RJ: Empresário pagou propina a membros do TCM, diz delator
Ex-presidente da Lamsa, concessionária da Linha Amarela, é suspeito de participar de esquema de corrupção com a prefeitura do Rio.
Rio de Janeiro|Sylvestre Serrano, Lumi Zúnica, Tony Chastinet e Thiago Samora, da Record TV
Para manter o contrato de concessão do pedágio da Linha Amarela no Rio, o ex-presidente da empresa Lamsa teria pago propina a políticos e até conselheiros do Tribunal de Contas do Município (TCM). A denúncia foi feita por um ex-funcionário da Prefeitura que delatou o esquema e foi ouvido pela Record TV.
Quando Eduardo Paes comandava a Prefeitura do Rio de Janeiro, um lugar no prédio foi reservado para reuniões importantes. A sala tinha o que há de mais moderno em tecnologia: cinco TVs, tablets, sistema de som e projetores. Os detalhes desse espaço fazem parte da delação premiada de um ex-funcionário da Secretaria de Obras do município que o Jornal da Record teve acesso.
Segundo o delator, toda a infraestrutura foi paga pelo ex-presidente da Invepar, Ronaldo Vancellote. A empresa é a controladora da Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela, a via expressa que liga a Zona Norte à Barra da Tijuca.
Em depoimento, o ex-servidor afirma que Vancellote tinha forte influência na gestão do ex-prefeito Eduardo Paes. O bom relacionamento entre os dois facilitou a permanência na concessão da via expressa e, principalmente, na realização de obras que, segundo od elator, sempre foram superfaturadas.
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"Às vezes na hora de compor o preço do projeto básico, já pode ter um preço melhor. Ítens com preços melhores que podem gerar algum retorno para todo mundo", disse o delator. Nessa relação, a expressão 'retorno para todo mundo' quer dizer 'propina'.
"Não me lembro mais o percentual certinho, porque eu não tenho mais a folha. Mas tinha lá, 2% para um, 1% para outro, 3% para outro. Quando digo "outro", são grupos."
O delatou afirmou ainda que Ronaldo Vancellote foi fundamental em 2010, quando e empresa conseguiu aumentar o prazo de concessão por mais 15 anos, alé de uma revisão anual no preço do pedágio, que hoje custa R$ 15 ida e volta. Os interlocutores da Prefeitura nesse esquema foram o ex-secretário da Casa Civil, o deputado federal Pedro Paulo, e o ex-secretário de Obras Alexandre Pinto.
Os projetos escolhidos por ele custaram R$ 251 milhões. Mas nessas negociações, os executivos da Lamsa ainda reclamavam do prejuízo e pediam à Prefeitura na gestão de Eduardo Paes a inclusão de aditivos. O denunciante esclarece: era tudo jogo de cena. No final, a Lamsa ganhava bem mais pelos serviços e repassava a propina a servidores e políticos.
"A primeira coisa que o empreiteiro faz é chamar você de chefe e dizer que está com prejuízo", diz o delator. "O próprio prefeito repetia isso o tempo inteiro, já me chama de chefe e dizem que eu tô no prejuízo. Então, as coisas eram combinadas e não eram cumpridas. Na verdade você coordenava uma grande farsa, porque tudo que era acertado não era cumprido."
O delator contou ainda que o esquema chegou ao Tribunal de Contas do Município. Para que os contratos não fossem questionados e não atrapalhasse os planos da concessionária, Ronaldo Vancellotte, ex-presidente da Lamsa, teria acertado o pagamento de propina a conselheiros: 1% sobre o custo estimado em cada projeto.
Nesse jogo de interesses, os maiores prejudicados são os 120 mil motoristas que passam diariamente pela Linha Amarela.
Outro lado
A concessionária Lamsa disse que desconhece a prática de qualquer ato de corrupção.
Em contato com a reportagem do Jornal da Record, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o deputado Pedro Paulo negaram o envolvimetno nas denúncias ou em qualquer esquema de corrupção.
Eduardo Paes disse ainda que a reportagem tem objetivo eleitoral e só veio à tona agora porque ele é pré-candidato à Prefeitura do Rio.