Assistentes sociais apontam precariedade no trabalho em SP
Fotos indicam que luvas cirúrgicas usadas por funcionários que trabalham durante crise do novo coronavírus estão fora do prazo de validade
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Em meio à crise do novo coronavírus e fechamento de parte dos serviços no Estado de São Paulo, funcionários de Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da capital paulista seguem atuando quase normalmente, apesar de pedirem para que a prefeitura adote medidas alternativas no funcionamento das unidades.
Além disso, os funcionários apontam que materiais de higienização e proteção para conter a propagação do covid-19 são insuficientes ou irregulares. Conforme imagens enviadas para reportagem, foram enviadas para pelo menos seis unidades de Creas e Cras luvas cirúrgicas fabricadas em maio de 2013 e com validade de cinco anos, portanto, deveria ter sido usada até maio de 2018.
O R7 enviou as fotos com apontando o prazo de validade vencido do material para a SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social). A pasta não respondeu sobre as imagens das luvas fora da validade, e disse que, desde a semana passada, “distribuiu caixas de luvas e embalagens de álcool em gel, dentro do prazo de validade para as Supervisões de Assistência Social para que redistribuíssem em seus territórios”.
Ainda em resposta ao questionamento sobre o material vencido, a secretaria disse que “recebeu doações de luvas de ONGs com fabricação de 2015 e validade de cinco anos”. A SMADS disse ainda que, como medida de contenção ao avanço do coronavírus, “os serviços da rede socioassistencial intensificaram os cuidados com a higiene, como lavar bem as mãos com água e sabão, cobrir a boca e o nariz ao tossir e espirrar, evitar tocar os olhos, e orientações de não compartilharem objetos de uso pessoal”.
Sobre o funcionamento e a ida dos funcionários aos locais de trabalho, a pasta afirma que a prefeitura determinou, por meio de decreto, que a secretaria deve “manter em funcionamento os serviços da rede direta de atendimento”, entre eles os Craes e Cras.
Destaca ainda que “estão em teletrabalho os servidores que se incluem no grupo de risco: acima de 60 anos, gestantes ou lactantes; servidores expostos a qualquer doença ou outra condição de risco de desenvolvimento de sintomas mais graves decorrentes da infecção pelo coronavírus e os servidores com deficiência”.
Os funcionários das unidades, no entanto, acreditam que seria possível adotar medidas para afastar os demais trabalhadores ou atuar de outras maneiras. “Nós poderíamos trabalhar em um horário alternativo, porque hoje temos que estar nos Creas e Cras das 8h às 18h, mas acreditamos que podemos trabalhar das 10h às 16h”, exemplifica uma funcionária sob condição de anonimato.
Ela ainda aponta para a possibilidade de revezamento de profissionais e que seja feito “o máximo de providências por telefone e acesso remoto”, pois, ainda segundo a funcionária, é possível “fazer as entrevistas por telefone e, quando perceber que é algo mais grave, fazer a visita devidamente protegida”.
Por fim, a funcionária afirma que, apesar de serem trabalho essencial, não há o mesmo tratamento como os serviços de segurança pública e saúde. “Para os serviços essenciais, tem a possibilidade de testagem, tem as EPIs [equipamentos de proteção individual], tem a vacinação, e a gente não tem nada disso”.