Saiba quem são os alvos da PF em operação sobre suposta fraude em sistema de vacinação
Corporação afirma que a ação também visou buscar a identificação de novas pessoas que teriam sido beneficiadas pelo esquema
Rio de Janeiro|Do R7
O secretário de Transporte e Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro, Washington Reis, foi um dos alvos da Polícia Federal nesta quinta-feira (4), no inquérito que apura supostas fraudes nos sistemas de vacinação do Ministério da Saúde. A corporação também fez buscas em endereços ligados à secretária de Saúde de Duque de Caxias (RJ), Célia Serrano (veja o perfil de cada um abaixo). Segundo a PF, os alvos seriam responsáveis por viabilizar a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19. Um dos beneficiados por esse esquema foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Veja mais
A corporação afirma que a ação desta quinta também visou identificar novas pessoas que teriam sido beneficiadas pelo esquema fraudulento. Nesta fase, foram cumpridos mandados de busca e apreensão emitidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Na primeira fase da operação, em maio de 2023, os agentes federais fizeram buscas na casa de Bolsonaro e aliados.
Em entrevista à imprensa, Reis negou irregularidades. “Reviraram a casa de cabeça para baixo, não tem nada escondido. Moro aqui em Xerém há 57 anos, desde quando nasci. Eles podem vir 600 vezes”, disse.
O secretário foi questionado se acredita ser alvo de perseguição, mas respondeu que não vai “bater boca com Justiça nem com magistrado”. Contudo, disse que “a gente está sendo vítima”. “Não vou dizer de covardia, porque eu não sou frouxo”, completou.
O R7 tenta contato com a defesa de Serrano. O espaço segue aberto para manifestação.
Washington Reis
Nascido em Duque de Caxias, Reis possui mais de 30 anos de vida pública. Foi vereador, deputado estadual por três vezes e deputado federal por dois mandatos. O político também comandou a prefeitura do município por três vezes, incluindo os anos da pandemia de Covid-19.
Em 2021, a Justiça do Rio de Janeiro determinou o bloqueio de bens, até o valor de R$ 2,45 milhões, do então prefeito após pedido do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) por irregularidades na vacinação da população contra a doença. Entre os problemas apontados no requerimento dos promotores, estavam:
- A recusa em obedecer ao Plano Nacional de Vacinação e as decisões judiciais que determinaram o respeito aos grupos prioritários;
- A não reserva para a aplicação da segunda dose da CoronaVac;
- A exposição rotineira de milhares de cidadãos ao risco elevado de contaminação pela Covid-19, devido às constantes aglomerações que provocou durante a vacinação, fruto da falta de planejamento da campanha no município.
Candidatura indeferida
Além disso, em 2022, o TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) indeferiu, por unanimidade, o pedido de registro de candidatura de Washington Reis (MDB) ao cargo de vice-governador na chapa de Cláudio Castro (PL).
Segundo o relator do processo, desembargador Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, o candidato estaria inelegível por ter contra si condenação proferida por órgão judicial colegiado. Em 2016, Washington Reis foi condenado pelo STF por crimes contra o meio ambiente e contra a administração pública.
Célia Serrano
Célia é médica, formada pela Universidade Federal do Estado do Pará, com MBA de Gestão em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas e Pós-Graduação em Dermatologia pelo Hospital Federal da Lagoa (RJ).
Na Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, a atual titular da pasta exerceu os seguintes cargos: responsável técnica do Programa de Imunização do município, diretora-geral do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo e subsecretária de Vigilância em Saúde.
Em março, a PF indiciou Célia por inserção de dados falsos em sistema de informações na investigação sobre fraudes nas plataformas do Ministério da Saúde. O relatório policial também indiciou Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público.
O ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também apareceram na lista de indiciados. O caso está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou que a PF aprofundasse a apuração.
Entenda o esquema
A PF afirma que as inserções falsas ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 e tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante — no caso, a condição de imunizado contra a Covid-19.
Com isso, os investigados puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlar as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos (do Brasil e dos Estados Unidos), que visavam impedir a propagação da doença.
A apuração revela que o objetivo do grupo seria “manter coeso o elemento identitário em relação a sua pauta ideológica — no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19″.
As ações ocorrem dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar “milícias digitais”, em tramitação no Supremo Tribunal Federal.
O que dizem os envolvidos
Em entrevista à imprensa, Reis afirmou que deve respeitar o STF. “Eu não tenho nada a dizer. Eu tenho que respeitar o Supremo Tribunal Federal”, disse. Segundo ele, durante o cumprimento do mandado, a PF não encontrou nada relacionado a fraudes em cartões de vacina. “De vacina, zero. O que estava no mandado de busca, zero.”
Por meio de nota, o Governo do Rio de Janeiro afirmou que não existe nada referente à gestão local na investigação e nem fatos que comprometam a conduta de Reis.
“A Operação da Polícia Federal tem como alvo único e exclusivo a obtenção de cartões de vacinação referentes ao município de Duque de Caxias em 2022. Não existe nada referente ao Governo do Rio na investigação e nem fatos que comprometam a conduta do secretário Washington Reis.”
Já a Prefeitura de Duque de Caxias afirmou que não vai comentar o caso.
“A Prefeitura de Duque de Caxias informa que a segunda fase da Operação Venire não teve como alvo nenhum órgão vinculado à municipalidade. Com relação aos mandados dirigidos a pessoas físicas, a Prefeitura não se manifestará considerando o sigilo que recobre os atos nesta manhã realizados.”