Confronto entre polícias, tiroteio e R$ 15 mi: o que se sabe até agora
Policiais de São Paulo e Minas Gerais entraram em confronto em Juiz de Fora na sexta-feria (19) após suposta transação financeira ilegal
São Paulo|Plínio Aguiar, do R7
Um encontro para uma transação comercial entre dois empresários realizado na sexta-feira (19) em Juiz de Fora, cidade mineira com pouco mais de 500 mil habitantes, está cercada de mistério e terminou com um tiroteio que deixou um policial civil de Minas Gerais morto e R$ 15 milhões em notas falsas apreendidas.
Além da morte do policial mineiro Rodrigo Francisco, 39, duas pessoas ficaram feridas. Um empresário e quatro policiais de São Paulo foram presos. O dono de uma empresa de segurança teve prisão preventiva decretada, mas está internado em estado grave. Outros quatro policiais de São Paulo também estão envolvidos no caso, mas respondem ao inquérito em liberdade.
O que o empresário paulista foi fazer em Juiz de Fora?
Inicialmente a informação era de que o empresário paulista Flávio de Souza Guimarães teria ido para Juiz de Fora (MG) trocar ilegalmente uma quantia desconhecida em dólares por reais com o comerciante Antônio Vilela.
Entretanto, em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, ele negou a versão e afirmou que na verdade o objetivo do encontro seria pegar um empréstimo de cerca de R$ 8 milhões. Ele afirma que ofereceria imóveis na cidade de São Paulo como garantia de pagamento.
"A grave situação econômica que persiste no país fez com que a empresa de Flávio optasse por outras alternativas financeiras, a fim de estancar a sangria que a companhia sofria", registrou o escrivão no depoimento do empresário paulista.
Como os policiais civis paulistas entram na história?
No mesmo depoimento, o empresário paulista afirma ter contratado Jerônimo da Silva Leal Júnior, que é dono de uma empresa de segurança e vigilância em São Paulo, para fazer uma escolta até a cidade mineira. O objetivo seria garantir a segurança do transporte do dinheiro que ele iria receber.
O empresário teria pago R$ 30 mil pelo serviço de escolta para a empresa de segurança. Jerônimo, dono da empresa, teria pedido ao seu irmão, que é investigador da Policia Civil de São Paulo, que indicasse policiais para fazer o serviço. Sete policiais civis, além do irmão, aceitaram o "bico" e teriam recebido R$ 2.000 cada um. Entre eles, dois delegados e dois investigadores.
Parte desses policiais foi para Juiz de Fora em um carro alugado e um outro grupo acompanhou o empresário paulista em um avião fretado até o aeroporto da cidade mineira.
O encontro e a negociação
Ainda segundo o depoimento de Guimarães, a negociação entre ele e Antônio Vilela estava marcada para ocorrer no lobby de um hotel na cidade. Ele afirma que esse encontro aconteceu, mas sem o dinheiro. Vilela teria pedido a ele 40 minutos para buscar o dinheiro, mas passou-se quase duas horas quando se encontraram novamente.
O empresário paulista diz que dispensou parte da sua equipe de segurança. Porém, antes de a equipe ir embora, um dos negociadores mineiros informou que precisava buscar a chave do escritório, local que seria palco da finalização da negociação, e que o objeto estaria no carro, no estacionamento.
Golpe e tiroteio
Após o encontro, todos se dirigiram até o estacionamento, sendo que o empresário teria sido puxado enquanto entrava no elevador. Guimarães afirma que Vilela apresentou o dinheiro que estava em duas malas dentro do porta-malas de um carro, o que, segundo a defesa, não era o combinado. Na ocasião, um dos seguranças do empresário paulista fez um sinal para ele deixar o local, pois teria identificado que o dinheiro era falso.
Depois da saída de Guimarães do estacionamento, não se tem informações precisas de como se deu o tiroteio. Após a troca de tiros, a polícia mineira teria encontrado no carro de Vilela as duas malas com cerca de R$ 15 milhões de reais, a maior parte em notas falsas. Segundo versão dos policiais mineiros, eles receberam uma denúncia de pessoas portando de arma de fogo no estacionamento e teriam ido investigar.
No entanto, a versão dos policiais paulistas é a de que o os agentes de Minas Gerais estariam escoltando Vilela.
Apreensões, prisões e autuações
Após a desastrada e misteriosa negociação, quatro policiais de São Paulo foram presos e autuados por lavagem de dinheiro. Eles estão na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande Belo Horizonte. Os outros quatro policiais foram liberados. O dono da empresa de segurança Jerônimo Junior está internado em estado grave no Hospital Monte Sinai. E o empresário Flávio Guimarães está respondendo em liberdade.
Os quatro policiais civis mineiros que conduziram o ínicio da ocorrência foram autuados por prevaricação (quando um funcionário público deixa de exercer sua função devidamente), mas ninguém foi preso até o momento.
O empresário Antônio Vilela foi preso por tentativa de estelionato. Vilela já havia sido preso pela Policia Civil paulista na cidade de São Roque, no interior de São Paulo. Na época, ele foi flagrado tentando aplicar um golpe semelhante, onde trocaria reais falsos em duas malas por dólares de uma vítima.
Foram apreendidos também os cerca de R$ 15 milhões em notas falsas, celulares, munições, dois veículos e armas.
Outro lado
Procurado pela reportagem do R7, a defesa de Flávio Guimarães afirmou que "acompanha a conclusão das apurações sigilosas das Corregedorias das Polícias Civis de São Paulo e Minas Gerais e permanece colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos."
Já o advogado de Jerônimo Júnior entou nesta quarta-feira (24) com pedido de habeas corpus na 4ª Câmara Criminal do TJ-MG (Tirbunal de Justiça de Minas Gerais). O advogado do comerciante Antônio Vilela não retornou às ligações e aos recados da reportagem até a publicação desta reportagem.
O Ministério Público de Minas Gerais destacou uma equipe para acompanhar as investigações. O Ouvidor das Polícias de São Paulo, Benedito Mariano, pediu que a Polícia Federal investigasse o caso.