Criança é barrada em shopping de SP por estar malvestida, diz família
Menino de 11 anos queria comprar chinelo enquanto mãe aguardava na porta
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Um menino negro de 11 anos foi retirado do Parque Shopping Maia, em Guarulhos, na Grande São Paulo, por seguranças do local, no início da tarde da última terça-feira (12), por supostamente estar malvestido. A ação foi gravada por uma câmera de celular e postada na rede social Facebook.
A manicure Rosangela da Silva, 26, mãe do menino, acredita que a criança foi barrada do estabelecimento porque vestia uma bermuda e um chinelo simples, que fugiam do padrão dos frequentadores do local.
Após o menino ser retirado, uma mulher que seria funcionária de uma loja do shopping começou a gravar a ação dos seguranças. O vídeo viralizou nas redes sociais e já teve mais de 1,5 milhão de visualizações no Facebook.
Segundo Rosangela, ela foi com os três filhos (além do menino, uma criança de 5 anos e um bebê de 10 meses) a um banco e ao supermercado próximo do shopping para ver se tinha um chinelo desejado pelo menino.
Como no mercado não havia o calçado, Rosangela disse para o menino perguntar a um segurança do shopping se alguma loja estaria vendendo. O garoto disse que o chinelo era vendido em lojas nos andares superiores do shopping e pediu para a mãe ir comprar. Cansada, Rosangela disse que era para o menino subir com o cartão de débito para comprar o chinelo enquanto ela o aguardava com as outras duas crianças na porta do shopping.
Instantes depois, a mãe viu o menino saindo chorando do local, sendo direcionado por um segurança. “Quando ele falou ‘mãe, não me deixaram entrar’, eu entrei em desespero, porque é meu filho. Eu queria entender o motivo de ele não poder mais entrar.”
Rosangela e o menino disseram que o segurança viu que a mãe estava do lado de fora do shopping, mas mesmo assim não o deixou entrar. “Vários meninos vão lá e eles [seguranças] só dizem que não pode entrar, sem especificar que precisa de ter adulto, nem nada.”
Só compra com responsável
Depois da confusão com o segurança do shopping, a mulher que fez a filmagem teria levado o menino à loja para, finalmente, o garoto comprar o chinelo.
No entanto, novamente o menino foi barrado. Segundo Rosangela, o gerente do estabelecimento disse que não venderia o chinelo para o menino. Após nova confusão, uma tia do garoto chegou e questionou a atitude da loja.
Com a tia do menino no local, a loja vendeu e justificou a atitude dizendo que não poderia vender para uma criança, mesmo ele estando acompanhado de um adulto.
A compra foi feita pela tia do garoto, que também não era titular do cartão. O pagamento de R$ 89,99 pelo chinelo foi efetuado às 16h41, mais de duas horas e 30 minutos depois do horário da ocorrência, de acordo com o registro na Polícia Civil.
A avó do garoto, Maria Josefa, 54 anos, estranhou os funcionários da loja terem impedido o neto de comprar o chinelo. “Ele sempre vai pagar as contas para gente, compra as coisas e nunca disseram nada. Agora que ia comprar uma coisinha para ele aconteceu isso”.
Dois BOs — um antes e outro depois da TV
Na manhã desta terça-feira (13), Rosangela foi com a irmã e o menino ao 2º DP de Guarulhos para registrar um Boletim de Ocorrência. Segundo ela, ao chegar no local, foi desestimulada pelos policiais civis que teriam dito que não viam crime no caso.
Ela afirma que, após a família insistir, os policiais registraram o boletim. O caso foi registrado às 10h03, com a natureza “outros não criminal”.
Logo depois de o boletim ser registrado, uma equipe de reportagem da Record TV chegou à delegacia para apurar o caso. Depois da chegada dos jornalistas, Rosangela afirma que os policiais civis aceitaram fazer novo registro de ocorrência.
Um novo Boletim de Ocorrência, este emitido às 13h28, registrou como natureza “injúria”, que é o artigo 140 do Código Penal, tendo como pena a detenção de um a seis meses ou multa.
Outro lado
O R7 esteve no 2º DP de Guarulhos e conversou com o delegado Walter Cardone Filho, que registrou os boletins da ocorrência. Segundo ele, o caso está sendo investigado e ainda pode passar para o crime de racismo (com penas de reclusão de um a três anos e multa), apesar de não acreditar que tenha sido.
A reportagem também procurou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) para saber porque, a princípio, o caso foi registrado como “outros não criminal” e, após a presença da reportagem, alterado para natureza “injúria”. Até a publicação desta reportagem, no entanto, a pasta não retornou. A resposta será publicada assim que enviada.
A assessoria de imprensa do Parque Shopping Maia, disse à reportagem que “o único posicionamento que pode passar é que o Shopping Maia é contra qualquer tipo de discriminação e ainda está apurando os fatos”.
O R7 não encontrou nenhum contato do loja que não quis vender o chinelo ao menino além das redes sociais. Pelo Facebook, a reportagem questionou a loja sobre os fatos às 17h24. A página oficial da loja visualizou a solicitação às 17h40, mas ainda não retornou o contato. Assim que houver o posicionamento, será publicado nesta reportagem.