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Com Cantareira em 50%, Sabesp não vê risco de falta de água em SP

Especialistas destacam integração entre sistemas e afirmam que não há motivos para preocupação com crise hídrica como em 2013

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Mesmo com Cantareira em 50% da capacidade, Sabesp não vê risco de falta de água em SP
Mesmo com Cantareira em 50% da capacidade, Sabesp não vê risco de falta de água em SP

O Sistema Cantareira opera em março com a metade da capacidade máxima. Nesta quarta-feira (10) estava com 50,8% do total. No último dia 3, o nível era de 48,6%, sendo que em 2013, ano do início da crise hídrica, o índice na mesma data era de 57%. Apesar de acender o alerta, especialistas garantem que não vai faltar água na região metropolitana de São Paulo e descartam um racionamento.

"Não estamos em alerta em São Paulo. Nós tivemos um inverno seco em 2020 e chuvas abaixo da média em fevereiro. Numa situação anterior à crise hídrica, poderíamos estar preocupados, mas fizemos um conjunto de obras que mudaram o papel do Cantareira. Hoje o Alto Tietê e o Guarapiranga podem atender a demanda do Cantareira. Há integração dos sistemas e podemos jogar com isso", afirma o diretor-presidente da Sabesp, Benedito Braga.

Hoje o sistema produtor Cantareira responde pelo abastecimento de 7,29 milhões de habitantes. Antes da crise hídrica, atendia 9,2 milhões de pessoas. Ele armazena aproximadamente 1,2 trilhão de litros de água, sendo 982 bilhões de litros acima do nível das comportas (volume útil) e o restante está abaixo das comportas (reserva técnica).

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A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) abastece 21 milhões de pessoas na região metropolitana. São sete os sistemas produtores de água, que dispõem de 20 represas. A reservação, nesta quarta, estava no Alto Tietê (62,1%), Guarapiranga (75%), Cotia (80,8%), Rio Grande (88,7%), Rio Claro (51,7%) e São Lourenço (67,1%). Somados, o volume total armazenado é de 59,4% da capacidade total. 


Para equilibrar o sistema Cantareira, o maior e o que está com a menor reserva de água no momento, são feitas transferências, de forma rotineira, entre os sistemas para abastecer diferentes regiões.

Entre as obras realizadas estão a interligação Jaguari-Atibainha, que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira, com a transferência de 5 mil litros por segundo. Também está em operação o sistema São Lourenço. Juntos, segundo a Sabesp, agregaram 445 bilhões de litros de água para a região metropolitana de São Paulo.


De acordo com Benedito Braga, não há, no momento, motivo para preocupação com um possível desabastecimento. "Não estamos trabalhando com esse cenário, nada de usar volume morto, mas não dá para falar que a população não vai ter que economizar água. Mas fazemos simulações com uma seca igual a que tivemos em 2014 e, ainda assim, o sistema resiste", garante.

Para o professor de recursos hídricos e saneamento do Mackenzie e da FESP, Antônio Eduardo Giansante, a situação hoje é mais confortável do que em 2013. "O setor teve as lições aprendidas e investiu na integração dos sistemas que produzem água, o que aumenta a resiliência e traz mais segurança".


No entanto, isso não significa que o risco é zero. "Ações foram suficientemente importantes para reduzir os riscos, mas a população não pode desperdiçar água. Estamos numa posição mais tranquila, mas riscos sempre vão ter. A região metropolitana de São Paulo está numa região de baixa produção de água natural e tem rios pequenos, por isso tem que buscar água longe e o custo é caro", explica o professor.

Marca na coluna mostra o quanto a água já desceu recentemente no sistema Cantareira
Marca na coluna mostra o quanto a água já desceu recentemente no sistema Cantareira

Números

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), cada pessoa necessita de 3,3 mil litros de água por mês ou cerca de 110 litros de água por dia para atender às necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/dia. Um pouco mais da metade da água é gasta no banheiro, em banhos, descargas ou outras utilizações. 

Segundo o diretor-presidente da Sabesp, a crise hídrica alterou o comportamento dos paulistanos. "A população da região metropolitana consumia 72 mil litros de água por segundo e hoje tá, em média, 64 mil litros por segundo. As pessoas têm um comportamento parcimonioso do uso da água. Mas devem economizar", ressalta.

A pandemia do novo coronavírus fez com que os moradores passassem mais tempo em casa e houve uma mudança no perfil de consumo: com um aumento de cerca de 5% do uso de água em residências, em função do teletrabalho, crianças em ensino remoto e o isolamento social, no lugar do consumo comercial. Ainda assim, segundo o presidente da Sabesp, isso não impacta nos riscos de desabastecimento.

O consumo de água também muda se compararmos São Paulo com o Brasil. Isto porque 87% é para abastecimento urbano e 12,4% para indústria. Enquanto no país, 66,4% da água é para irrigação, 11,5% para criação de animais, 9,5% para indústria e 8,7% para abastecimento urbano. 

Sem caixa d'água, Adriana estoca água em galões para higiene da casa e dos banheiros
Sem caixa d'água, Adriana estoca água em galões para higiene da casa e dos banheiros

Desabastecimento

Adriana Regina do Nascimento mora no Jardim Camargo, extremo leste da capital paulista, em uma casa com o marido e três filhos, um deles é autista. Com o agravamento da situação financeira, ela chegou a ter a luz cortada e fez um acordo com a Sabesp para pagar as parcelas em atraso. O montante que resta ainda é alto.

A família não tem caixa d'água e não há espaço físico ou orçamento para este tipo de instalação no imóvel, num terreno cedido, dividido com outras três famílias. Adriana revela que o corte no abastecimento de água na região é diário. "As dificuldades existem e a água tento economizar. Minha rotina é todos os dias encher seis galões de cinco litros e umas quatro garrafas pet e vou controlando. Por volta de 21h, a Sabesp corta a água e depois só volta 5 ou 6h da manhã", conta.

O armazenamento é essencial para manter a higiene dos banheiros, lavar louça e as mãos, ainda mais com os filhos em casa por causa da pandemia. "Fico paranóica. Se chove, cortam antes a água. Não posso ficar sem. Meu marido é o que mais sofre, às vezes sai sem tomar banho porque a água não voltou e, quando volta, vem com muita força e pressão. Até assusta o meu menor", diz Adriana.

Não só ela sofre com a situação. Mas quem tem caixa d'água consegue lidar melhor com os transtornos. O corte no fornecimento foi confirmado por ao menos três vizinhas. Elas revelaram que, a partir das 20h, já não podem mais contar com o abastecimento e têm de estar de banho tomado. Com crianças e idosos, fica ainda mais complicado.

"Venho sofrendo com os valores abusivos da água, de R$ 300 a 320, muito altos pra mim, e tenho cinco filhos e não tô trabalhando no momento. Sem falar que sempre acaba. Tenho caixa, mas quando não tinha, com essas crianças, era muito ruim", revela Luciene dos Santos Silva, moradora do Itaim Paulista.

O professor Giansante explicou que esta é uma manobra, que afeta mais os locais altos da cidade. "Tem que colocar energia para a água subir e, em horários de baixo consumo, como à noite, reduz-se a pressão na rede. O ideal é que todos tenham caixa d'água. Mas é preciso apoiar essa população de baixa renda a conseguir uma para contornar a situação".

Benedito Braga garante que não há corte de água e faz uma analogia com o transporte público. "À noite, a demanda cai e passam menos ônibus. Com a água é a mesma coisa. Para evitar arrombamentos e perdas de água, todas as cidades reduzem a pressão e pode haver situações em que a pressão não é suficiente para chegar água a todos. Por isso existe uma norma técnica que obriga a ter caixa d'água nas casas. Este é um problema social e não da Sabesp".

No Brasil, a perda de água tratada seja por vazamento ou por roubo e desvios é de cerca de 20%.

Chuvas e prevenção

Segundo as previsões climatológicas, as chuvas dos próximos meses devem ficar abaixo da média. Mas o mês de março ainda pode contribuir para a recuperação dos reservatórios. O armazenamento é importante para enfrentar o período de estiagem que se aproxima.

"A existência da vegetação é essencial para aumentar a infiltração de água da chuva no manancial. As raízes tornam o solo mais fofo e a água entra nos buraquinhos como se fosse uma esponja. Assim o solo alimenta o rio com água mesmo sem estar chovendo", detalha Antônio Giansante.

A Sabesp promete ainda para este ano a conclusão de uma obra que vai captar água do rio Itapanhaú, que segue o percurso desde Bertioga, no litoral, até Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A expectativa é captar mais 2 mil litros de água por segundo.

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