Perícia comprova que cena da morte do menino João Pedro foi alterada
Adolescente de 14 anos durante uma operação no Complexo do Salgueiro. Record TV teve acesso exclusivo a depoimentos e laudos do inquérito
Rio de Janeiro|Renata Loures, Adriana Cruz e Thiago Samora, da Record TV
O núcleo de jornalismo investigativo da Record TV teve acesso aos depoimentos e laudos do inquérito que investiga a morte do adolescente João Pedro, na Rregião Metropolitana do Rio. Os depoimentos dos policiais que estavam no dia da operação apresentam contradições com as versões apresentadas pelas vítimas.
João Pedro Mattos morreu aos 14 anos durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro. Ele estava em casa com os primos quando a casa foi invadida por policiais civis.
“Eu acho que nada vai tirar essa dor do meu peito, eu vou ter que aprender a conviver com isso até o resto da minha vida”, diz Neilton Pinto, pai de João Pedro.
A investigação da divisão de homicídios já dura mais de um mês. No laudo pericial do local, os técnicos identificaram que a cena do crime não foi preservada. O que poderia prejudicar o resultado ou análise dos exames, pois possibilita a perda ou manipulação de vestígios do crime.
Para o perito criminal Francisco La Regina, um erro que pode prejudicar a investigação.
Leia também
“As coisas passam a não ter o valor, passam a não ter um peso técnico, porque houve uma descaracterização de tudo ali”, diz.
Os cinco jovens que estavam na casa com João Pedro foram ouvidos pela polícia e pela força-tarefa do Ministério Público Federal, Estadual e Defensoria Pública.
No depoimento, uma adolescente contou que viu uma pessoa que pulou atrás da casa com o mesmo uniforme dos policiais. Disse ainda que foi o delegado quem colocou no termo de declaração que se tratava de um criminoso, mas que ela jamais utilizou essa expressão.
A polícia já sabe que três policiais entraram no imóvel. Dois confessaram que portavam um fuzil com munição ''556'', mesmo calibre que atingiu o menino, segundo o exame de balística. Mas o laudo não foi conclusivo para saber se o disparo partiu de alguma dessas armas.
Somente a reconstituição vai poder determinar de onde partiu o tiro que matou João Pedro. Isso não tem data prevista para acontecer. Um dos motivos é a decisão do Supremo Tribunal Federal que impede operações policiais em comunidades durante a pandemia.
“Através dessa reprodução nós vamos dar uma dinâmica a esse fato. Nós vamos ter o ângulo de tiro, o posicionamento deles, quem disparou, já que não podemos apurar de que arma saiu”, diz o perito La Regina.
As armas usadas na ação passaram por perícia. Dois policiais fizeram a recontagem dos cartuchos. Um deles, só identificou ter usado dois fuzis no segundo depoimento, quando ele confessou ter feito 16 disparos. Ele afirma ainda que só notou a diferença quando retornou a base.
Na véspera do aniversário do filho, a mãe de João Pedro só quer um presente: justiça. “A gente quer a todo tempo que o caso seja solucionado, mas nós sabemos que temos que aguardar, né?”, afirma Rafaela Matos. “Não que vai trazer um alívio total, né? Mas é um certo alívio quando a gente sabe que a justiça está sendo feita.”