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Complexo Cultural Luz: para arquitetos brasileiros, governo jamais pagaria R$ 49 mi por projeto nacional

Tribunal de Contas analisa se houve irregularidades na contratação de escritório suíço

São Paulo|Fernando Mellis, do R7

Para erguer edifício, São Paulo agora vai buscar investimentos da iniciativa privada
Para erguer edifício, São Paulo agora vai buscar investimentos da iniciativa privada Para erguer edifício, São Paulo agora vai buscar investimentos da iniciativa privada

Aposta do governo de São Paulo para revitalizar a região da Luz, no centro da capital, o complexo cultural com 85 mil m² de área construída já custou — apenas pelo projeto arquitetônico — cerca de R$ 49 milhões aos cofres do Estado e ainda nem saiu do papel. O valor pago ao escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron, com dispensa de licitação, jamais seria desembolsado pelo poder público de SP a arquitetos brasileiros, segundo profissionais da área ouvidos pelo R7.

Além do alto custo do projeto, existe outro problema: a incerteza da disponibilidade de dinheiro para as obras. No último dia 17, a Secretaria de Estado da Cultura pediu à Companhia Paulista de Desenvolvimento que elabore estudos técnicos e um modelo de PPP (parceria público-privado). Com isso, o Estado quer que empresas invistam na construção do complexo cultural.

O arquiteto Gilberto Belleza, ex-presidente e conselheiro do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), defende que projetos como esse deveriam ser escolhidos por meio de concursos.

— O governo não paga esses valores quando ele contrata um arquiteto brasileiro. Não estou dizendo que ele [escritório] cobrou caro, estou dizendo que o governo deveria pagar escritórios brasileiros da mesma maneira que ele pagou o Herzog & de Meuron. Eles são muito competentes, merecem esses honorários, mas os brasileiros também são e não são pagos dessa maneira.

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Veja imagens do projeto do Complexo Cultural

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Ciro Pirondi, arquiteto e diretor da Escola da Cidade, avalia de outra forma a dispensa da licitação, que é uma modalidade prevista em lei.

— É claro que nós sempre somos favoráveis que as obras públicas, em linha geral, sejam obras de concursos públicos. Mas, ao mesmo tempo, não precisamos ter a radicalidade de que nós não podemos convidar ou ter alguns arquitetos de fora, de reconhecido trabalho, fazendo uma obra que até engrandece a nossa cidade. Muitos arquitetos brasileiros renomados também realizam obras fora do Brasil.

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Apesar disso, Pirondi também concorda que o valor pago pelo Estado está fora da realidade do mercado brasileiro.

— Isso [o preço] eu acho que realmente foi fora de propósito. Eles [arquitetos] receberam como se estivessem na Suíça. Eu diria a você que [o valor pago] chegaria a um terço disso se fosse a um escritório do Brasil. Não estou culpando os arquitetos. Foi o poder público que aceitou pagar.

A Secretaria de Estado da Cultura afirma que a escolha do escritório “foi resultado de avaliação e análise da própria secretaria, a partir da necessidade posta: um projeto de grande porte e altíssima qualidade técnica, em virtude das especificidades do prédio – espaços com usos diferenciados e teatros especializados nas linguagens ópera, dança e música”.

O escritório Herzog & de Meuron já assinou projetos famosos como o estádio Nacional de Pequim, conhecido como Ninho de Pássaro, a galeria Tate Modern, em Londres, e o novo prédio do Pérez Art Museum Miami, inaugurado em dezembro do ano passado.

Contrato

Quando assinado, em maio de 2010, pelo então secretário da Cultura João Sayad, o valor do contrato com o escritório suíço era de R$ 30,7 milhões. No entanto, a pasta informou ao R7 que “o valor liquidado desse contrato é de R$ 49 milhões, o que corresponde à atualização em função do câmbio, já que se tratou de uma contratação internacional”. A secretaria ainda acrescentou que “valor contratado foi o de mercado para um projeto com aquelas especificidades técnicas e dimensões”.

O professor da Fundação Getulio Vargas Gustavo Fernandes, especialista em gestão pública e também assessor econômico do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo), explica que todos contratos como esse passam pelo TCE. Na opinião dele, a inexigibilidade da licitação em projetos desse tipo é a melhor forma, mas precisam ser observados os preços praticados.

— O procedimento em si está correto. O que a gente não sabe é se os valores estão, o que está por trás disso. Atrás da contratação de inexigibilidade você tem vários detalhes, os preços, os prazos, se tudo está de acordo com o valor de mercado.

O Tribunal de Contas de São Paulo informou que ainda não há data para que o caso seja julgado.

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