Barulho e rachaduras: Brasilândia sofre com obras da linha 6-Laranja
Após atraso com paralisação de 4 anos, retomada das construções do Metrô gera transtorno para residentes da zona norte
São Paulo|Isabelle Amaral,* do R7
A retomada das obras da linha 6-Laranja do Metrô tem causado transtornos na vizinhança da Brasilândia, zona norte de São Paulo. “Quando acontecem as explosões e tocam as sirenes durante as obras é bem assustador, porque o prédio todo treme”, relata Melissa Lopes, que atua como escrevente do 4° Cartório, localizado em frente à construção da estação João Paulo I.
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Em 2016, as obras tiveram que ser paralisadas, e em 2018 o governo de São Paulo encerrou o contrato com a concessionária da época, a Move SP. A suspensão das obras durou quatro anos. Até que, em outubro de 2020, ano em que a obra tinha previsão de entrega, foi anunciada a retomada após negociação do governo com a atual concessionária, a Acciona.
Segundo o relato de moradores, o atraso agora gerou pressa. O barulho durante a madrugada, vindo do 3° turno da construção, vem perturbando o sono da vizinhança. Além incômodo sonoro, moradores chegaram a relatar que suas casas apresentaram rachaduras por conta do impacto das obras.
O líder comunitário e integrante do Fórum Pró-Metrô Freguesia/Brasilândia, Leandro Silva, tem recebido e centralizado essas reclamações.
Leandro afirma que a estação é esperada há anos, mas que a população deseja um posicionamento do governo e da concessionária, já que temem uma nova paralisação das obras. “Enquanto não houver um cronograma com datas das entregas das estações, não tem como acreditar que está tudo certo”, relata.
Procuradas pela reportagem do R7, a Acciona e a Linha Uni, atuais responsáveis pela construção, informaram, em nota, que lamentam os transtornos, mas estão cumprindo a regulamentação referente aos níveis de emissão sonora em obras civis. Disseram, ainda, que as empresas sempre comunicam antecipadamente a possível ocorrência de ruídos no entorno dos canteiros.
Sobre o cronograma, a Acciona afirma que as estações serão entregues simultaneamente, dentro do prazo de cinco anos a partir da data de assinatura do contrato, em outubro de 2020.
Paralisação das obras e frustação das pessoas
As obras da linha comçearam em 2015 e foram interrompidas já em 2016 por tempo indeterminado. O consórcio da época, Move SP, alegou que não conseguiu um empréstimo com o BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ver as obradas paradas gerou frustração nas famílias tiveram de sair de suas casas para que os 15 km da linha 6-Laranja fossem construídos em locais estratégicos. É o que relata a estudante Luana Medeiros, de 19 anos, que morou por sete anos com a família na região onde está sendo erguida uma das estações.
Luana diz que, durante a paralisação, o bairro ficou perigoso. O terrenos que antes abrigavam “casas lindas com famílias grandes”, estavam completamente abandonados. Sem movimentação, há mais chances para crimes.
De acordo com a Acciona, foram necessárias 391 desapropriações de imóveis em todos os distritos que receberão estações - que vão desde a Brasilândia até a estação São Joaquim, no centro. Do total, 371 já ocorreram.
Em 2017, moradores indignados com a paralisação, criaram o movimento ‘Metrô Brasilândia Já’, para chamar a atenção das autoridades para que as linhas voltassem a ser construídas. O manifestante Enio Silva, de 65 anos, relata que ouvia falar que haveria uma estação na região há mais de 20 anos.
Histórico
A linha 6-Laranja do Metrô vai ligar a região da Brasilândia, na zona norte, à estação São Joaquim, na região central da cidade. Serão, ao todo, 15 estações, que reduzirão a apenas 23 minutos um trajeto que leva atualmente 1h30 de ônibus.
2010: Previsão de início das obras que, no entanto, foi adiado.
Abril de 2015: Início oficial das obras após adiamento. Data de entrega prevista: 2020.
2016: Paralisação por tempo indeterminado dos trabalhos. Justificativa do consórcio Move SP: não conseguiram empréstimo com o BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social).
2018: Governo de São Paulo rescinde contrato de concessão com a Move SP.
Outubro de 2020: Anunciada a retomada das obras, com prazo de conclusão para 2025. Decisão ocorre após o governo de São Paulo negociar a concessão da linha 6 com o grupo espanhol Acciona.
*Estagiária sob supervisão de Ingrid Alfaya e Clarice Sá