Rio 450 anos: conheça 7 desafios para deixar o Rio mais lindo
Especialistas de três universidades analisam o que ainda falta à Cidade Maravilhosa
Rio de Janeiro|Do R7
O Rio chega hoje aos seus 450 anos com a reputação de ser uma das cidades mais belas do mundo. Mas uma série de problemas desafia a metrópole. O R7 ouviu especialistas das três principais universidades públicas do Estado para identificar, em sete áreas...
O Rio chega hoje aos seus 450 anos com a reputação de ser uma das cidades mais belas do mundo. Mas uma série de problemas desafia a metrópole. O R7 ouviu especialistas das três principais universidades públicas do Estado para identificar, em sete áreas (desigualdade, educação, meio ambiente, moradia, saúde, transporte e segurança), quais são os principais desafios para que a cidade fique ainda mais linda daqui a 50 anos, quando comemoraremos seu quinto centenário. Confira Por Alvaro Magalhães e Vanessa Beltrão
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![A desigualdade é um problema citado por vários especialistas ouvidos pela reportagem. O diferente nível de acesso a serviços públicos entre moradores de áreas nobres e moradores de regiões periféricas é, para os pesquisadores, um dos grandes desafios a ser superado.
O professor
João Trajano Sento-Sé, do LAV (Laboratório de Análise da Violência da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro), afirma que há no Rio um mito da democracia praieira.
— O
Rio vive a ilusão de uma sociedade democrática. Pensa-se que o espaço da praia é como
um espaço de confraternização. É incrível que, depois de décadas de arrastões,
por exemplo, as pessoas ainda acreditem nisso. Acho que a metáfora da cidade
partida, usada pelo [jornalista] Zuenir Ventura, é um pouco imprecisa. Mas
creio que vivemos, na verdade, numa cidade tensionada por uma diferença muito acentuada
no acesso a direitos](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/EPJL5WE5V5PHNP4XTYA6UQLTLA.jpg?auth=6922bdb3c1634aa6d56f0d57b46d58095ce8551a2d10986c7794652937e72f47&width=780&height=525)
![Professor-adjunto da faculdade de Educação da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Aristeo Leite Filho afirma ainda que há uma necessidade de se melhorar, sobretudo na periferia da cidade, o acesso às creches.
— É necessário expandir e democratizar o acesso às creches. Atendemos muito pouco a população de bairros mais periféricos. Há nessas regiões uma grande quantidade de mães jovens, trabalhadoras.
Túlio Franco, professor associado do Departamento de Planejamento em Saúde da UFF (Universidade Federal Fluminense), faz críticas à forma como é desenvolvida a assistência materna infantil. Ele diz que as mulheres que necessitam da rede pública para o parto não conseguem ter o bebê com o médico que a acompanhou no pré-natal.
— A grande questão é que a mulher que realiza o pré-natal na rede pública faz com um médico. [Já] no parto vai para um plantão na maioria das vezes. Ela tem que ter segurança que o parto seja feito com o mesmo médico que a acompanhou no período pré-natal.
Ele diz que maternidades e profissionais existem, o problema é a condução até o fim da gestação](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/STE5SWJGRJII7KGR4UMDWC6OXA.jpg?auth=cd245b9eeaca63d563253ae77d0de6b1cd7ac4e113d2f44c49360927f008758f&width=750&height=500)

![Aristeo Leite Filho, professor-adjunto faculdade de Educação da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), lista uma série
de desafios para o ensino público no Rio de Janeiro.
Além de democratizar o acesso às creches, ele afirma que é importante investir na formação dos profissionais que atendem a crianças de 0 a 3 anos.
— Há também um desafio importante de formar
professores para atender crianças de 0 a 3 anos. É necessária uma formação
muito específica. E isso depende também do esforço das universidades, que só
recentemente começaram a olhar com mais intensidade para essa área.
Em relação à segunda fase da educação infantil, a pré-escola, Leite Filho
afirma que é necessário mudar a pedagogia.
— As crianças de 4, 5 e 6 anos ainda precisam de uma forma lúdica de ensino.
Nós estamos “encarteirando” [colocando carteiras] essa fase da educação. Esse
foi o modo que a escola sempre usou para educar. Mas nesta fase, o método deve
ser outro.
A professora Daniela Patti, vice-diretora da Faculdade de Educação da
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que a
expansão e melhoria do ensino infantil é um dos grandes desafios do Rio.
— É extremamente necessário consolidar essa etapa da educação básica através de
um sólido projeto pedagógico que conte com professores de nível superior](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/DGS4EU7AWJJLJEYGXFI7EZLRXQ.jpg?auth=cdf34abd0aa1100204414da1957c38d7e3c2b1686525edcb9c6be98e9098715d&width=780&height=525)








![O professor critica o formato da implementação do programa
Minha Casa Minha Vida no Rio.
— O Minha Casa, Minha Vida tem uma série de problemas. No regime militar, fomos
muito críticos ao BNH [Banco Nacional da Habitação, programa de moradia
implementado durante a ditadura]. O Minha Casa, Minha Vida tem mais problemas
que o BNH. A qualidade das moradias não é boa. A padronização, do Rio Grande do
Sul ao Rio Grande do Norte, também não funciona. O Brasil tem dimensão
continental. Em cada região, há diferentes modos de se morar. E o programa não
contempla isso de modo satisfatório.
Leitão afirma também que áreas centrais da cidade precisam ser mais usadas para
a construção de moradia popular.
— O Estatuto das Cidades prevê isso. Há uma série de mecanismos que possibilitam
o uso de terrenos centrais para a construção de moradia. Mas a absoluta maioria
das construções seguem sendo feitas em locais distantes, sem infraestrutura](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/N4LKVNJIARMY3NHLCKMJ2ER35Q.jpg?auth=6db506af121291c81a3bb001170e2e2cc8efa1558e5bf0788c801e5d5ee499ea&width=750&height=573)



![Uma das principais questões das grandes cidades são os
deslocamentos e com o Rio de Janeiro não é diferente. Para o doutor em urbanismo
e pesquisador do observatório das metrópoles da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Juciano Rodrigues, o desafio
é fazer com que as pessoas cheguem mais rapidamente aos seus destinos, de uma
maneira mais confortável e com mais segurança. Ele diz que as questões têm que ser resolvidas de forma
interligada: não basta aumentar a oferta se não tiver conforto.
— Mesmo que
você aumente a oferta, se não tiver a qualidade, não tem condições de tirar o
passageiro do automóvel.
Rodrigues diz que investir nas três áreas é o caminho para
solucionar os problemas com os trens no Rio de Janeiro.
— O serviço é muito ruim
pela [falta] de qualidade, segurança e conforto.
O metrô também não se
mostra uma boa opção.
— Tem um alcance
geográfico muito limitado. Muito deficiente, desconforto, atrasos, filas e
passa por muita pane](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/H2CNV4FHXFIQTB2MOSGMFSDYEU.jpg?auth=52d2a23ce79f571ede1a632ef779c4ed7191193adcad78c0f73ee4a79c516b5d&width=780&height=525)
![Rodrigues aponta que, nas grandes
cidades, a promoção da circulação de automóveis particulares é um modelo
esgotado.
— A nossa experiência
urbana tem mostrado que [o transporte individual] não é a solução para o deslocamento. Investir em transporte viário com pontes é
enxugar gelo.
A solução, para ele, é priorizar o
transporte público](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/EGJ6QBQTVVOQ3LSAVJW2V6HX54.jpg?auth=896fb00fd469f104ee15d92869cf88c5a9d2eb92d0a9b12e16270545bda0bae7&width=750&height=502)
![Outra opção é diversificar
o transporte fluvial no Rio de Janeiro. Atualmente, existem barcas que fazem a
ligação Rio-Niterói, Rio-Ilha do Governador e Rio-Ilha de Paquetá. Ainda de
acordo com Rodrigues, é importante criar opções paralelas ao litoral que
liguem a zona sul a Botafogo e ao centro, por exemplo.
— É inadmissível em
cidades como o Rio de Janeiro não se investir em transporte público pelas vias
fluviais. Nós temos um grande gargalo que é o município de São Gonçalo, onde boa
parte [das pessoas] trabalham fora do município: ou em Niterói ou no Rio de
Janeiro. Só que o morador passa por um
funil que é a ponte Rio-Niterói, sendo que há um potencial enorme para se fazer
uma ligação hidroviária que é a baía de Guanabara](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/FCMCNMWT3NK2JESXQSXRJJRKOU.jpg?auth=70142940b02eccb21cf3373b4da37db2d116b3b96f0a6b271fdc71f80f0377db&width=750&height=500)

![Outro
desafio, ainda relativo à redução dos homicídios, é a erradicação do tráfico de
drogas.
— O tráfico de drogas está relacionado à parte dos homicídios que ocorrem na
cidade. E a política de guerra às drogas fracassou. É preciso que outras formas,
mais criativas, de erradicar o tráfico sejam desenvolvidas.
Sento-Sé afirma ainda que é preciso se desenvolver uma abordagem mais
contundente em relação às milícias.
— As últimas políticas de segurança desenvolvidas no Rio, como as UPPs [Unidade
de Polícia Pacificadoras] passam ao largo da questão das milícias](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/HQON2HU7OVNF3NDRRBA4VDMJ24.jpg?auth=6990cad78dcbaf440c5954f006edff5743a13b086750af5cb39fe80495058348&width=750&height=503)
