Alunos são recebidos com café da manhã, rosas e cartazes em Suzano
Olhar de tristeza e desolação dos adolescentes denunciava maior preocupação: "tenho medo de voltar tudo na minha cabeça", repetiam
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Antes das 9 horas da manhã desta segunda-feira (18) um ou outro pai de aluno se aproximava do portão de ferro da escola estadual Professor Raul Brasil. Próximo das 10 horas, dezenas de estudantes já ocupavam a calçada da escola onde um massacre deixou oito vítimas na quarta-feira (13). O olhar de tristeza e desolação dos adolescentes denunciava a maior preocupação: "tenho medo de voltar tudo na minha cabeça", repetiam quase todos.
Os jovens chegavam timidamente para retirar os pertences pessoais e, os que decidirem continuar no colégio, saber quais serão os próximos passos e atividades. Carolina Pascoal, de 15 anos, era uma das poucas que conseguia manter um sorriso discreto no rosto.
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"Fomos recebidos muito bem, havia pessoas distribuindo rosas brancas, muitos psicólogos dispostos a nos ouvir e um café da manhã preparado para nós", disse Carolina. "Quando entrei na escola, senti um alívio, as pessoas estavam juntas. Dá para sentir uma união muito forte. Espero que meu futuro seja de paz, para mim e para minha família."
Amiga de Carolina, Gabriela Marques da Silva Costa, de 15 anos, afirma que os psicólogos tiveram uma conversa inicial com os alunos, mas que o atendimento dos estudantes ocorrerá amanhã. Na tarde desta segunda-feira (18), os atendimentos serão oferecidos aos professores e servidores públicos que trabalhavam na escola. "Para mim, ainda não caiu a ficha do que aconteceu ali", disse Gabriela.
Familiares e amigos dos estudantes que presenciaram os ataques fizeram questão de comparecer a escola para dar, pelo menos, um abraço e manifestar solidariedade no primeiro dia que a escola voltou a funcionar após os tiros. A cozinheira Creuza de Souza Silva, avó de Camile Vitória da Silva Ramos, de 14 anos, conversou com os psicólogos para se informar sobre as próximas atividades.
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"Perguntei se a escola vai ter um reforço na segurança, e me disseram que vão discutir essa questão. Prometeram melhorar a segurança e de forma frequente", disse Creuza. Segundo ela, além do atendimento psicológico individual diário, as equipes tentarão evitar falar sobre os ataques com os alunos. "Disseram que vão falar sobre coisas positivas e sobre a sobrevivência."
Creuza ainda não sabe dizer se a neta continuará a estudar na escola. "Ela estudava de manhã e fazia inglês a tarde. Amanhã ela vem, mas ainda queremos acompanhar todo o processo." As paredes da escola tem diversas mensagens de solidariedade aos alunos e professores.
Na fachada, onde se lê o nome "Raul Brasil" as flores e homenagens se multiplicam. Funcionários, pais e alunos se abraçaram e choraram ao chegar nos portões do colégio. Na mesma parede pela qual dezenas de alunos conseguiram escapar dos atiradores, hoje se lê as inscrições: "paz a todos, arma mata, arma não."