Caso Yoki: mais de quatro anos depois de matar e esquartejar marido, Elize Matsunaga vai a júri em SP
Advogado de defesa não descarta absolvição; promotor acredita em até 25 anos de prisão
São Paulo|Ana Ignacio, do R7
Quatro anos e meio após o empresário Marcos Matsunaga ter sido encontrado morto e esquartejado em uma área rural de Cotia, na Grande São Paulo, Elize Matsunaga, acusada pelo assassinato e ocultação do corpo do marido, vai ao banco dos réus nesta segunda-feira (28), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste da capital.
Vinte e duas testemunhas foram convocadas para depor — dez da acusação, dez da defesa — e outros dois peritos técnicos. Elize, presa em Tremembé desde junho de 2012, chegou a São Paulo logo pela manhã, por volta das 9h. Ela permanecerá na cidade até o fim do julgamento, segundo seu advogado de defesa, Luciano Santoro. O plenário do júri está reservado até sexta-feira (2) e não há previsão de quando deve sair a sentença de Elize.
Acusada de homicídio doloso triplamente qualificado (motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel), além de destruição e ocultação de cadáver, Elize pode ser condenada a 25 anos de prisão, segundo o promotor do caso, José Carlos Cosenzo. Já Santoro, advogado de defesa, quer derrubar todos os qualificadores e não descarta que ela seja absolvida (veja abaixo qual a expectativa de cada parte para o júri).
Em meio a uma grande repercussão pública, Elize confessou o crime e o esquartejamento do marido e disse ter agido sozinha — informação contestada pela acusação que acredita que ela teve ajuda para se livrar do corpo. Laudo indica que os cortes foram realizados por pessoas diferentes e foi encontrado material genético de um homem que não era Marcos no apartamento. A possibilidade de uma segunda pessoa ter ajudado na ocultação de cadáver é apurada em outro inquérito.
De acordo com as investigações, Elize suspeitava que o marido estivesse tendo um caso e contratou um detetive particular para segui-lo. Segundo a versão dela, o marido foi morto com um tiro na cabeça após uma discussão na qual ela teria sido agredida. Para o Ministério Público, no entanto, a motivação do crime não foi passional. Na avaliação do promotor, Elize teria matado por dinheiro e teria premeditado o crime.
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Veja qual é a expectativa para o júri que começa nesta segunda-feira:
Acusação: “Nada foi da forma como ela falou”
José Carlos Cosenzo, promotor do caso, falou com a imprensa dias antes do júri. Na conversa, ele disse estar convencido de que há provas técnicas suficientes para comprovar que Elize matou e esquartejou o marido de forma premeditada e que o crime não foi passional.
— Nada foi da forma como ela falou (...). De tudo aquilo que ela diz, não há nada que tecnicamente possa ser comprovado.
De acordo com as investigações, no dia 19 de maio, o casal estava no apartamento em que morava, na zona sul de São Paulo, e Marcos desceu para buscar uma pizza e foi morto após as 20h, quando foi visto pela última vez, no elevador do prédio. De acordo com Cosenzo, não é possível determinar exatamente em que momento o empresário foi morto, mas os exames dos peritos indicam que o tiro foi praticamente a queima-roupa — o disparo ocorreu a cerca de 20 cm da cabeça do empresário.
— Para a polícia, a versão mais plausível é que quando ele abriu a porta ela estava atrás e atirou. O laudo técnico deixa bem claro que não foi da forma que ela disse à polícia.
O promotor declarou ainda que entre a morte e o esquartejamento houve um “hiato”. Esse tempo entre o crime e a ocultação do cadáver deve ser explorado no júri desta segunda-feira, mas Cosenzo não deu mais detalhes sobre essa estratégia. Além disso, o promotor disse ter certeza de que Marcos ainda estava vivo quando Elize começou a esquartejá-lo.
— Cheguei a uma certeza técnica, certeza concreta, de que ele estava vivo quando começou o esquartejamento. O meio foi cruel com base na prova técnica, o que o médico legista deixa bem claro é que a causa morte foi o tiro e a asfixia e não sou eu quem inventa.
De acordo com o laudo, a causa da morte foi traumatismo crâneo encefálico por tiro associado à asfixia respiratória por sangue aspirado devido à decapitação.
“Não descarto que ela seja absolvida”
Luciano Santoro, advogado de Elize Matsunaga, falou ao R7 sobre o júri e argumenta que há provas na investigação que mostram que a versão de Elize é verdadeira. Ela sustenta que, no dia do crime, os dois tiveram uma discussão acalorada e, após levar um tapa na cara, ela pegou a arma e realizou o disparo a cerca de quase 2 metros de distância do marido.
— A defesa entende que vai ter a oportunidade de mostrar aos jurados as provas que foram produzidas nos autos que favorecem de forma plena a versão da Elize. São provas que não tiveram a mesma atenção da imprensa e por isso é necessário que elas sejam bem exploradas durante o julgamento.
Sem adiantar estratégias que serão usadas no plenário, Santoro criticou a argumentação da promotoria.
— Posso dizer que o promotor tem a sua disposição todas as provas possíveis e tem um cartão sem limites do Estado para fazer o que quiser. A única coisa que a defesa tem é a última palavra. Eu sou o último o falar. A minha estratégia vai ser conhecida no último momento.
Além disso, apesar de Elize ter confessado o crime, ele acredita que é possível impedir uma condenação.
— Quero tirar as três qualificadoras. Não descarto a possibilidade de ela ser absolvida. Tudo é possível no júri.
O caso
O empresário Marcos Matsunaga foi morto dentro do apartamento em que morava com a mulher, Elize Matsunaga, e a filha do casal, então com pouco mais de um ano, no dia 19 de maio de 2012. Alguns dias antes, Elize havia confirmado que o marido estava tendo um caso com outra mulher — ela contratou um detetive particular para segui-lo.
No dia do crime, um sábado, imagens de câmera de segurança do prédio mostram que Marcos desce para pegar uma pizza por volta das 20h. No dia seguinte, Elize é vista no elevador do prédio saindo de casa com três malas, já com o corpo do marido dentro.
Na segunda-feira (21), as primeiras partes do corpo de Marcos começaram a ser localizadas em Cotia, na Grande São Paulo.
Inicialmente, Elize tenta simular o sumiço do marido e chega a enviar e-mails para a família se passando por ele e dizendo que estava tudo bem.
Em junho, Elize confessa o assassinato e esquartejamento do marido e diz que o crime ocorreu após uma briga seguida de agressão — segundo as investigações, os dois enfrentavam problemas no casamento e brigavam com frequência. Ainda em junho, Elize foi levada para o presídio de Tremembé, onde ficou detida até a data do julgamento.