Brasil tem 180 homicídios por dia e 75% são de negros, diz Atlas
Estudo aponta que aumento no número de mortes violentas é motivado pela disputa de poder entre facções criminosas no norte e nordeste
São Paulo|Kaique Dalapola e Fabíola Perez, do R7
Os casos de homicídios no Brasil atingiram o número mais alto no nível histórico, conforme apontou o Atlas da Violência de 2019, que analisa os dados do SIM/MS (Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde) de 2017. Conforme os números oficiais, 65.602 pessoas foram assassinadas em 2017 — o que corresponde a quase 180 mortes do por dia no Brasil. A taxa é de aproximadamente 31,6 mortes para cada cem mil habitantes.
Os dados, divulgados nesta quarta-feira (5) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), apontam um aumento de 4,9% de homicídios no país em relação a 2016, quando houve 62.517 assassinatos. “O aumento é puxado, sobretudo, pelo cenário de violência nos estados do norte e nordeste, em função da eclosão da guerra de facções criminosas, narcotráfico e mercados varejistas de drogas na rota do rio Solimões”, explica Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea.
Cerqueira explica que, entre os anos de 2000 e 2013, a área plantada de cocaína na Colômbia diminuiu e, com isso, o Brasil passou a ganhar destaque como um corredor de drogas. “Em meados de 2016 e 2017 essa guerra explode com as mortes nos presídios de Manaus e Roraima”, diz o pesquisador.
Recentemente, as 55 mortes de detentos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, no Amazonas, também demonstram, segundo ele, a tensão no ambiente nos cárceres. "Um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento, sem que o Estado tenha controle da situação", diz o estudo.
Os piores indicadores estão nos estados que compõem a rota do Solimões, como Acre e Amazonas, na região norte, e Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, no nordeste. “Esses três estados tem posições geográficas estratégias para exportar drogas para a Europa”, diz Cerqueira. "O Acre, por exemplo, descobriu uma série de novas rotas para drogas."
Nos estados que apresentaram estabilidade ou redução de mortes violentas, o cenário pode ser explicado, segundo Cerqueira, por dois fatores. "O estatuto do desarmamento e a mudança no perfil demográfico com a diminuição do número de homens jovens contribuiu para a redução dos homicídios."
Perfil dos assassinados
O estudo mapeia ainda o aumento da violência letal contra públicos específicos, incluindo negros, população LGBTI, e mulheres, nos casos de feminicídio. "Há um clima de ódio contra as minorias que incentiva essa violência e o aumento no número de mortes."
Do total das pessoas assassinadas, a pesquisa mostra que 75,5% eram negras (pretas e pardas). Entre as vítimas do sexo masculino, 64,6% eram pardas, os homens brancos representam 26,4% dos mortos, e 8,5% eram pessoas pretas. Indígenas e classificados como de cor de pele amarela foram, respectivamente, 0,3% e 0,1%.
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Das mulheres, os dados apontam que 56,2% eram pardas, 35,6% das mulheres eram brancas e as pretas representam 7,2% do total das vítimas do sexo feminino. Indígenas atingiu 0,8% e, amarelas, 0,2%.
Os dados do estudo indicam que houve um crescimento dos homicídios femininos no Brasil em 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas, o maior número registrado desde 2007.
O Atlas da Violência indica que 9 em cada 10 homicídios vitimaram homens. Tratando de faixa etária, os jovens de 15 a 19 anos do sexo masculino são os mais assassinados no Brasil: 59,1%. Enquanto as jovens do sexo feminino nessa idade foram 17,4%.