Após 11 anos tentando engravidar, ela decidiu se abrir à adoção e hoje é mãe de cinco filhos
Fernanda Fabris, de 36 anos, conta que sempre quis ser mãe, mas que passou por uma fase dura de adaptação com as crianças
São Paulo|Gabrielle Pedro, do R7
Depois de 11 anos tentando engravidar, Fernanda Fabris, de 36, decidiu abandonar o tratamento de fertilização e realizar seu grande sonho de se tornar mãe através da adoção. A bióloga de Indaiatuba, interior de São Paulo, contou ao R7 que o processo de adaptação foi muito difícil para ela e o marido, Maurício Fabris, de 41, mas que fariam tudo mais uma vez para ficar com seus filhos.
"Desde o 13 anos eu já sabia que queria adotar. Quando o meu marido me pediu em casamento, a primeira coisa que falei foi sobre esse meu sonho, e ele logo topou. Durante a conversa, ele disse que também gostaria de ter um filho biológico e eu concordei. Passamos 11 anos tentando engravidar, mas não aconteceu. Fizemos diversos exames, mas não encontraram nenhum problema que nos impedisse de engravidar, simplesmente não aconteceu", começou ela.
Em meio à tantas tentativas, a pressão tomou conta do emocional de Fernanda. "Tive depressões fortes por conta disso. Não me sentia mulher e achava que não era digna de engravidar. Fui atrás de vários médicos até que um me ajudou a me libertar."
Enquanto o especialista a explicava sobre o processo de fertilização, ela entendeu que não era a gravidez que a faria viver um dos momentos mais lindos de sua vida.
"Costumo dizer que vivi um processo de luto por não poder gerar e isso foi ótimo para mim. Passei quase dois anos sem pensar em gravidez porque ele [o médico] abriu meus olhos e me fez lembrar do meu verdadeiro sonho: a adoção."
Quatro de uma vez
Em 2019, durante uma rápida pesquisa no Google sobre como funcionava o processo de adoção, Fernanda deu de cara com o site Adote Um Boa Noite, do Tribunal de Justiça de São Paulo. "Vi diversas fotos de crianças maiores e cheguei a pensar que era ilícito. Rolando a página mais para baixo, na penúltima imagem, vi as fotos de quatro irmão e imediatamente disse para uma colega de trabalho que estava ao meu lado: 'São os meus filhos'. Tirei um print da tela, mandei para o meu esposo, e ele surtou porque seriam quatro de uma vez."
Enquanto Maurício processava a informação, a bióloga foi até a Vara de Infância e Juventude mais próxima de casa iniciar o processo de adoção pelo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento.
"Nessa fase, eu ligava todos os dias para a Vara pedindo para que não separassem eles porque estava me habilitando para adotá-los. O Maurício por um período de aceitação que durou mais ou menos uns três meses. Assim que ele topou, fomos ao abrigo, onde eles estavam, para conhecê-los. Foi um dia lindo e muito marcante", contou.
Vínculo materno
Como todo ciclo, o casal precisou lidar com alguns desafios durante o tempo de adaptação com os filhos Flávio, Flávia, Fabrício e Arthur, que atualmente estão com 15, 13, 10 e 7 anos, respectivamente.
"As crianças tinham 3, 6, 9 e 11 anos na época e a minha filha [Flávia, de 9] não queria de forma nenhuma ser adotada. Foi mais de um ano e meio tentando conquistar o coraçãozinho dela. Ela fazia questão de nos mostrar seu pior lado para nos testar. Assinamos a adoção dela sem estarmos 100% vinculados emocionalmente, mas hoje vejo que ela tinha medo de se apegar a gente e se decepcionar. Isso é muito normal", contou.
Já com os meninos, o processo foi diferente. Segundo a mãe, a conexão com o mais velho foi praticamente instantânea, já a caçula também precisou de tempo para ser estabelecida.
"Muita gente pensa que quanto menor a criança mais fácil é a adaptação, mas não é bem assim. O Arthur, que supostamente deveria ser mais rápido demorou uns quatro meses para confiar em nós. Ele não nos deixava tocá-lo em nenhum momento, nem no banho e nem para tirá-lo da cadeirinha do carro. Foi difícil", disse.
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Com o Fabrício o desafio foi outro. "Ele se conectou com a gente muito rápido. Em poucos minutos, já estava me chamando de mãe. Isso deveria ser positivo, mas ele era uma criança muito frágil, chorona, demandava muita atenção e achava que todas as famílias eram como as de comerciais de margarina. Então, ao contrário dos outros, eu que tive dificuldade de me vincular a ele. Precisei fazer bastante terapia e assumir o posto de adulta para fazer tudo dar certo. Com o tempo, vi que essa minha insegurança tinha a ver com o fato de ele ser muito parecido comigo."
Nova adoção
Três anos após a quádrupla adoção, Fernanda e o marido decidiram aumentar a família mais uma vez seguindo o coração. "Sendo sincera, nós não tínhamos intenção de adotar porque éramos uma família grande, de seis pessoas. Mas, em 2022, visitamos um projeto, do qual sou madrinha, no interior de São Paulo e lá conhecemos a Naty."
Durante uma atividade, o casal se aproximou da jovem, que já tinha 17 anos, e pensou em apadrinhá-la. No entanto, na cidade em que eles vivem, Indaiatuba, interior de São Paulo, não possui programa de apadrinhamento afetivo e foi assim que surgiu a ideia de adotá-la oficialmente.
"Ela passou a ir muito para nossa casa e conviver bastante com as crianças. Quando demos conta, vimos que já éramos uma família. Como ela já tinha 17 anos e 5 meses, tivemos que correr para formalizar a adoção porque ela logo faria 18 e não seria mais possível. Deu tudo muito certo e já tem duas semanas que ela está morando com a gente oficialmente."
Ser mãe é decisão
Agora, Fernanda faz questão dividir alguns momentos da família e da rotina das crianças no Instagram, onde tem mais de 800 mil seguidores.
Ela ainda aconselha quem pretende entrar na fila da adoção.
A primeira coisa é olhar para si e fazer uma autoanálise para entender porque você tá querendo adotar. Se for para substituir um vazio no seu coração%2C fazer com que alguma expectativa sua seja suprida%2C ou se for um desejo de caridade... Sai fora! Você está no caminho errado e tem uma alta chance de se frustrar.
E continuou: "Se seu desejo é de fato ser pai ou mãe, depois você tem que ver qual fase do desenvolvimento você gostaria de viver. Veja se você precisa realmente passar pela fase das fraldas. Você quer ver o primeiro passinho ou você apenas quer ser pai? Feito isso, entre nessa de coração aberto porque adotar é decisão, vontade... e você precisa querer".