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 “Distância é o principal desafio no acesso à cultura”, diz estudante

Ana Beatriz Evangelista demora em média 2h30 para chegar ao centro do Rio, lugar que concentra a maioria dos meios culturais (museus, teatros e cinemas)

Rio de Janeiro|Vinícius Andrade, do R7*

Ana Beatriz precisa pegar um ônibus e um trem para acessar os meios culturais
Ana Beatriz precisa pegar um ônibus e um trem para acessar os meios culturais Ana Beatriz precisa pegar um ônibus e um trem para acessar os meios culturais

Ana Beatriz Evangelista, de 24 anos, mora em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. A jovem, que começou acessar os meios culturais (museus, teatros, cinemas e shows) só depois do pré-vestibular, e em seguida, da graduação em Jornalismo na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) tem que enfrentar um percurso de 2h30 para conseguir chegar ao centro do Rio de Janeiro. Lugar que concentra a maioria dos museus e eventos culturais da cidade.

Ana costuma ir aos museus
em estreias de exposições
Ana costuma ir aos museus em estreias de exposições Ana costuma ir aos museus em estreias de exposições

“A minha frequência em museus, teatro e cinema sempre são pautadas pelas estreias. Sempre tem o víeis da empolgação, tem que ser alguma coisa interessante. Justamente, porque é muito inacessível, não o valor da entrada, mas a distância é o principal desafio quando acesso à cultura no Rio de Janeiro”, afirma a estudante.

Morando a mais de 55 km do centro da cidade, Ana precisa pegar um ônibus de sua casa até a estação de trem, onde pega uma composição até a Central do Brasil. “É muito difícil para ir em algum evento cultural no centro da cidade, eu tenho sempre que emendar com outro evento, para valer a pena o dinheiro investido nas passagens. Porque, são transportes super precários.”

Leia mais: Moradores da Baixada são os que mais saem da cidade para trabalhar

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Um dos motivos destacados pelo professor de geografia, Leon Dinis, é a centralização dos meios culturais no centro e na zona sul da cidade, o que dificulta o alcance da população de outras zonas e da Baixada Fluminense nesses locais. “Desde a criação do Rio de Janeiro em 1.530, a cidade foi sendo desenvolvida no centro. A parte rica ficou na zona sul e a mais pobre seguiu a linha de trem. Mas precisamos inverter a logica, tem história em todos os cantos da cidade.”

Segundo o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), dos 128 museus públicos e privados cadastrados na rede da instituição, 88 estão localizados na zona sul e no centro do Rio. Enquanto, apenas 40 museus se encontram em outras áreas do município, menos de 32% do total. 

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Mas essa concentração, não leva em conta a distribuição demográfica. Os moradores da zona sul e do centro correspondem apenas a 14,78% da população total da capital fluminense, segundo o último senso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).

De acordo com os dados do Instituto Pereira Passos, emitidos em 2018, em termos de extensão territorial, essas duas regiões correspondem a cerca de 6,61% da área total do município. Madureira e Campo Grande, por exemplo, que juntos reúnem mais de 1 milhão de habitantes, não sediam museu algum.

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Um terço (33%) dos cariocas nunca foi ao teatro

O primeiro contato de Ana Beatriz com museus, cinemas e teatros foi através do pré-vestibular comunitário em 2014. A estudante conta que a demora foi porque nunca teve uma referência familiar que frequentasse esses locais. "Minha mãe foi duas vezes ao cinema, no museu ela nunca foi, teatro pior ainda. Até porque ela é trabalhadora, os finais de semana ela usa para descansar e para organizar a vida, ela não foi apresentada para essas possibilidades."

Assim como a mãe da estudante, muitos cariocas jamais foram aos museus e teatros da própria cidade. Um estudo desenvolvido pela consultoria de cultura JLeiva, identificou em 2017, que 33% da população do Rio nunca foi ao teatro. O levantamento é seguido de Museu (24%), Shows (17%) e Cinema (5%). 

Para Leon Dinis, a educação tem um papel importante para diminuir esses índices de exclusão tão elevados. "A escola tem um papel fundamental nisso, porque é quando as crianças e os adolescentes de baixa renda tem acesso à cultura".

Ana também acredita que através da educação os desafios para chegar a esses locais sejam amenizados. "Dentro de casa não possuo essa referência, mas aprendi a ocupar esses lugares a partir do pré-vestibular e da Universidade Pública" diz a jovem.

*Estagiário do R7, sob supervisão de PH Rosa

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