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Quem é Sandra Sapatão, a traficante mais caçada do país

Chefe de bocas do Jacarezinho, no Rio, ficha de Sandra Gabriel, presa em Saquarema, inclui homicídio e assalto à mão armada

Rio de Janeiro|Eduardo Marini, do R7

Sandra Helena é levada das areias de Saquarema para a prisão
Sandra Helena é levada das areias de Saquarema para a prisão

O banho de sol durou menos do que o planejado por Sandra Helena Ferreira Gabriel e seus acompanhantes na tarde de ondas surpreendentemente calmas da sexta-feira (21), na belíssima praia do Boqueirão, em Saquarema, Região dos Lagos do Estado do Rio, um dos picos prediletos dos surfistas brasileiros pela bravura frequente de suas ondas. A alegre sessão de bronzeamento foi interrompida pela voz de prisão dada pelo inspetor Marcelo Fagundes, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) da Polícia Civil fluminense. De pistola em punho, mas sem disparar um tiro, Fagundes anunciou a queda da casa a Sandra Helena, 55 anos, a Sandra Sapatão, ou Sandra do Jacarezinho, na liberdade despudorada dos cariocas para apelidar pessoas em débito com a Justiça, acusada de chefiar o tráfico na favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio. Da casa e também do guarda-sol colorido que aliviava a barra da turma, chutado em direção à agua do mar enquanto a ação era concluída.

Vídeo mostra momento em que Sandra Helena é presa:

A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) prendeu, por meio da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), na tarde...

Posted by Delegacia de Repressão a Entorpecentes - DRE on Friday, May 21, 2021

As informações definitivas para a captura de Sandra Helena vieram da apreensão de celulares durante a Operação Exceptis, da Polícia Civil fluminense, no Jacarezinho, no último dia 6 de maio. A ação terminou com a morte de 27 moradores e do inspetor do Dcod André Frias, 48 anos. Fagundes, que enquadrou Sandra Helena nas areias de Saquarema, tinha sido ferido na Exceptis com um tiro no braço direito.

A operação de 6 de maio gerou críticas por suposto abuso de violência por parte da polícia. O ministro Edson Fachin, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) da ação que analisa os índices de letalidade das polícias do Estado do Rio, solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) uma investigação para apurar se a Exceptis desrespeitou ordem do Supremo de restringir ações em favelas e comunidades durante a pandemia. “A prisão de Sandra Helena é fruto do tripé ação, inteligência e investigação”, defendeu o delegado titular da Dcod, Marcus Amim. “Coletamos informações na comunidade do Jacarezinho no dia 6. Com eles, fizemos investigação e a localizamos na Praia do Boqueirão”, acrescentou.


Mas o que justifica tamanha mobilização das autoridades na busca de Sandra Helena? Não parece ser pouca coisa. Na visão dos policiais, inimigos e até parceiros de comunidade, Sandra Sapatão é o que a turma sem amarras no vocabulário chamaria de pitbull, unha de cavalo, osso duro de roer. De acordo com a Polícia Civil, ela pertence ao Comando Vermelho (CV), maior facção criminosa do Estado do Rio e do país. E divide atualmente o comando do tráfico no Jacarezinho com Felipe Ferreira Manoel, o Fred, e Adriano Souza de Freitas, o Chico Bento, os dois foragidos. Pesam contra ela também acusações de assalto à mão armada.

Cartaz com recompensa por informações
Cartaz com recompensa por informações

Sandra Helena tinha três mandados de prisão e era procurada havia praticamente dois anos. No seu caso, o busca-pega-e-escapa é antigo: em 2007, ela estava no top ten dos mais procurados pela polícia no Estado do Rio. Três anos depois, em 2010, foi capturada no Complexo do Alemão, Zona Norte da capital fluminense, junto com Marcus Vinicius da Silva, o Lambari, e Emerson Siqueira Rosa, o Neguinho. Na ocasião, os três ofereceram R$ 1 milhão aos policiais para não serem levados, de acordo com um documento registrado na 40ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.


Levada para o complexo de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, tornou-se a única mulher detida em um presídio de segurança máxima no período. Ficava separada de todos os outros presos. “Sandra Helena está em um bloco especial. Em outras celas dessa unidade estão homens que receberam o benefício da delação premiada. Ela não tem contato com esses detidos. Toma banho de sol separada dos demais”, explicou na ocasião o diretor geral do Departamento Penitenciário Federal (Depen), Sandro Alevar.

Em 2014, quatro anos depois dessa prisão, Sandra Sapatão deixou a prisão em liberdade provisória, não voltou no prazo marcado e passou a ser considerada foragida. Detida no mesmo ano por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho, tentou novamente amolecer os agentes com dinheiro para evitar sua prisão. Dessa vez, com uma oferta bem mais modesta: R$ 20 mil. Não teve sucesso uma vez mais.


Em 2016, conseguiu a liberdade na Justiça e reassumiu a administração das bocas de fumo e cocaína no Jacarezinho. No ano seguinte, foi denunciada por policiais pela suposta participação em uma troca de tiros com saldo de um PM morto, Michel de Lima Galvão, e outro ferido no rosto. Foi essa acusação que, em julho de 2019, rendeu a Sandra Helena e a outros dois envolvidos no tiroteio a decretação, pela 2ª Vara Criminal do Rio, de prisão preventiva pelos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico e homicídio qualificado – cumprida, no caso dela, na ação da sexta-feira (21) em Saquarema.

Nesta quinta-feira (25), foi revelado que Antônio Carlos Ferreira Gabriel, o Rumba, irmão de Sandra Sapatão, trabalha como assessor parlamentar da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) com salário mensal de R$ 1.806. Um dos líderes comunitários do Jacarezinho, Rumba teve passagens pela polícia por porte ilegal de arma, tráfico de drogas e associação para o tráfico no início dos anos 2000. “Rumba Gabriel faz parte do nosso mandato pela valiosa e aguerrida experiência que ele tem em defesa da dignidade da população das favelas. É odioso e sombrio que alguém seja alvo de ataques por conta do seu parentesco e por atos com os quais não possui nenhuma relação. Eu o defendo com convicção”, protestou a deputada em nota.

A operação com saldo de 27 moradores mortos no Jacarezinho mostra uma tendência cada vez mais dominante na rotina das facções criminosas: as ordens para combates sangrentos, com riscos e vítimas para toda a comunidade, dadas bem de longe, pelos chefões do tráfico, na segurança e no conforto de casas e apartamentos de condomínios e praias distantes. “Enquanto ela tomava água de coco em Saquarema, jovens traficantes da comunidade enfrentavam a polícia com o sacrifício da própria vida. É assim que a cúpula do tráfico age”, constatou o delegado Amim no dia da prisão. Ao menos para Sandra Sapatão, a visão do sol terá, por um período, contornos de cenário menos paradisíacos do que os da encantadora Praia do Boqueirão.

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