Doenças respiratórias lotam leitos pediátricos e chegam até a fechar Pronto Socorro em São Paulo
Unidades médicas da rede pública recorreram à central de regulação do estado por falta de capacidade para receber pacientes
São Paulo|Do R7
Hospitais da capital e do interior de São Paulo estão com enfermarias infantis e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) lotadas por causa de um novo aumento nos casos de doenças respiratórias, inclusive a Covid-19. Alguns centros médicos da rede pública já recorreram à central de regulação do estado devido à falta de capacidade para receber novos pacientes. A chegada do inverno e o retorno às aulas presenciais depois da pandemia agravam o quadro. Há também falta de medicamentos nas farmácias.
Na capital paulista, a taxa de ocupação de leitos pediátricos se manteve em torno de 90% ao longo da semana passada. A prefeitura, por meio da SMS (Secretaria da Saúde), informou que dispõe de 372 leitos de enfermaria pediátrica e 131 de UTI para esse público nos hospitais municipais.
Na sexta-feira (24), segundo a pasta, 347 leitos de enfermaria pediátrica estavam ocupados, índice de 94%. Já as UTIs pediátricas estavam com 111 ocupações, representando 85%.
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A SMS informou que o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, referência no atendimento 24h de crianças e adolescentes, apresentava taxa de ocupação da UTI pediátrica de 90%. "A SMS esclarece que a taxa de ocupação é dinâmica e pode variar ao longo do dia. Com a chegada das baixas temperaturas do inverno, é esperado aumento nos atendimentos e internações por doenças respiratórias, principalmente por vírus sincicial respiratório e o da Covid-19. A rede municipal está preparada para atender a população."
Desde abril, o HU (Hospital Universitário) da USP (Universidade de São Paulo) está com as alas pediátricas lotadas. Segundo informou, as UTIs têm pacientes menores de 1 ano com quadro grave de insuficiência respiratória. Na quarta-feira, o HU precisou fechar o pronto-socorro infantil por seis horas por causa da superlotação de pacientes com problemas respiratórios. O atendimento só foi retomado depois da transferência de crianças para outros hospitais.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o principal motivo das internações são os vírus que causam doenças respiratórias como resfriado, bronquite e até pneumonia. Os casos costumam aumentar nesta época do ano, entre o fim do outono e a chegada do inverno. Conforme a pasta estadual, a demanda alta exige monitoramento permanente do cenário epidemiológico com base em indicadores, principalmente os de internação, que são avaliados em tempo real.
"Além de fortalecer os serviços de saúde estaduais para atender pacientes com Covid-19 e outras patologias, a pasta mantém diálogo com gestores regionais para análises técnicas e definição das estratégias assistenciais. Vale lembrar que, neste período, com a chegada do inverno, é comum o aumento dos sintomas gripais, que causam doenças sazonais e maior procura pelos serviços", informou.
Rede privada
Hospitais da rede privada da capital também enfrentam a alta demanda de pacientes pediátricos. No Sabará, a taxa de positividade para vírus respiratórios era de 73% nesta sexta-feira, índice considerado elevado. Os testes detectaram 18 vírus respiratórios e, entre os mais apontados, estavam adenovírus, bocavírus, rinovírus e o sincicial respiratório. Ali, os casos e as internações por Covid-19 voltaram a crescer nas três últimas semanas, atingindo os mesmos patamares de janeiro deste ano. Só nesta semana, dos 132 pacientes "positivados" para Covid-19, 15 ficaram internados.
O pediatra Felipe Lora, diretor-técnico do hospital, disse que a demanda costuma ser mais exacerbada neste período do ano, pela sazonalidade das doenças respiratórias. "Hoje, a Covid não é o principal problema, e sim as bronquiolites causadas por outros vírus." Ele acredita que, com as férias escolares, os casos devem cair em julho. "Vamos ter menos aglomeração." O mesmo ocorre no Hospital Santa Catarina Paulista, que tinha nesta sexta-feira 55 pacientes pediátricos internados. Do montante, 21 estavam em UTI.
Interior
O interior também enfrenta aumento na procura por leitos infantis. O Hospital da Unicamp, em Campinas, que é referência regional, estava com 100% de ocupação dos leitos pediátricos nesta sexta. Já na rede do SUS Municipal de Campinas, a ocupação de leitos pediátricos de UTI estava em 76,4%. Pela manhã, pacientes denunciaram a demora no atendimento no Hospital Municipal Mário Gatti, que faz parte do SUS Municipal. A Guarda Municipal até foi chamada. Em nota, a rede informou que a equipe está completa, mas a unidade enfrenta sobrecarga.
Falta de medicamento prejudica mais crianças
O diretor do Sabará Hospital Infantil, Felipe Lora, apontou a falta de medicamentos nas farmácias como um dos problemas decorrentes da alta incidência de vírus respiratórios. "Nosso PS (pronto-socorro) prescreve um remédio, o paciente vai à farmácia e não acha. O que temos feito é trocar a receita."
Um levantamento divulgado pelo CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) mostrou que mais de 98,5% dos farmacêuticos haviam confirmado problemas de desabastecimento. Desses, 10,2% são do setor público. Mais de 90% mencionaram a falta de antimicrobianos (entre os mais citados, amoxicilina e azitromicina); 76,56% a falta de medicamentos mucolíticos (entre os mais citados, acetilcisteína e ambroxol); 68,66% a falta de medicamentos anti-histamínicos (entre os mais citados, dexclorfeniramina e loratadina); e 60,59% a falta de medicamentos analgésicos (como dipirona, ibuprofeno e paracetamol).
Segundo Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP, as crianças são as que mais têm sofrido. "Os medicamentos em falta são principalmente em suas formulações líquidas, o que prejudica em especial a população pediátrica."