Moradora do Complexo do Alemão, zona norte do Rio, B foi impedida de entrar em casa após um dia de trabalho no dia 16 de janeiro. Ela conta que policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Nova Brasília invadiram sua laje e estabeleceram lá uma base militar para os enfrentamentos realizados contra traficantes na região. Desde então, B, que cuida de uma filha e de seus pais, que são idosos e cadeirantes, diz sofrer com os abusos dos oficiais. Durante quinze dias ela teve de ficar na casa de uma irmã devido à interdição dos PMs e quando retornou encontrou vários prejuízos. Ela relata que teve uma geladeira estragada e o portão arrombado quatro vezes. Segundo o seu depoimento, ela teria tentado conversar com os policiais e estabelecer um acordo.
— Eles disseram que só iriam sair quando a base deles estiverem prontas que eles não iriam arriscar a vida deles no chão — afirmou B.
B conta que as lajes da vizinhança estão tomadas pelos agentes. Não distante de sua casa, um casal de idosos teria perdido a casa para os policiais que se instalaram permanentemente no local. Ela disse também que, apesar de eles não estarem instalados o dia todo em sua casa, eles continuam a entrar sem permissão e sem horário prévio.
— Eles fizeram da minha laje a casa deles tomam café, fazem de tudo lá. Não querem nem saber se estão botando nossa vida em risco — revelou a moradora.
As ameaças têm sido constantes e várias pessoas têm perdido as suas moradias, uma mulher que aparece em um vídeo enviado pelo Defezap, um canal de denúncias de abusos de autoridade, discute com alguns policiais e pergunta: “se eu não posso entrar na minha casa, para onde eu vou? Vou para debaixo da ponte?”. Em outro vídeo do canal, é possível identificar várias casas alvejadas pela guerra entre policiais e traficantes. O Defezap também informou em sua página no facebook que outras comunidades do Rio também têm sofrido com o abuso de poder policial. Eles teriam recebido denúncias de moradores do Pavão-pavãozinho, Chapadão e Manguinhos.
A Comissão de Direitos Humanos da Alerj, representantes da Defensoria Pública e da OAB estiveram no Complexo do Alemão e constataram os excessos cometidos pela Polícia Militar. A Defensoria organizou um documento que foi entregue ao Comando Geral da Polícia Militar e à Seseg (Secretaria de Estado de Segurança) para denunciar o que vem ocorrendo na comunidade. Foi recomendado que quatro casas fossem desocupadas em caráter de urgência, assim como, foi orientado que o Governo do Estado indenizasse os moradores por danos morais e materiais.
A Seseg informou que recebeu a carta da Defensoria e que a encaminhou para a Polícia Militar, para que ela analisasse as ações necessárias. A assessoria da Polícia Militar, por sua vez, nos colocou em contato com a UPP, que negou ter ocupado as residências das pessoas e não se pronunciou acerca do recebimento do documento enviado pela Defensoria. A UPP alegou também que já teria se reunido com as autoridades competentes para investigar os casos.
Moradores protestam
No último sábado (11), os moradores se reuniram na Praça do Samba, local onde estão ocorrendo os abusos policiais, e seguiram pela estrada do Itararé protestando contra a ação violenta dos policiais na comunidade. No carro de som, um rapaz convocava as pessoas que vivem próximas ao Alemão para denunciarem o que vem ocorrendo na região. O Defezap, em parceria com a ONG Meu Rio, também lançou uma plataforma virtual chamada “Respeita o morador” que tem por objetivo enviar e-mails de cidadãos para o comando geral da PM e pressioná-los a encerrar com os abusos na região.
O Defezap também disponibiliza o número (21) 99670-1400 para cidadãos passarem, via Whatsapp, informações sobre abusos cometidos por autoridades públicas. O canal garante o anonimato dos denunciantes.
Vídeo do Defezap mostra momento em que moradora é impedida de entrar em casa
Um vídeo divulgado pelo Defezap mostra uma moradora do Alemão sendo impedida de entrar em casa após chegar do trabalho. No vídeo, ela fala que policiais da UPP de Nova Brasília quebraram o cadeado e a porta de sua casa. As filmagens mostram que um homem identificado como soldado Silva, estava na porta da residência de uma mulher, que foi tomada para ser feita de base pelos policiais. Os agentes da PM não têm autorização para a realização dessas ocupações, segundo o major da UPP admitiu ao Defezap.
— Você está aqui para proteger a gente, não devem expulsar as pessoas de suas casas. Até parece que vocês não tem família, não tem filhos. — diz chorando a moradora.
Assista ao vídeo:
*Colaborou Samuel Costa, do R7 Rio