'Dor física, emocional, e sem minha filha', diz mãe de bebê que morreu após parto em hospital no Rio
Polícia investiga denúncia de negligência; Secretaria Municipal de Saúde disse que direção da unidade apura circunstâncias do óbito
Rio de Janeiro|Bruna Oliveira, do R7
A família de Priscila Barbosa Reis Azevedo, de 20 anos, afirma que a jovem foi vítima de negligência médica durante o parto da filha, Alice. A bebê morreu horas após o nascimento, no Hospital Municipal Mariska Ribeiro, em Bangu, na zona oeste do Rio, no último dia 11. A Polícia Civil investiga o caso, e a unidade de saúde apura as circunstâncias do óbito da criança.
Em entrevista ao R7, Priscila relatou ter enfrentado o descaso de parte da equipe médica e problemas na estrutura de atendimento do hospital. Ela resumiu o sentimento sobre tudo o que passou: "Dor física, emocional, e sem a minha filha, que é o mais dolorido de tudo".
Priscila disse ter buscado o hospital com uma leve dor nas costas no último dia 8, grávida de 40 semanas e com o pré-natal em dia. Ao ser verificada a pressão arterial, foram constatadas uma alteração e a necessidade de um tratamento de 24 horas. No dia seguinte, após a realização de exames, a gestante recebeu a informação de que a criança estava totalmente saudável e que a recomendação era fazer a indução do parto normal, por ela estar "madura".
Inicialmente, Priscila não queria fazer a indução, mas disse ter concordado por acreditar que seria o melhor para a bebê. Segundo a jovem, apesar de ter evoluído bem no processo de contração e dilatação, ela ficou cerca de 12 horas em trabalho de parto e pediu em vários momentos para fazer a cesariana. No entanto, recebeu a resposta de que não havia indicação para o caso dela.
"A última doutora, em especial, o motivo para [ela] não ter me encaminhado para a cesariana foi porque eu tenho 20 anos, e eu sou muito nova para ficar com uma cicatriz enorme na barriga. Esse foi o motivo de ela ter me negado a cesária", contou Priscila.
A mãe contou que a neném ficou por quase duas horas em sofrimento durante o parto normal.
"O problema foi que, assim que a médica viu a cabeça, 'está tudo certo, força, empurra, já volto'. O 'já volto dela' resultou em mais de uma hora e meia, e a minha filha com a cabeça no canal, pronta para nascer, e não tinha passagem. Eu estava empurrando, e ela não saía."
A gestante disse ter sido levada para o centro cirúrgico, com urgência, somente depois que a médica não conseguiu mais ouvir os batimentos cardíacos da bebê.
"Ali, nasceu, mas sem sinais vitais, sem chorar, sem nada", relatou Priscila.
Além de acreditar que houve negligência por parte da equipe médica, a jovem relatou diversos problemas no hospital, como a maca para atendimento apoiada por uma placa de ferro.
"Quando fui sentar na ponta da maca, ela despencou no chão. Como estava segurando a mão da minha mãe, foi o que me segurou", relembrou.
Revoltada, a avó da criança, Diana Barbosa, que é enfermeira e acompanhou o parto, contou ter visto outros procedimentos errados durante o atendimento, como a retirada de um pedaço do colo do útero com a mão pela médica, mesmo com a jovem reclamando de muitas dores e perdendo sangue.
Priscila relembrou ainda que, após a cirurgia e a confirmação da morte de Alice, ninguém do hospital a procurou para explicar o que havia acontecido. Ela disse que própria família buscou os responsáveis pela unidade para ter respostas.
Segundo a jovem, a causa da morte da bebê consta na certidão de óbito como aspiração de líquido mecônio (as primeiras fezes do recém-nascido) e duas paradas cardíacas.
"Para ser sincera, a ficha ainda não caiu. Foi o que eu falei com meu namorado e com minha mãe, me pego em momentos pensando que ela ainda vai chegar. Aí, caio na realidade e choro. Fico desesperada porque tenho o quarto dela pronto, a malinha dela pronta, tudo pronto. É muito difícil tentar descrever um sentimento", disse.
Investigação
Em busca de justiça, Priscila registrou o caso na 34ª DP (Bangu), onde foi ouvida e encaminhada para perícia. Por meio de nota, a Polícia Civil informou que as partes envolvidas foram chamadas para prestar depoimento.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde lamentou a morte da bebê e disse que as circunstâncias do óbito serão apuradas, como ocorre nesses casos. No entanto, não respondeu se serão tomadas medidas em relação à médica que realizou o parto.
A pasta declarou, ainda, que utiliza os protocolos preconizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomenda o uso da cesariana quando os benefícios são superiores aos riscos, já que se trata de um procedimento cirúrgico.
A direção do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro informou que está à disposição dos familiares para quaisquer esclarecimentos.