Rio teve 435 rotas de ônibus alteradas devido à violência desde o início de 2025
O número é 127% maior do que o registrado em todo o ano passado, segundo o RioÔnibus
Rio de Janeiro|Raphael Lacerda*, do R7

A cidade do Rio de Janeiro teve 435 linhas de ônibus com o itinerário alterado, entre janeiro e o início de setembro de 2025, devido à violência. O número é 127% maior do que os 191 desvios registrados ao longo do ano passado. Os dados são do RioÔnibus, o sindicato das empresas do município.
Em um dos casos mais recentes, seis linhas sofreram mudanças no trajeto na região de Senador Camará, na zona oeste, durante uma operação policial para prender um criminoso envolvido no assassinato da jovem Sther Barroso. Além disso, seis coletivos foram atravessados em vias da localidade em represália à ação, no último dia 4.
De acordo com o porta-voz do sindicato, Paulo Valente, os desvios são causados tanto por tiroteios quanto pelo uso de coletivos como barricadas do crime organizado. As localidades mais afetadas são Costa Barros, Penha e Pedreira, na zona norte, e Cesarão e Vila Kennedy, na zona oeste.
“Antes, a linha era interditada, porque tínhamos que seguir um itinerário fixo. A gente, hoje, está agindo preventivamente ao desviar essas linhas. Como já é uma prática de certa forma comum [ataques de criminosos a ônibus], há alternativas pré-estabelecidas pelas empresas. Com isso, diminui o impacto na mobilidade e no dia a dia da população”, explicou Paulo Valente.
Seis linhas lideram a quantidade de desvios em 2025. Cinco delas cruzam bairros da zona norte, e a maioria passa nas proximidades do Complexo da Pedreira. Veja a lista:
- 778 (Pavuna — Cascadura): 14 desvios
- 920 (Pavuna — Bonsucesso): 12 desvios
- SVB665 (Pavuna — Saens Peña): dez desvios
- 335 (Cordovil — Tiradentes): seis desvios
- 790 (Campo Grande — Cascadura): seis desvios
- 936 (Campo Grande — Fundão): seis desvios
Cresce o número de ônibus usados como barricadas

O número de ônibus usados como barricadas também subiu. Entre janeiro e setembro deste ano foram 108 coletivos utilizados por criminosos para bloquear vias da cidade. O aumento é de quase 23%, se comparado ao mesmo período do ano passado, quando houve 88 ocorrências desse tipo.
O porta-voz do RioÔnibus detalhou que, normalmente, os criminosos estão a pé ou em motocicletas quando abordam os veículos.
“Muitas vezes, eles [criminosos] descem de algumas ruas que já têm barricadas. Rendem o motorista, mandam os passageiros descerem, atravessam o ônibus e levam as chaves”, explicou.
Cada coletivo usado como barricada causa um prejuízo de cerca de R$ 4 mil aos cofres da empresa operadora — cálculo que inclui o furto da chave e o tempo do ônibus fora de serviço.
Para tentar reduzir o crime, desde o mês passado, a Polícia Militar passou a notificar o RioÔnibus e a Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro) sobre eventuais operações, como explicou o porta-voz da corporação, Maicon Pereira.
“Quando se inicia a operação, ou seja, quando a tropa chega ao local, já há informação para esses vários órgãos. A Secretaria de Transportes já era avisada. Agora, a gente coloca, também, os sindicatos dos ônibus nesta lista de avisos para terem condições de colaborar de alguma forma e de remanejar os trajetos dos ônibus”, detalhou o major e porta-voz.
No Rio, recentes casos de ataques a ônibus tiveram ações orquestradas tanto pela milícia quanto pelo tráfico. Segundo o porta-voz da corporação, uma das dificuldades enfrentadas pela PM no combate a esse tipo de prática é a ausência de punição.
“É importante que a gente tenha uma legislação forte e com rigor, porque o dano causado por uma ação dessa é muito grande. Além do pânico e medo que leva às pessoas, ela interfere na circulação de uma cidade. É um dano muito grande para não ter alguma pena aplicada à pessoa quando não comprovada a sua participação por conta do tráfico de drogas”, avaliou.
*Sob supervisão de Bruna Oliveira
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