Perito é preso após receber R$ 4,9 mi em propina, aponta Lava Jato
Charles Fonseca William recebeu quantias milionárias entre 2012 e 2015. Suspeito foi delatado pelo doleiro Álvaro Novis, ligado à Fetranspor
Rio de Janeiro|Lucas Ferreira, do R7*
A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu na manhã desta quinta-feira (5) o perito judicial Charles Fonseca William, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo investigações, o suspeito recebeu R$ 4,9 milhões em propina da Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) entre 2012 e 2015.
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Charles recebia a propina a partir da produção de laudos favoráveis à Fetranspor e à Rio Ônibus em ações em que era perito judicial ou que atuava como assistente técnico em trabalhos pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).
O perito judicial foi citado na delação do doleiro Álvaro Novis, operador financeiro da Fetranspor. Segundo o MPF, a entrega dos valores eram feitas no escritório de perito, em Niterói, e registradas em planilhas com o codinome “Charles”.
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Segundo as investigações, Charles realizou perícias contábeis para definir o prejuízo das empresas de ônibus, como nas mais de 100 ações ajuizadas pelas companhias após uma redução no valor das passagens ser considerada ilegal pelo TJ-RJ no final da década de 1990.
Após a delação, a Receita Federal identificou operações financeiras milionárias em contas de Charles, sendo algumas destas movimentações feitas por empresas com sócios “laranjas” ou de outros países, como o Panamá.
Ainda durante as investigações, o MPF encontrou ligações telefônicas entre o perito judicial e o ex-dirigente da Fetranspor José Carlos Lavouras, que vive em Portugal e está foragido.
Além do mandado de prisão preventiva, a operação Expertus, desdobramento da operação Ponto Final, cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Charles na ação que contou com esforços do MPF (Ministério Público Federal), Polícia Federal e Receita Federal.
Em nota, o MPF destacou que os procuradores classificaram a vida de Charles como repleta de “luxo e ostentação” a partir dos valores adquiridos com a propina da Fetranspor.
O R7 procurou a defesa de Charles, de José Carlos e do TJ-RJ para comentar o caso, mas não obteve resposta até a publicação da matéria. O site reforça que mantém o espaço aberto para manifestação dos citados.
Nota Fetranspor:
"A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) vem a público esclarecer que:
1) Lélis Teixeira foi presidente-executivo da Fetranspor entre 2010 e 2017. O executivo também presidiu o Rio Ônibus entre 1999 e 2017;
2) A atual administração da Federação - que tomou posse em setembro de 2017 - desconhece a ocorrência de supostos fatos relacionados à gestão anterior, não tendo tomado conhecimento de quaisquer pagamentos realizados com o intuito de obtenção de benefícios para o setor;
3) A Fetranspor tem desenvolvido uma profunda reestruturação interna, com o estabelecimento de uma rígida política de conformidade e integridade, além do fortalecimento de sua administração com uma moderna e ativa governança corporativa;
4) Ao assumir o comando da instituição, o atual presidente executivo – um profissional de mercado sem qualquer ligação com o setor de transporte por ônibus - promoveu uma ampla revisão sobre todos os contratos vigentes, de modo a rescindir aqueles que porventura apresentassem possibilidade de questionamentos internos ou externos;
5) A Federação reafirma seu compromisso com o atual modelo de gestão, que prioriza a transparência de seus atos, a valorização dos controles internos e o respeito às normas que regulam o setor;
6) A Fetranspor está comprometida em colaborar com as investigações em andamento e cumprir as determinações judiciais, permanecendo à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos que se façam necessários."
*Estagiário do R7, sob supervisao de PH Rosa