Suspeito de integrar milícia recebia presentes de deputado, diz MP-RJ
Escutas captadas pelo MP-RJ apontam que um dos investigados ganhou quatro caixas de whisky para dividir com suspeitos de compor quadrilha
Rio de Janeiro|Do R7
A denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), que foi ponto de partida da operação "Os Intocáveis", na última terça-feira (22), apresentou transcrições de escutas telefônicas que indicam a ligação entre os denunciados e deputados.
O documento mostra um diálogo entre Manoel de Brito Batista, conhecido como “Cabelo”, e uma pessoa não identificada discutindo sobre a entrega de duas caixas de whisky que seriam presente de um deputado. O nome ou a esfera de atuação (estadual ou federal) do parlamentar não foram especificados.
“Foi um deputado que me deu quatro caixas de whisky, eu dei uma pro Maurício, dei uma pro Fininho, tem duas aqui”, disse Manoel em conversa interceptada no dia 25 de outubro de 2018.
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O homem citado como Maurício na ligação é o tenente reformado da Polícia Militar Maurício Silva da Costa, apontado pela denúncia como um dos líderes do grupo paramilitar que atua nas comunidades de Muzema, Rio das Pedras e adjacências, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Maurício foi um dos cinco presos durante a ação da última terça-feira, que contou com cerca de 150 agentes das forças de segurança do Estado. Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho, também citado na ligação, por sua vez, continua foragido da Justiça.
Em entrevista coletiva, a promotora Simone Sibílio não entrou em detalhes sobre a participação ou apoio de políticos na quadrilha alvo da operação.
Estrutura e ação da quadrilha
A denúncia mostra que Manoel é um dos braços direito dos líderes dos chefes da organização. O suspeito é responsável por vigiar a parte financeira do grupo, além de acompanhar a construção de empreendimentos, negociação de vendas e locação de imóveis, supervisão de cobrança, arrecadação, repasse dos lucros e ocultação dos patrimônios.
O documento mostra diversas ligações de Manoel gerenciando os imóveis, construídos irregularmente, de outros denunciados como Maurício e o ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como “Gordinho”.
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Manoel demonstra nos diálogos temor por possíveis ações de Adriano e Maurício. Em uma das conversas, o suspeito diz que não pode contrariar o tenente reformado da PM e que recebeu um “esporro”, segundo suas palavras, de Adriano por esquecer-se de realizar um pagamento a pedido de seu chefe.
“Eu não posso passar por cima da ordem do homem, pô”, diz Manoel se referindo a Maurício.
Manoel ainda é destacado na denúncia negociando casas sem luz ou água legalizada, impedindo a entrada de moradores com aluguéis atrasados em imóveis do grupo e articulando laranjas para registrar carros em seus nomes.
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“Eu tô com um recibo desse caminhãozinho que eu comprei do irmão do Maciel, tá em branco, vou preencher terça-feira pra tu ir lá no cartório reconhecer firma pra mim [...] eu vou te ligar terça, pra mandar o garoto te pegar e te levar lá no cartório e você reconhece firma”, diz Manoel a um homem identificado como Daniel.
A denúncia também aponta que Lorena, uma suposta funcionária da Amarp (Associação de Moradores e Amigos de Rio das Pedras), tinha conhecimento da cobrança de taxas da milícia sobre os moradores e do transporte irregular de passageiros de vans.
Em ligação, a funcionária teve uma conversa interceptada com um homem identificado como Wolverine e discute com ele os locais nos quais as vans podem trafegar e pegar passageiros.
Ameaças
Manoel também é responsável por interceptações telefônicas com conteúdo extremamente violento, ameaçando um homem chamado de João de ter os braços e pernas cortados.
“[...] você fala para o João que o Aurélio acabou de me falar aqui que ele falou que vai cortar os cabos lá no Pinheiro, se ele cortar, eu vou cortar os dois braços dele e as duas pernas.”
Em outra parte da denúncia, Manoel dá ordens para tirar um carro que estaria atrapalhando a passagem de um caminhão, cujo sua origem ou carregamento não foi especificado. O suspeito manda um subordinado pegar uma empilhadeira, tirar veículo de lá e incendiá-lo.
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Outra prática comum do grupo é a agiotagem e a intimidação daqueles que pegam empréstimos com os suspeitos.
Laerte da Silva Lima, citado como braço armado da quadrilha, é um dos responsáveis por recolher os valores provenientes da agiotagem do grupo. Ele aparece nas transcrições ameaçando pessoas que pegaram estes empréstimos e não pagaram no prazo estipulado.
“Quer que eu vá aí ou não precisa? [...] Cansei de falar com ele, só fala que se ele não pagar nós vamos tomar o carro dele, o carro da mulher dele, o carro que ele tiver aí nós vamos tomar”, disse Laerte a uma pessoa não identificada.
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Informações privilegiadas
Manoel e Jorge Alberto Moreth, conhecido como “Beto Bomba”, são apontados como fontes com informações privilegiadas de operações de órgãos públicos, como Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Polícia Militar e a Prefeitura do Rio de Janeiro.
“Tá sabendo que tem alguma coisa amanhã? Acabou de me ligar aqui que vai ter. [...] Inea e prefeitura, falou que os caras são do car****”, diz Manoel.
Beto Bomba, presidente da Amarp há mais de três anos, e também foragido, foi citado diversas vezes em denúncias anônimas que indicam invasão de casas, roubos, estupros e assassinatos.
Defesas
A reportagem do R7 tentou contato com a defesa dos citados, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.