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Projeto com livros de autores negros desperta negritude em leitores

Rede colaborativa de empréstimo de livros criada por duas irmãs cariocas investe em obras literárias para abater preconceito racial 

Rio de Janeiro|Karolaine Silva, do R7*

Victoria e Michelle são as idealizadoras da rede de livros
Victoria e Michelle são as idealizadoras da rede de livros

Conceição Evaristo e Abdias do Nascimento. Por caminhos e épocas diferentes, estes autores criaram narrativas e representações sobre o negro na sociedade. Com suas histórias, os dois integram o acervo de uma rede colaborativa de empréstimos de livros escritos por autores negros.

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O projeto, ainda sem nome, é das irmãs Victoria e Michelle Guimarães. A partir de obras lidas e paradas na estante, elas visam ampliar o acesso a títulos como “Olhos d’água” e “O Genocídio do Negro Brasileiro”. Segundo as jovens, o contato com a literatura de seus pares desperta o sentimento de orgulho racial.

“A gente resolveu facilitar as coisas e principalmente para leitores negros, porque através dessas obras passamos a amar a negritude e entender o que é esse racismo estrutural e institucional no Brasil. De alguma forma, também surge uma força interior como um salve a nossa saúde mental negra e aos nossos irmãos aquilombados.”


Quem compartilha do mesmo sentimento das irmãs é o escritor de obras negras e cariocas Nei Lopes. Ele, que foi um dos convidados da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro deste ano, afirma que toda iniciativa que direciona o foco para a literatura negra tem grande relevância.

“Todo contato do público com essas novas experiências que transferimos para literatura é sempre muito útil. Nós, afrodescendentes, sofremos historicamente com invisibilidade. Tem muita gente fazendo coisas importantes há muito tempo.”


Cerca de 50 anos dividem a juventude de Nei Lopes da juventude de Victória e Michelle. O autor conta que por causa desse espaço de tempo e sobretudo pelo avanço tecnológico, as meninas estão em vantagem. 

“Às vezes o silêncio não significa omissão. Na minha época, a questão étnico-racial era muito distante, na minha juventude isso era um assunto encerrado. Havia políticas públicas que escondiam a nós. As minhas primeiras referências só vieram na faculdade. Os exemplos, os paradigmas eram muito negativos – eram retratos de uma narrativa que não queria se ver. Se hoje a juventude já tem acesso a histórias de mesma origem isso é um incentivo muito grande. Eu trabalho no sentido de ampliar”, disse Lopes.


Além de ser uma forma de incentivo a literatura, para Victória Guimarães o contato com essas obras ajuda a abater discursos preconceituosos. 

“O racismo é tão perverso que acaba colando a vítima contra ela mesma. Antes de ter acesso a esses livros era muito fácil o pensamente que estou com mania de perseguição ou “mimimi”. Mentira! Quando temos acesso a essas obras a gente vê que não estamos sozinhos, de que não é mania de perseguição, de que, é sim, algo muito presente na sociedade brasileira”, conta Victória.

*Estagiária do R7, sob supervisão de PH Rosa

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