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Criança com paralisia espera há oito meses por cirurgia em SP

Menina de 6 anos tem luxação grave no quadril, sofre com fortes dores e interrompeu fisioterapia para aprender a andar

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

Família conseguiu liminar favorável na Justiça para obrigar hospital a realizar cirurgia
Família conseguiu liminar favorável na Justiça para obrigar hospital a realizar cirurgia

Com uma grave luxação no lado esquerdo do quadril decorrente da paralisia cerebral, a menina Maria Cecíllia Santos Kuwashima de Freitas, de 6 anos, aguarda desde agosto de 2021 por uma cirurgia de emergência no Hospital São Paulo, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A unidade passa por sérios problemas financeiros e recebeu recentemente um repasse de emergência de R$ 58 milhões do Governo de São Paulo. 

"O fêmur dela está totalmente desprendido da bacia, do quadril. Ela sente muita, muita dor. A perna dela tem uma diferença tremenda [de altura]. Ela não pode mais fazer fisioterapia por causa disso, até fazer a cirurgia para pôr o osso no lugar", conta a mãe da criança, Rita de Cássia Aparecida dos Santos.

"Isso está comprometendo o fato de ela futuramente vir a andar. Porque ela faz terapia para isso. Porque o osso está há muito tempo fora do lugar. O médico até cogitou a hipótese de — quando eles fizerem a cirurgia — o tamanho da perna em si não ficar 100% com a perna que está boa, por causa da demora." 

Ao R7, o Hospital São Paulo afirmou que a criança nunca esteve na fila de cirurgia da instituição, apesar dos diversos documentos que mostram exames feitos no local e a inclusão da criança na espera (veja abaixo). 


A família ganhou na terça-feira passada (26) uma liminar favorável na Justiça contra o Estado de São Paulo, que obriga o SUS (Sistema Único de Saúde) a realizar a cirurgia de emergência em hospital público ou particular conveniado. Na decisão, a juíza Janaina Machado Conceição estipulou uma multa diária de R$ 500 enquanto não houver a intervenção.

"A autora logrou apresentar laudo médico que atesta a necessidade da realização da cirurgia, tendo em vista o diagnóstico de luxação de quadril e encefalopatia cerebral, que causa sofrimento extremo à autora, em tenra idade", escreveu a juíza.


A ação tem base na Constituição Federal%2C que assegura o direito à vida%2C à saúde%2C em busca da dignidade da pessoa humana. A fundamentação essencial é que um dever do Estado

(José Beraldo, advogado da família)

Exame de raios X mostra o desnível no quadril da criança
Exame de raios X mostra o desnível no quadril da criança

A luxação no quadril de Maria surgiu no fim de 2020, por conta de uma hipertonia (rigidez muscular extrema) causada na região pela paralisia cerebral. A família tenta desde então justificar uma cirurgia de emergência, processo que foi atrapalhado pela pandemia de Covid-19.

Finalmente, em agosto do ano passado, a mãe afirma ter conseguido comprovar a condição de emergência e colocado a menina na fila por cirurgia com laudos da luxação grave no quadril. Mesmo depois da decisão judicial, Rita conta que não recebeu nenhuma resposta do hospital.


Outro lado

O Hospital São Paulo informou que a criança foi encaminhada à ortopedia depois de uma consulta com cardiologista. No entanto, afirmou a instituição, as vagas do ambulatório são colocadas para agendamento na regulação, via Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), já que não há entrada direta nesses locais com fila cirúrgica.

"Neste caso, a paciente não está registrada em fila de cirurgia, deve ser referenciada para serviços com oferta de vagas em ortopedia pediátrica, para que a equipe médica especializada possa realizar os procedimentos necessários na paciente", completou. 

A família nega a informação e diz que preencheu completamente o formulário para colocar a criança na lista de espera de cirurgia no dia 17 de agosto de 2021. O R7 teve acesso ao documento, que está carimbado e assinado por uma médica ortopedista da instituição. 

Em colapso, a unidade de saúde recebeu na semana passada um repasse extra de R$ 58 milhões do governo estadual. Desse valor, R$ 50 milhões serão destinados ao custeio da unidade e os outros R$ 8 milhões para a reforma do pronto-socorro.

A gestão Garcia culpa a falta de investimento do governo federal pela crise do hospital, que corria o risco de fechar as portas sem o novo repasse. Em fevereiro deste ano, funcionários fizeram um ato na frente do local contra a demissão de mais de 150 profissionais

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