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Após 4 anos de faculdade, alunos são impedidos de trabalhar por falta de cadastro do curso no MEC

Turma de odontologia da Unip Marquês descobriu que formação pode ser inválida ao tentar tirar registro para exercer profissão

São Paulo|Isabelle Amaral, do R7

Curso de odontologia na Unip Marquês pode não valer
Curso de odontologia na Unip Marquês pode não valer

Em denúncia ao R7, os ex-alunos de odontologia da Unip (Universidade Paulista) campus Marquês, afirmam estarem sofrendo um descaso ao descobrirem que o curso, amplamente divulgado pela faculdade, não é cadastrado no MEC (Ministério da Educação e Cultura). Sem esse cadastro, eles não conseguem obter o registro de dentista e são impedidos de trabalhar.

"Quando a nossa turma ficou sabendo que talvez existisse a possibilidade de a nossa formação não valer, depois de quatro anos e em período integral, foi desesperador", relatou uma das ex-estudantes, que preferiu não se identificar.

Todo dentista formado precisa obter o registro do CRO (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo). Sem esse cadastro, os alunos não são reconhecidos como profissionais e ficam impedidos de conseguir qualquer trabalho na área.

O grupo foi a primeira turma do curso de odontologia na unidade, localizada na avenida Marquês de São Vicente, na Água Branca, zona oeste de São Paulo. A instituição de ensino abriu o curso no local em 2019.


Depois de quatro anos, esse período se encerrou no fim de 2022, e os estudantes acreditaram que já em 2023 poderiam começar a exercer a profissão. Desde então, os ex-alunos começaram a preparar os documentos para pedir o registro no CRO.

'Enrolados' pela universidade

Ainda de acordo com a ex-aluna, logo no início do ano a turma entrou no site do CRO para dar entrada no pedido do registro. Entretanto, perceberam que a Unip do campus Marquês não aparecia nas opções de faculdades.


Eles acionaram o coordenador do curso, que informou que os documentos necessários haviam sido enviados e entregues ao órgão. O administrador-geral do curso de odontologia em todos os campus da Unip foi procurado e, mesmo após tentar contato com diversos trabalhadores da instituição, do CRO e do MEC para tentar resolver o problema, os alunos continuam sem conseguir ter o registro.

"Todo mundo que a gente perguntava falava assim: 'Mas não é comigo' ou 'Não sou eu que resolvo' e ficavam jogando o problema para um e outro", relatou a jovem.


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Na sequência, o grupo acionou o 'Reclame Aqui'. A empresa explicou a um dos alunos que o CFO recebeu os documentos necessários no dia 3 de janeiro e, no dia 9 de fevereiro, foi solicitada à Unip mais papelada, justamente porque aquela seria a primeira turma de odontologia do campus Marquês.

A Unip teria mandado o restante desses documentos apenas no dia 24 de fevereiro. O Reclama Aqui ainda informou que quem estava cuidando da situação era o setor jurídico do CFO e, por isso, não tinham mais detalhes.

A denúncia ao MEC e a descoberta

Sentindo-se "enrolada" pela instituição, a representante de turma decidiu fazer uma denúncia no MEC e foi quando ela descobriu e informou aos demais colegas que a universidade do campus Marquês não era cadastrada para o curso de odontologia no ministério. Com isso, tecnicamente, a faculdade não estaria apta a oferecer o curso.

MEC confirmou à aluna que curso não era reconhecido
MEC confirmou à aluna que curso não era reconhecido

Preocupados com a possibilidade de perder a formação, a turma decidiu consultar o advogado que confirmou o risco. "Ele disse que precisávamos entrar com um processo pedindo danos morais porque a faculdade fez propaganda enganosa, ofereceu um curso que não podia e ainda se beneficiou da mensalidade", revelou a vítima.

Além disso, o profissional ainda informou ao grupo que a Unip Marquês estava tentando a validação no MEC para esse curso desde 2017, mas não conseguiu. Os alunos descobriram, ainda, que a Unip campus Alphaville estava passando pelo mesmo processo.

O advogado Rafael Fiuza explicou que, se os alunos derem continuidade ao processo e for comprovado que o curso oferecido pela instituição não tem o reconhecimento no MEC, "as vítimas devem ingressar com ação judicial requerendo danos materiais e morais, visto os transtornos causados na trajetória profissional dos estudantes".

Oportunidades de emprego perdidas e o descaso

Outra aluna, também entrevistada pela reportagem, revelou a revolta que sentiu após perder duas oportunidades de emprego na área. "Na primeira, eu falei com o dono da clínica, tentei explicar toda a situação com a faculdade, mas ele não quis nem me ouvir, foi claro e rápido nas palavras: 'Não aceito ninguém sem o CRO'", contou.

A segunda oportunidade perdida, revelou a jovem, "estava mais certa". A vaga era na clínica que atende os pais dela há anos e a empresa precisava de um dentista imediatamente para preencher um dos horários.

"Eu fui ao consultório e o dentista foi mais atencioso comigo, pediu para eu tentar outras maneiras de conseguir, falar com o CFO, talvez tentar pegar um provisório. Eu fui atrás disso com o conselho, mas eles disseram que não tinha jeito e tinha que aguardar a validação", disse. "Mesmo que ele quisesse me contratar naquele momento, era arriscado ter alguém trabalhando sem o registro para exercer a profissão", completou.

Com um tom desesperado, outra vítima que era da mesma turma desabafou: "A faculdade sabia que a gente precisava disso para trabalhar. Passamos quatro anos de muita ansiedade, sonhamos com esse momento, nos dedicamos, e quando finalmente chegou a hora, descobrimos que talvez a nossa formação pode não valer. Foi um descaso total".

O que diz a universidade

Em nota enviada ao R7, a Unip afirmou que foi credenciada pelo MEC em 1988. Com isso, "a instituição possui autonomia didático-científica para criar os próprios cursos (Art. 53, da Lei de Diretrizes e Bases, LDB)", escreveu.

Unip declara que tem autorização do MEC para dar o curso
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Ainda segundo a universidade, em 2018 o campus Marquês recebeu o reconhecimento do curso de odontologia. A instituição ainda alega que todos os documentos necessários foram enviados para a "inclusão do curso de odontologia do campus marquês junto ao CFO (Conselho Federal de Odontologia) e CRO/SP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo)".

Questionada sobre os motivos que podem ter levado os alunos a não conseguirem o registro, apesar das alegações da documentação enviada, a universidade afirmou que está corretamente autorizada a dar o curso e que o procurador institucional da universidade está em contato com o MEC para regularizar a situação.

A instituição declara que "tem rigorosamente cumprido seu papel como instituição de ensino há 35 anos".

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