São Paulo Câmara pode liberar aumento de ruído em SP usando projeto sobre ‘dark kitchens’

Câmara pode liberar aumento de ruído em SP usando projeto sobre ‘dark kitchens’

Debate sobre aumento de decibéis permitidos se arrasta e gera polêmica, especialmente com moradores do entorno de estádios

Show da banda Coldplay, no Allianz Parque

Show da banda Coldplay, no Allianz Parque

07.04.2016

A Câmara Municipal de São Paulo deve votar nesta quarta-feira (9) um projeto de lei que prevê  liberar o aumento de ruído permitido na cidade. O tema vem gerando discussão há meses, e um projeto que previa a mudança sofreu bastante resistência por parte de moradores de determinados bairros da cidade, em especial do entorno de estádios.

A mudança não deve ocorrer com a votação desse projeto, no entanto. Um artigo que produz efeito semelhante foi incluído em um novo texto de outro projeto de lei, que regulamenta a atividade das chamadas “dark kitchens”, cozinhas que produzem especialmente para serviços de entrega e que ainda não têm uma legislação específica em São Paulo.

O projeto está na pauta da Câmara desta quarta. Críticos da mudança do ruído permitido na cidade afirmam que foi inserido um "jabuti" no projeto sobre as "dark kitchens" - é quando é incluído um artigo de outro tema em um projeto de lei. 

Um morador do entorno do Allianz Parque, que preferiu não se identificar, afirmou ao R7 que a Câmara quer votar a mudança "na calada da noite", sem participação popular, aumentado o limite de barulho através de um projeto que não tem relação com a regulamentação dos limites de barulho.

O projeto de lei nº 239 de 2018, semelhante ao substitutivo acrescentado, foi apresentado pelo líder da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Fábio Riva (PSDB), no dia 5 de abril, com caráter de urgência. O projeto altera os limites de ruído de áreas classificadas na legislação municipal como ZOE (Zona de Ocupação Especial).

São áreas que exigem regras específicas, como o entorno de aeroportos e áreas de lazer. É como estão classificados os entornos dos estádios Allianz Parque e do Morumbi, na zona sul — também palco constante de shows.  

Procurado pelo R7, o vereador Fábio Riva preferiu não comentar a inclusão de um artigo que altera a permissão de ruído em um projeto sobre "dark kitchens". No entanto, durante o Colégio de Líderes da Câmara realizado na terça-feira (8), quando questionado sobre o substitutivo, Riva afirmou que a terminologia de "jabuti" diminui a essência e o trabalho da Câmara Municipal. "Estamos nos atentando sobre a lei de zoneamento, que também está sendo alterada pela lei das 'dark kitchens'. Por similaridade também foi colocada a questão dos decibéis. É de conhecimento geral e público o assunto".

Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou especificamente a previsão de mudança de ruído no novo projeto. A gestão Ricardo Nunes afirmou que a Smul (Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento) tem trabalhado em conjunto com a Câmara Municipal para regulamentar a atividade de "dark kitchens". "Neste momento, o assunto está em discussão no legislativo municipal e ainda será votado", diz a Prefeitura. 

Protestos

Os moradores do entorno do Allianz Parque, na zona oeste da capital paulista, juntaram-se para protestar contra o projeto. Na legislação atual, o limite de ruído de uma ZOE, até as 23h, é de 55 decibéis. O texto apresentado pelo Executivo prevê o aumento para 85 decibéis, o que revolta os moradores. O ruído, segundo eles, já é bastante "incômodo", e limites mais altos prejudicarão quem mora nas proximidades.

"Há shows que duram cerca de quatro, cinco horas, e às vezes acontece mais de um por semana”, afirma Jupira Cauhy, que mora a alguns metros do estádio e é representante dos moradores no Cades (Conselho de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz) da Lapa.

Pelo menos 31 associações, 12 delas nas proximidades do estádio, se juntaram contra a iniciativa. Elas assinaram uma nota de repúdio endereçada aos vereadores no primeiro semestre. Entre as assinaturas está a dos Moradores das Ruas do Entorno da Arena Allianz Parque, da Amesp (Associação dos Moradores e Empresários do Sumaré, Perdizes, Pompeia e Barra Funda) e do Movimento de Moradores da Água Branca.

“Liberar para 85 decibéis é uma punhalada. É um barulho meio ensurdecedor, incomoda muito os ouvidos. O apartamento e as janelas chegam a tremer. É preocupante”, diz Ademir Donizete Fabrício, que mora há 20 anos ao lado do Allianz.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Márcio Pinho

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