MP: suspeito de crime 'tinha aversão às pautas' de Marielle
MP afirma o PM Ronnie Lessa rejeitava as pautas defendidas pela vereadora; possibilidade de ter um mandante não foi descartada
Rio de Janeiro|Lucas França*, do R7, com Agência Estado
A promotora Simone Síbilio, uma das quatro integrantes do MP-RJ, que participou de coletiva sobre a prisão dos suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, disse que a vereadora foi assassinada por “motivo torpe”, com desprezo. Disse ainda que Ronnie Lessa, PM reformado preso e suspeito pela morte da vereadora nesta manhã, seria contra as pautas que a parlamentar defendia.
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Segundo as promotoras, a operação para prender Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Queiroz foi adiantada para esta terça-feira (12) por um possível risco de fuga. Ao ser abordado, Ronnie saía de casa às 4h30 com três telefones em modo avião, para dificultar o rastreamento. As prisões estavam programadas para ocorrer na quarta-feira (13).
De acordo com Simone Síbilio, coordenadora do Gaeco, mesmo com a existência de uma suposta "repulsa" por parte de Lessa à Marielle, o que teria motivado o crime, as investigações sobre um possível mando de execução continuam. Ela afirmou que o processo permanece em sigilo e que “hoje não é um dia de sorrir, mas de refletir” sobre o desenrolar do crime e a atuação em conjunto de MP, Polícia Federal e Civil, além do Poder Judiciário.
A promotora Letícia Emily afirmou que o crime é identificado como de alta complexidade, já que existem evidências de longo planejamento por parte dos executores, inclusive com pesquisas que Lessa teria feita sobre Marielle e pessoas ligadas a ela. Letícia esclareceu que os homicídios foram realizados por “quem tinha conhecimento do sistema de justiça e das leis”.
Segundo a assessora de Direitos Humanos e Minorias do MP Eliane de Lima, as mortes de Anderson e Marielle não atingiram apenas as duas vítimas, mas também todo o estado democrático de direito, porque a vereadora foi morta enquanto cumpria o mandato.
Além de Ronnie Lessa, o ex-policial Élcio Queiroz também foi preso, acusado de dirigir o Cobalt prata que perseguiu o veículo em que estavam Marielle, Anderson e uma assessora da vereadora.
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Tecnologia nas investigações
A promotora Elisa Fraga, representante do CSI (Coordenadoria de Segurança e Inteligência) do MP, disse que diversas técnicas de investigações foram utilizadas eapontam Ronnie Lessa e Elcio Queiroz como participantes do assassinato de Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Ela contou que o CSI trabalhou com três frentes de análise: uma divisão de inteligência com agentes de segurança cedidos ao Gaeco; interceptação de sinais telefônicas e cibernéticos, e evidências digitais.
Também foi usada uma técnica de análise de imagens a partir de luz e somba que, de acordo com Elisa, mostraram compatibilidade entre o braço de Ronnie Lessa e do possível atirador.
Relações de Lessa
As promotoras, ao comentarem sobre as investigações, afirmaram que o nome de Ronnie Lessa não surgiu no MP após o homicídio. De acordo com elas, ele já era conhecido em algumas investigações envolvendo a contravenção e atuação paramilitar. Uma averiguação sobre o contato dele com a milícia no Rio de Janeiro será feita.
A polícia passou a investigar a quem ele era vinculado e qual era o círculo de confiança de Lessa. A partir dessas informações, o ex-policial Élcio Queiroz aparece.
Simone Síbilo afirmou que o fato de Ronnie Lessa ser vizinho do presidente Jair Bolsonaro não é relevante e não há nenhum fato nos autos que mostrem relação do PM com o presidente.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Celso Fonseca