaginar como teria sido... Relembrando... Fizemos a vontade dela, 2 meses antes de partir, ela comentou que: “Gostaria que minhas cinzas fossem jogadas no alto de uma montanha e no mar. Quando sentirem saudades minhas, RESPIREM! Estou no AR! Quando sentirem saudades minhas, MERGULHEM! Estou no MAR! Estou no MUNDO! Estou no coração de cada um de vocês!”Calma, pessoal! Não, nada de tristeza, Yumi não era assim. Ela era só RISOS! Sorrisos! Com deliciosas gargalhadas! E um suuuppper astral!Geraldo e eu decidimos ressignificar nossas vidas.... até que o último de nós se vá, vamos espalhando suas e nossas cinzas tbm em viagens incríveis... Começou um novo ciclo para nós! Porque viajar era tudo que Yumi mais gostava, e claro nós dois também sempre... Então, para iniciar, aos 10 anos de sua partida, levaremos um pouquinho de suas cinzas, para o extremo Sul do continente Sul Americano, a Patagônia Argentina/ Chilena.Escolhemos El Calafate como ponto de partida, navegamos ontem pelos fantásticos Glaciares, solicitamos ao comandante sua permissão.... e a tripulação num momento especial, pertinho dos icebergs no glaciar Upsala, numa pequena e discreta parada nos avisou p jogar as cinzas de Yu... foi lindo, emocionante... Amanhã cruzaremos a fronteira chilena e levaremos para Torres Del Paine... e depois chegaremos a Ushuaia, a terra do fogo, o fim do mundo e navegaremos pelo canal de Beagle...Pena que não tivemos essa ideia antes, pois gostaria de ter deixado tbm no deserto do Saara e no Atacama... Mas, como toda boa intenção é valida, prometi para Yumi já, há alguns anos que: FAREI DOS MEUS OLHOS OS SEUS, E DOS SEUS OLHOS OS MEUS... (Até pensei em escrever um livro... já tenho o título... risos). Assim, lá vamos nós!Convidamos vocês para, à partir de hoje, dia 1º de janeiro de 2020, participar com a gente, enviando boas energias para Yu! E que cada um de vcs ao viajar levassem Yu, o seu alto astral e que curtam cada momento, e cada segundo de suas vidas intensamente.... Viva la Vida!Projeto: “Yumi, Te levo pelo mundo”!...e lembrar dos bons momentos que tivemos com ela, por toda sua alegria, por toda sua positividade, por toda sua simplicidade, descomplicada, por toda felicidade que nos trouxe, pelos anos incríveis que vivemos juntos...Amamos vocês! Que venha 2020 com muita saúde! E muito amor no coração! Sonia e GeraldoVejam a preciosidade que achei em meus arquivos: “……I believe music is inside us, and as long as you make the best you can, anything is possible! Just put this challenge in mind and carry on!” .... (Parte do texto original em inglês)“Cá estou entre minhas criações criativas... Após infinitas idéias que, diga-se de passagem, não me levaram a lugar algum, cheguei a conclusão de que queria fazer algo que pudesse exprimir ao máximo a conexão entre o SER e os SERES. O mais impressionante é a capacidade de uma obra de se desprender das amarras visuais, concentrando-se fortemente na acústica e reprodução sonora, ser tão "completa" a ponto de fazer uma pessoa esquecer-se de tudo aquilo que passa em sua mente. Ao entrar no ambiente musical , sinto o som abraçar-me por todos os lados, me faz criar uma esfera musical épico-celestial. Desoriento-me, ao provocar uma desesperada movimentação em mim à busca de um novo som, onde a audição sobrepõe quaisquer outros sentidos humanos, que sobrepõe o silêncio abrupto que acompanha o fim de uma gravação.Simplesmente, não quero mais sair, a música é uma verdadeira abstração, é surreal ! Acredito que a música esteja dentro de nós, desde que você faça o melhor que puder, qualquer coisa é possível! Basta acreditar neste desafio!”” Yumi Imanishi Faraci (17 set 1991 – 01 jan 2010)