Delegado é proibido de acompanhar exame de piloto morto em SP
No DP, policial civil disse que médico legista impediu que ele acompanhasse o exame necroscópico. SSP disse que caso foi encaminhado para Corregedoria
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Um delegado da Polícia Civil foi à delegacia registrar um boletim de ocorrência contra o médico legista responsável pelo exame necroscópico do piloto Antônio Carlos Traversi, morto no acidente de avião no Campo de Marte (zona norte de São Paulo), na noite do último domingo (29).
De acordo com as informações registradas no 13º DP (Casa Verde), o delegado responsável pela apuração do caso foi até a sala de exame, se apresentou como delegado e pediu para acompanhar o procedimento.
O médico legista teria começado a fazer uma série de questionamentos, para que o delegado desistisse de acompanhar o exame.
Segundo o delegado, depois de responder diversas vezes que estava acostumado acompanhar aquele tipo de exame e queria ver o procedimento, o legista teria mudado o tom de fala e dito que não queria que o delegado acompanhasse o processo.
O delegado teria dito que, por ser o responsável pela investigação do caso, tinha o direito de acompanhar o exame. O legista, segundo o policial, retrucou dizendo que era o médico que mandava no local e que o delegado não poderia acompanhar o procedimento.
Segundo Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o delegado é o presidente da investigação e tudo que acontece na apuração deve estar sob o controle dele, portanto, o médico legista é subordinado. No entanto, o professor destaca que "faltou bom senso" entre as duas partes para que fosse feito o melhor para apuração do fato.
Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de São Paulo, "o fato de o delegado acompanhar a realização de exame pericial não retira a independência do perito quanto ao teor do laudo".
A delegada ainda afirma que, além do médico legista ter desrespeitado o cargo do delegado, "demonstrou profundo menosprezo pela investigação, a qual é presidida pelo delegado e necessita de inúmeros elementos para alcançar uma conclusão justa".
De acordo com o registro na DP, com base no depoimento do delegado, a Corregedoria da Polícia foi acionada e informada sobre o caso. O delegado disse que o médico legista estava desrespeitando a hierarquia.
Procurada pela reportagem, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) disse que “não procede a informação de desentendimento entre o delegado que atendeu o caso e o médico legista, o que aconteceu foi uma divergência de opiniões”.
A pasta ainda afirmou que uma cópia do boletim de ocorrência foi encaminhada para Corregedoria da Polícia Civil, que deve apurar a conduta do delegado e do médico legista. A SSP ainda disse que, apesar do caso, não houve demora para a liberação do corpo do piloto.
“A equipe de perícia liberou o local às 21h50, o corpo da vítima chegou ao IML Central às 23h e liberado para família às 3h da madrugada, desta segunda-feira (31)”, disse a secretaria.