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Ciclista atropelado na Paulista: defesa de motorista diz que vítima causou acidente

Ele quer anular julgamento que condenou cliente a seis anos; David Souza teve braço arrancado

São Paulo|Do R7, com SP no Ar

Ciclista David Souza (esquerda) teve braço arrancado ao ser atropelado por carro dirigido por Alex Siwek (direita)
Ciclista David Souza (esquerda) teve braço arrancado ao ser atropelado por carro dirigido por Alex Siwek (direita) Ciclista David Souza (esquerda) teve braço arrancado ao ser atropelado por carro dirigido por Alex Siwek (direita)

A defesa do motorista que atropelou um ciclista na avenida Paulista, na região central de São Paulo, e que foi condenado pela Justiça, alega que a vítima provocou o acidente e, com isso, quer anular o julgamento. Um ano e três meses depois, a defesa de Alex Kozloff Siwek contratou uma perícia independente e tenta provar que o atropelamento não aconteceu na ciclovia, mas na terceira faixa da avenida Paulista.

Em março do ano passado, David Santos Souza estava a caminho do trabalho de bicicleta quando foi atropelado. Com o impacto, ele teve o braço direito arrancado. Siwek, o motorista acusado pelo crime, estava em alta velocidade. Ele fugiu sem prestar socorro e jogou o braço da vítima em um riacho. A família da vítima pediu indenização ao atropelador.

O condutor chegou a ser preso, mas só ficou 11 dias na cadeia. Ele foi acusado por quatro crimes: lesão corporal gravíssima, omissão de socorro, fraude processual e embriaguez ao voltante. O advogado de defesa, Cassio Paoletti, conseguiu livra Siwek da acusação da fraude processual — por não ter permanecido no local do acidente.

— Isso afronta a constituição que te permite, te dá o direito de não produzir provas contra si. Então foi julgado inconstituicional esse artigo e evidentemente trancada a ação penal quanto a isso.

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O advogado também apresentou novos laudos periciais que tentam explicar, por outro ângulo, o que pode ter acontecido. Um perido particular contratado pela família de Siwek produziu documentos, vídeos e simulações para explicar o acidente.

O momento exato do acidente não foi registrado por nenhuma câmera de segurança. Na época, o laudo do IC (Instituto de Criminalistica) se baseou nas manchas de sangue que ficaram no asfalto e nos depoimentos do motorista, do ciclista e de algumas testemunhas.

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Segundo a primeira versão apresentada pelos peritos da polícia, no dia do acidente, o ciclista usava a ciclovia, mas pedalava na contramão porque se sentia mais seguro com a proteção dos cones. Siwek dirigia o carro no sentido contrário em alta velocidade. Ele teria derrubado os cones de proteção e atingido Souza dentro da ciclovia.

Na época, o depoimento de uma testemunha foi muito importante para a investigação. Paulo Henrique Salvattore viu tudo o que aconteceu. Ele dirigia um Celta preto que vinha logo atrás do carro de Siwek, minutos antes do atropelamento.

— Foi um susto, a hora que passou por mim em alta velocidade já na faixa do ciclista, cortando a minha frente, isso tudo em alta velocidade. Ele estava alterado sem dúvida nenhuma. Sair fazendo ziguezague, estourando cone na pista, você tem que estar com efeito de alguma coisa, uma pessoa normal não faz esse tipo de coisa.

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A nova versão apresentada pela defesa de Siwek questiona o laudo policial e se baseia em um dossiê técnico do acidente de trânsito com fotos, cálculos e gráficos. A pedido da família, um perito analisou as únicas imagens do dia do atropelamento, registradas pelas câmeras da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). O perito chegou a conclusão que o ciclista não foi atropelado na ciclovia e sim na pista central da avenida Paulista. Ele usou as imagens da CET e computação gráfica para simular o que teria acontecido fora do alcance das câmeras.

De acordo com essa nova versão é o Celta, e não o carro de Siwek, que atropela os cones da ciclovia. O ciclista, que vem no sentido contrário, se assusta e passa para a faixa central. Nesse momento, ele é atropelado pelo veículo de Siwek.

Para a defesa, foi o Celta preto, dirigido por Paulo Henrique Salvattore — a testemunha de acusação — que derrubou os cones da ciclofaixa, o que teria provocado o acidente.

— O Celta preto consta como envolvido no acidente, está neste campo do boletim de ocorrência. Estranhamente não foi periciado, estranhamente foi liberado e o próprio condutor dele diz que um cone ficou preso embaixo da sua carroceria.

O advogado de Siwek acredita que foi o ciclista quem causou o acidente. Segundo o novo laudo, o fato de David ter perdido o braço direito reforça a tese de que ele estaria fora da ciclovia. 

— Se o senhor me perguntar se eu andaria de bicicleta às cinco e pouco da manhã, na avenida paulista, na contra mao..eu lhe diria que eu pensaria algumas vezes antes de fazê-lo. A ciclovia não estava implantada e nao é permitido também andar na ciclovia na contramão mesmo quando ela está implantada. 

O advogado do ciclista, Ademar Gomes, ficou revoltado com o laudo produzido pela defesa do motorista. Ele contesta a nova versão. 

— Mesmo se ficar provado que David estivesse na contramão, então ele tem o direito de jogar o braço no rio? Quer dizer, é uma brincadeira, por favor! É vergonhosa essa tese!

A reportagem entrou em contato com Paulo Henrique Salvatore, o motorista que dirigia o carro preto. Ele preferiu não gravar entrevista mas reafirmou o que havia dito na época. Que o carro dele não invadiu a ciclovia e que o principal responsável pelo atropelamento foi o estudante Alex Korloff Siwek.

A nova versão da defesa de Alex Siwek também não convenceu o MP (Ministério Público) nem o juiz que decretou a sentença de condenação dele no ínício deste mês. O motorista foi condenado a seis anos de prisão em regime semi-aberto. Ele também teve a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) suspensa por cinco anos e vai pagar ao Estado uma multa no valor de R$ 43 mil.

A defesa do motorista vai recorrer da decisão judicial. 

— Eu não concordo com os termos da sentença porque lastreada na pretenção do Ministério Público que sequer comentou a prova técnica que nós apresentamos. Em casos de acidente de trânsito, a prova técnica é fundamental.

O advogado do ciclista também pretende recorrer da setença. Segundo Ademar Gomes, a perda de Souza é irreparável e, por isso, ele deveria receber uma indenização.

Davia Santos Souza ganhou uma prótese e hoje ele está com 22 anos. Ele faz curso técnico de administração e trabalha como estagiário. 

Assista ao vídeo:

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