É "falácia" SP ser dominada por um único grupo criminoso, diz chefe do Denarc
Para ele, retaliação de bandidos é resposta à ação da polícia
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
O diretor do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), Wagner Giudici, afirmou, na quarta-feira (31), que não é possível estabelecer, com precisão, um vínculo entre os recentes ataques promovidos por criminoso em São Paulo e o aumento efetivo de apreensão de drogas neste ano, no Estado. Mas ele destacou que esta é uma hipótese plausível, já que os “golpes têm sido reiterados e muito fortes em cima do crime organizado”.
— Quando falo em crime organizado, não falo de uma organização criminosa. É uma falácia a gente imaginar que São Paulo é dominada por uma única unidade. Nem todas são batizadas e nem todas têm nomes. Nem todas usam uma grife para produzir o tráfico. Mas é fato que prisões, mortes em confronto (com a polícia) e um expressivo aumento na apreensão de drogas causam, sim, um desconforto no crime organizado. Em qualquer unidade do crime organizado. Isso, de fato, pode levar alguma reação por parte dos criminosos.
Giudici enfatizou que não há conexão entre as 23 mortes esclarecidas de PMs ocorridas, neste ano, na capital e na Grande São Paulo.
— Seria impossível, até para nós, policiais, esconder isso. Não há esse vínculo. É aleatório. Cada um vai para um lado e tira sua desforra do jeito que bem entende. Cada um vai cobrar sua bronca do jeito que acha que tem que cobrar. Não é organizado como se imagina. Não existe uma mesa de reuniões em que se decidem mortes. É um negócio muito mais pontual e pulverizado do que a gente imagina.
Para o comandante do Policiamento de Choque da Polícia Militar, César Augusto Franco Morelli, houve retaliações a policiais porque o “crime está sendo subjugado pela lei”.
— Ele está perdendo dinheiro, muita droga. Estão sendo presas lideranças, envolvidos com as facções. Este crime é organizado entre aspas. Não é nenhuma máfia italiana. É na gíria comum mesmo, às vezes, não sabe nem falar. Quadrilhas, de qualquer tamanho que sejam, vão ser combatidas como quadrilhas. Não vamos ficar glamourizando pessoas que não merecem.
Na análise de Morelli, os sucessivos assassinatos de PMs não podem ser encarados como atentados contra a corporação.
— Na verdade, não é um atentado contra a polícia. É em relação a alguns policiais que possam estar desatentos, devido à retaliação que o crime possa estar fazendo em virtude de sua perda.
De acordo com ele, a principal recomendação dada à tropa é que fique atenta, em qualquer situação.
— A principal recomendação é que, o policial, pôs uma arma na cinta, que fique esperto, ligeiro. Ele pode ser surpreendido, mesmo em situação que não seja de ataque.
“Balaio de louco”
O diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), Jorge Carrasco, avaliou que está ocorrendo um “balaio louco”, ao se referir à recente onda de violência em São Paulo. Ele frisou que somente depois de estabelecida a autoria dos assassinatos é que a polícia analisa a motivação do crime.
— O que está acontecendo é que virou um balaio louco. Muitas pessoas estão cobrando desafetos. Muitas estão se aproveitando da situação, cobrando dívidas de tráfico. Quem não pode pagar está pagando na vida.
Sobre a suspeita de envolvimento de policiais e ex-policiais em homicídios de civis, Carrasco afirmou que “tudo é investigado”.
— Tenho um caso em Osasco em que há a evidência de envolvimento de um policial militar que foi expulso em 2008. O DHPP não vai passar a mão na cabeça de ninguém. Só que tudo tem que ter prova. Não podemos fazer conjecturas.
Lista
Em relação aos papéis com anotações sobre a rotina de policiais, encontrados em uma mala com dois adolescentes durante a Operação Saturação na favela de Paraisópolis, na zona sul, o comandante do Policiamento de Choque informou que não é possível afirmar que os nomes encontrados são de PMs.
— Não vou ser leviano e confirmar que são nomes de policiais. Estes papéis estão sendo analisados. Não queremos criar uma situação de neurose gratuita, internamente, na polícia, ou na sociedade. Estou aguardando a análise.