Diretor e subdiretor de presídio são afastados após delegado preso flagrado com celular ser transferido
Marcos Cipriano foi preso em maio, acusado de envolvimento em esquema de jogos de azar; delegado está preso em Bangu 1
Rio de Janeiro|Do R7, com Fernanda Macedo, da Record TV Rio
O diretor e o subdiretor da Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, foram afastados nesta terça-feira (20). A informação foi confirmada pela Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária). A decisão ocorreu após a Justiça determinar a transferência do delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello para uma unidade prisional de segurança máxima depois de ele ser flagrado usando celular dentro do presídio.
Cipriano foi preso em maio deste ano na Operação Calígula, comandada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), acusado de envolvimento em um esquema de exploração de jogos de azar.
O juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa, aceitou um pedido do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) e determinou na segunda-feira (19) a transferência do agente para a Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino, conhecida como Bangu 1, por pelo menos 10 dias.
Segundo o documento, Cipriano, mesmo preso, "manteve acesso irrestrito à aparelhos de telefonia móvel dotados de conexão à internet", nos quais tinha contato com a mulher, a também delegada Daniela dos Santos Rebelo Pinto, e a filha do casal. Em uma das conversas anexadas, em agosto deste ano, Daniela mandou para o pai, via aplicativo de mensagens, um print de tela em que Cipriano aparece em uma videochamada com a filha, de dentro da cadeia.
A delegada foi alvo de um mandado de busca e apreensão na última semana durante a Operação Novo Egito. Daniela é suspeita de receber propina para favorecer Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, preso em agosto do ano passado acusado de chefiar um esquema de pirâmide financeira.
Segundo a decisão da Justiça, existem ainda suspeitas de que Cipriano é "favorecido com indevidos privilégios, como visitas extraordinárias e de entrada de visitantes não cadastrados". Ainda de acordo com o documento, o delegado "pode ter recebido a visita de um empresário, que teria ingressado no sistema qualificando-se falsamente como advogado".
A promotoria afirma que Cipriano, juntamente com a mulher, passou a idealizar uma possível coação de testemunhas e ataques na imprensa contra membros do Gaeco responsáveis pelas investigações. Em um dos diálogos extraídos do celular da delegada, Daniela chega a chamar o policial civil lotado no MP-RJ de "judas" e diz que ele deveria ter sido preso durante a realização de uma audiência do processo contra Cipriano em outubro deste ano.
O documento traz ainda conversas que mostram o interesse da policial em saber o nome do juiz e do promotor ligados ao caso com a justificativa de que seria para um "trabalho". A Justiça entendeu que isso seria uma tentativa de interferir no julgamento do processo.
O juiz também indeferiu a revogação da prisão preventiva de Cipriano e determinou a imediata transferência para um presídio de segurança máxima. Após o prazo estipulado, caso a Seap entenda conveniente, o delegado deverá ser transferido para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, não podendo voltar para a unidade prisional em Niterói.
A Seap informou que, após o afastamento do diretor e do subdiretor, a unidade ficará sob a responsabilidade da Corregedoria da Secretaria até que se conclua a apuração dos fatos que resultaram no pedido de transferência do preso.
Procurada, a defesa dos envolvidos disse que "são absolutamente inverídicas as ilações de privilégios e favorecimentos" e que o MP-RJ "tenta criminalizar opiniões extraídas de conversas privadas entre amigos e familiares, em um contexto de indignação quanto à fragilidade do depoimento da testemunha".