Rio de Janeiro Moradora da Baixada Fluminense iniciou em casa projeto que investe em cultura para jovens da Chatuba

Moradora da Baixada Fluminense iniciou em casa projeto que investe em cultura para jovens da Chatuba

O Instituto Mundo Novo, idealizado por Bianca Simãozinho, oferece aulas de teatro e dança e desenvolve talentos na comunidade

Bianca iniciou na sala de casa o projeto que oferece arte e educação a crianças da Chatuba

Bianca iniciou na sala de casa o projeto que oferece arte e educação a crianças da Chatuba

Arquivo pessoal

Moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense, Bianca Simãozinho, de 36 anos, começou na sala de casa o projeto que, hoje, oferece arte e educação a cerca de 200 crianças e adolescentes da comunidade da Chatuba. A iniciativa, que apostou na cultura como forma de transformação social, há quase 20 anos, tem ajudado também a revelar talentos e a realizar sonhos de jovens.   

A fundadora e gestora do Instituto Mundo Novo contou ao R7 que a ideia surgiu quando ela tinha apenas 16 anos, por conta da vontade de oferecer às crianças da região o que ela ansiava na infância.

"Quando eu era criança, não tinha nada além da escola pública. O meu sonho era fazer dança, teatro, escrever meus livros infantis. Eu amava leitura, meu primeiro projeto foi de leitura. Tudo o que minha mãe pôde me proporcionar foi com muita luta e sacrifício. Ela fazia faxina para me proporcionar uma aula de teatro e um workshop de desfile. Sempre perguntava: 'Por que não tem cursos gratuitos, lona cultural, teatro, cinema na Baixada Fluminense?'. A Baixada é atrasada em tudo, mas naquela época era muito mais, não tinha asfalto, não tinha nada, projeto, ONG, não tinha nada social para desenvolver potenciais. Foi por isso que eu quis trazer para a Chatuba esse mundo novo", ressaltou.

Instituto funciona em prédio na Chatuba

Instituto funciona em prédio na Chatuba

Nascida e criada na comunidade, Bianca Simãozinho formou-se em serviço social, com especialização em projetos do terceiro setor e mestrado em gestão da economia criativa. Ao mesmo tempo, buscou investimentos para ampliar o programa, por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas, financiamento de projetos e leis de incentivo.

Atualmente, o instituto funciona em um prédio de três andares e atua prioritariamente em duas frentes: formação escolar na primeira infância e aulas de teatro e dança para maiores de 6 anos.

Bianca disse que o projeto faz audições para teste de aptidão e conta com bailarinos e professores para ensinar as atividades às crianças, com uma estrutura que inclui duas salas profissionais de dança e um teatro. 

Além das recentes conquistas individuais, como a de alunos aprovados em seletivas da Escola Bolshoi e em vagas na tradicional escola de balé do Theatro Municipal do Rio, há também os resultados obtidos por meio da companhia Mundo Novo. 

"Agora, a gente levou 21 crianças para dançar em Joinville [em um dos mais importantes festivais de dança do país], foram cinco coreografias aprovadas. Costumo dizer que é o resultado do trabalho de toda a equipe. Toda a dedicação dos professores, do rapaz que abre o portão, da cozinha que prepara os lanches. A gente proporciona essa nova visão de mundo para eles. E eles também podem ter lembranças para a vida inteira. Fora a questão do pertencimento, de que eles podem ser o que quiserem, que podem sonhar. A gente tem muito orgulho de cada criança", disse Bianca Simãozinho.

Aluna do projeto e monitora da companhia, Luiza Batista, de 15 anos, revelou que tinha o sonho de dançar, mas, ao entrar no instituto, descobriu a paixão pelo teatro e tem se apresentado com espetáculos em escolas públicas e privadas.

"Tenho muitos sonhos, e acho que o principal é conseguir me formar em artes cênicas. Porém, a minha maior motivação é conseguir mudar mais pessoas com a minha arte, pessoas que se identifiquem comigo, entendam como me sinto e se sintam representadas no que eu faço. Não quero fazer arte só para ter público, quero fazer arte para transformar pessoas. Se eu puder viver de arte, vou ser a pessoa mais feliz do mundo", afirmou Luiza, acrescentando que o projeto também é uma motivação para manter boas notas no colégio: "Sou cobrada tanto na parte artística quanto na escolar". 

Lorraine é coordenadora pegadógica

Lorraine é coordenadora pegadógica

Reprodução / Instituto Mundo Novo

Outra curiosidade é que a atual coordenadora pedagógica do projeto, Lorraine Gonzaga, de 28 anos, também foi aluna do instituto, tendo participado da primeira companhia formada pela entidade. Após ter sido escolhida como ajudante de turmas mais novas, ela descobriu sua vocação para ensinar.

"Foi uma descoberta saber que existem outras atividades que podem ajudar no nosso desenvolvimento, que podem ajudar no nosso crescimento profissional e pessoal. Quando entrei no instituto, a minha rotina mudou completamente. Eu ia para a escola de manhã, passava a tarde toda no instituto me capacitando, aprendendo, tendo trocas com outros adolescentes da minha idade. E, ainda de noite, fui convidada a participar da primeira companhia do instituto. Então, esse desconhecido se tornou uma das coisas mais importantes na minha vida", disse Lorraine, que fez o curso normal e se formou em pedagogia, em 2017. Ela ressaltou que foi a primeira integrante de sua família a ter o ensino superior. 

Últimas