Logo R7.com
Logo do PlayPlus

RJ tem média de 16 pessoas desaparecidas por dia em 2024; jovens são maioria

Um dos casos que intrigam o país é o do menino Edson Davi, de 7 anos, que sumiu na praia da Barra, em janeiro deste ano

Rio de Janeiro|Julia Fernandes*, do R7

Famílias se reuniram para pedir justiça para pessoas desaparecidas no início do mês RECORD

Após a pandemia de Covid-19, o número de desaparecidos voltou a crescer no Rio de Janeiro. De janeiro a agosto de 2024, foram 4.025 casos registrados em delegacias do estado, de acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública). Em média, 16 pessoas somem por dia.

Dados do Plid/MPRJ (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos/ Ministério Público do Rio de Janeiro) revelam que a maioria dos desaparecidos é do sexo masculino. Cerca de 41% deles são da cor parda. Já a faixa etária mais afetada está entre 12 e 17 anos. Além disso, 59% dos casos ocorrem sem motivo aparente.

A promotora de Justiça Roberta Rosa explicou que o problema do desaparecimento envolve grande complexidade e muitas vezes fatores de vulnerabilidade social, como pessoas em situação de rua ou com problemas de saúde mental que não são tratados de forma adequada.

Para enfrentar o desafio, uma das propostas apresentadas pela promotora é a capacitação de servidores das áreas de assistência social e saúde que trabalham em espaços onde frequentemente essas pessoas são localizadas.


Roberta Rosa também enfatizou a importância de reforçar a política nacional e a integração das instituições que trabalham para solucionar o problema.

Outra iniciativa que pode contribuir é a implementação de um cadastro nacional de pessoas desaparecidas.


“A questão que se coloca sempre do ponto de vista do cadastro é que ele não é um fim em si. Ele não vai resolver todos os problemas. Mas claro que essa base de dados é importante. A gente precisa ter essa facilidade de acesso à informação, dessa perspectiva de prevenção e de uma resposta mais rápida”, disse a promotora.

Edson Davi está desaparecido há 8 meses; família suspeita de sequestro e defende investigação federal

Edson Davi, de 7 anos, sumiu sem deixar rastros na praia da Barra da Tijuca Reprodução/Record Rio

Um dos casos que intrigam o país é o do menino Edson Davi, de 7 anos. Ele sumiu sem deixar rastros no dia 4 de janeiro deste ano, na praia da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, em um dia de pouco movimento. A criança brincava na areia, enquanto o pai trabalhava na barraca da família.


A polícia considerou a hipótese de afogamento como principal linha de investigação para o sumiço de Edson Davi. Inconformada com a conclusão, a família contratou um detetive particular com o intuito de desvendar o que aconteceu com a criança.

Para a mãe de Davi, houve muitas falhas na investigação da Polícia Civil. Marize Araújo citou problemas na interpretação de depoimentos e a falta de testemunhas que tenham visto a criança se afogar. Ela ressaltou que as câmeras da prefeitura não estavam funcionando naquele dia e questionou a existência de pontos cegos na orla.

Marize defende que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal entrem no caso. “Meu advogado está fazendo essa movimentação jurídica para ter autorização para que o caso vá à competência federal”, explica.

Questionada se acredita que o filho tenha sido vítima de tráfico internacional, ela responde: “Tenho certeza que meu filho foi raptado. Só não posso dizer com certeza que é um tráfico internacional. Pelas suspeitas, tudo leva a crer que foi um rapto internacional. Mas só poderemos falar com certeza quando a PF entrar no caso e investigar a fundo.”

Apesar da angústia, Marize tem se empenhado na luta para encontrar o filho e acredita que ele está vivo. “Precisamos saber o que aconteceu com o Davi. Não somente a família, mas a sociedade. A sociedade precisa saber quem raptou o Davi na praia da Barra, em um ponto turístico. A gente merece uma resposta. Inadmissível um rapto em plena Barra da Tijuca, com todas as evidências, e não temos uma resposta, por meu filho ser de uma classe mais vulnerável da sociedade”, desabafou.

O que diz a Polícia Civil

Mãe de Davi enfatizou que a sociedade precisa saber o que aconteceu com o menino Reprodução/Record Rio

Procurada pelo R7, a Polícia Civil confirma que a investigação está em andamento na DDPA (Delegacia de Descoberta de Paradeiros) e é acompanhada pelo Ministério Público. Todos os fatos apurados apontam para a hipótese de afogamento, não havendo qualquer indício de crime.

A investigação afirma ter analisado 13 câmeras de segurança localizadas ao redor da orla, em um perímetro de 2 km, e diz que não há registro de imagens que mostrem o Edson Davi saindo da praia.

Segundo a polícia, diversas linhas de investigação foram consideradas e sete denúncias foram apuradas, inclusive, em outros estados do país — São Paulo, Mato Grosso do Sul e Ceará. As diligências fora do Rio de Janeiro contaram com o apoio da Polícia Federal, que foi informada desde o início da investigação.

“Em todos os casos, ficou comprovado não se tratar do menino”, explicou, por meio de nota.

A polícia ainda declarou que 21 pessoas prestaram depoimento. Testemunhas afirmam que o menino foi visto entrando no mar por três vezes, que ele teria pedido uma prancha emprestada para entrar na água e que um homem que trabalha com o pai dele afirmou que teria pedido para o menino sair da água, tendo em vista as condições do mar.

Os investigadores sustentam ainda que nem todos os corpos de afogados são localizados e consideram um laudo pericial que aponta que a decomposição de corpos de crianças no mar ocorre mais rápido do que a de adultos.

Fundação para a Infância e Adolescência

Cerca de 14% dos casos cadastrados no SOS Criança ainda não foram resolvidos, segundo a Fia-RJ Divulgação/FIA-RJ

Criada há quase 30 anos, a Fia-RJ (Fundação para a Infância e Adolescência) é uma das instituições que atuam para ajudar a localizar crianças e adolescentes, por meio do programa SOS Crianças Desaparecidas – no qual o menino Edson Davi também está cadastrado.

O gerente do programa, Luiz Henrique Oliveira, explica que a fundação não somente atua na divulgação em todo o país de cartazes com fotos e informações de menores de até 18 anos desaparecidos, como também no acolhimento das famílias. Inclusive, com suporte psicossocial e até apoio no registro de ocorrência.

Segundo Oliveira, os resultados são considerados satisfatórios na resolução de casos: 86% dos menores foram encontrados nos últimos 28, 29 anos de existência da fundação. “O tipo de desaparecimento que nos chama muita atenção, que é preciso ter um cuidado maior, são as fugas dos lares. A gente observa que tem outra violência por trás – psicológica ou física, a falta de entendimento, o conflito entre as partes que não é resolvido.”

Em relação aos outros 14% não solucionados, ele ressalta que se tratam de casos enigmáticos e que necessitam de investigação de qualidade. “Os desaparecimentos enigmáticos têm essa interrogação: será que a criança foi para outro país? Será que está no mar? A gente precisa entender todo o contexto e explicar, sim, todas as situações de desaparecimento.”

A instituição tem focado em ações de prevenção. Ele reforçou a necessidade de conscientizar menores de portarem documentos e a importância do uso das pulseiras de identificação em grandes eventos e espaços públicos.

“É importante conscientizar o adolescente que ele não pode ficar vulnerável nesses grandes eventos. A identificação é fundamental. Mas, antes de tudo, criar consciência para adolescentes e crianças que eles têm que estar nesses grandes eventos brincando e pulando, e o guardião vigiando. Ele tem que se identificar como guardião de fato e de direito: não pode beber, precisa conduzir essa criança com segurança e segurando pelas mãos.”

O gerente do programa SOS Crianças Desaparecidas defende ainda que o Brasil adote uma ferramenta de alerta nacional, como Amber Alert, famoso nos Estados Unidos e presente em alguns estados brasileiros, que dispara fotos e informações sobre o desaparecido para todos os celulares próximos de onde ele sumiu.

Luiz Henrique Oliveira ressalta que o ideal mesmo é não ter um menor sequer desaparecido. Além de cartilhas e palestras, a Fia também trabalha em campanhas. Ele adianta que está em desenvolvimento junto ao MP uma ação para divulgar cartazes de crianças e adolescentes em salas de cinema.

Programa Desaparecidos do Disque Denúncia

O Programa Desaparecidos, do Disque Denúncia, tem o papel de assessorar órgãos de segurança, Ministério Público, secretarias municipais e estaduais, na localização de pessoas em situação de desaparecimento, segundo o coordenador-geral do Disque Denúncia, Renato Almeida.

Ele ressalta que o programa também ajuda a proteger as famílias dos desaparecidos. “Nesse momento de fragilidade, a gente sabe que telefones pessoais são disponibilizados para que as pessoas repassem informações. Infelizmente, nesse período, aparecem aproveitadores e pessoas de má índole que passam trote.”

Após ficar cerca de um mês desaparecida, jovem argentina foi encontrada no Rio de Janeiro Divulgação/Disque Denúncia

Desde 2018, o Programa Desaparecidos já ajudou a localizar 550 pessoas, inclusive fora do país. Em 2024, mais de 50% resultaram na localização de desaparecidos. Dos 198 cartazes, 108 pessoas foram encontradas, ainda de acordo com Almeida.

“Em 2020, tivemos o caso de uma carioca que desapareceu no Rio e foi encontrada em Lima, no Peru, em 2022. Ela estava hospitalizada. Com o passaporte, o hospital passou [o caso] para o Ministério Público local. Um procurador entrou no nosso site e viu o cartaz dela. Nós acionamos o nosso MP e trouxemos Maria Carolina para casa. E o contrário também aconteceu. Em 2024, uma jovem desapareceu na Argentina. Falaram que ela estava no Brasil. Produzimos um cartaz e conseguimos encontrá-la no Rio.”

Os cartazes podem ser confeccionados a pedido de qualquer pessoa, mas é obrigatório que o desaparecimento seja registrado em uma delegacia. Eles são divulgados nas mídias sociais do Disque Denúncia e também chegam até a imprensa.

Renato Almeida reforçou a importância de o denunciante dar o máximo de informações sobre a pessoa desaparecida e o mais rápido possível.

“Não é necessário esperar 48 horas ou 72 horas para procurar uma delegacia. A qualquer momento, já na situação de desaparecimento, pode ir a uma delegacia comum ou especializada registrar o desaparecimento”, informa.

Serviço

Uma cartilha desenvolvida pelo Plid busca fornecer informações para ajudar a população como agir em situações de desaparecimento. Veja todas as orientações aqui.

Plid/MPRJ

Telefones: (21) 2240-5832 ou (21) 2220-5810, em dias úteis, das 9h às 17h

e-mail: atendimento.plid@mprj.mp.br

Disque Denúncia

Telefone e WhatsApp: (21) 2253-1177

WhatsApp programa Desaparecidos: (21) 98849-6254

Para o interior do estado: 0300 2531-177

Fia-RJ

Telefones: (21) 2286-8337 / (21) 99400-7704 / (21) 98596-5296

*Sob supervisão de Bruna Oliveira

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.