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Egoísmo de muitos não residentes prejudica as ações no Litoral Norte

Comprar o que vê pela frente e insistir em ficar, ir e voltar agora à região estão entre pecados de milhares de turistas e donos de casa

São Paulo|Eduardo Marini, do R7

Teimosia de turistas e não residentes dificulta remoção e assistência no Litoral Norte
Teimosia de turistas e não residentes dificulta remoção e assistência no Litoral Norte Teimosia de turistas e não residentes dificulta remoção e assistência no Litoral Norte

Se tudo e todos jogassem a favor no trabalho de recuperação do Litoral Norte do Estado de São Paulo, após a tragédia provocada pelo dilúvio iniciado na sexta-feira (17), as ações seriam extremamente difícil. Mas muitos jogam contra, por mais difícil que seja acreditar. E o time, infelizmente, não é pequeno. Os números da tragédia, até a madrugada de sábado (25), eram: 54 mortos, 2.251 desalojados, 1.815 desabrigados, dezenas de desaparecidos e feridos.

O R7 detalhou os pecados capitais cometidos na região por um grande grupo de turistas, donos de casas de veraneio com moradia em cidades diferentes e não residentes de outros tipos. Atitudes marcadas por individualismo exagerado e até mesmo egoísmo, que atrapalham os esforços de recuperação desde o início das chuvas. Confira:

Quanto mais o número de pessoas presentes se aproximar do total dos que efetivamente moram na região%2C e o trânsito na Rio-Santos for reduzido%2C menores%2C mais rápidos e eficientes serão os trabalhos de resgate%2C assistência médica e estrutural aos necessitados%2C e de recuperação das casas%2C instalações%2C ruas e estradas

Daqui não saio, daqui ninguém me tira – Para turistas, donos de casas de praia e outros não-residentes, os versos da histórica marchinha de Carnaval perderam todo os sentidos, no Litoral Norte, a partir do momento em que, liberados os primeiros trechos e estradas, o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos) os convocou a retornar às cidades de origem.

“Nós, gestores, e a população precisamos contribuir para que, neste momento, o comércio, os profissionais e a estrutura de atendimento da região sejam direcionados a quem mais precisa”, justificou o governador.

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Formado e com larga experiência em infraestrutura, Tarcísio tem razão. Quanto mais o número de pessoas presentes se aproximar do total dos que efetivamente moram na região, e o trânsito na Rio-Santos for reduzido, menores, mais rápidos e eficientes serão os trabalhos de resgate, assistência médica e estrutural aos necessitados, e de recuperação das casas, instalações, ruas e estradas. Simples como isso.

Apesar da tese de entendimento elementar, milhares de turistas, em hotéis, pousadas e imóveis de aluguel, e de não-moradores donos de casas de veraneio insistiram (muitos ainda insistem) em permanecer espalhados pelos cem quilômetros do litoral de São Sebastião. A suspensão do Carnaval, determinada pelo prefeito Felipe Augusto (PSDB), não os espantou. Ao contrário: a maioria deve ter comemorado o silêncio na batucada.

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Deve-se excluir do time dos teimosos aqueles que, de modo compreensível, não puderam retornar por causa das panes nos carros inundados. Quanto ao restante, miopia, egoísmo e insensibilidade. Incluindo os proprietários de hotéis, pousadas e imóveis alugados que se recusam a negociar com os turistas reduções de preços e tamanho de temporada para facilitar a antecipação da volta.

Liberaram as pistas? Estou descendo – O governador e o prefeito de São Sebastião começaram a pedir, na sexta-feira (24), para que turistas e não residentes donos de imóveis no Litoral Norte evitassem a região neste final de semana e nos próximos dias. “Não é o momento apropriado. Primeiro, vamos nos recuperar”, resumiu Felipe Augusto.

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Objetivos: reduzir naturalmente os riscos de danos para todos e deixar as estradas de acesso mais livres para veículos de socorro, infraestrutura e abastecimento de alimentos, remédios, produtos e combustível.

Apesar dos apelos unânimes das autoridades, e também de especialistas, policiais rodoviários, civis e militares, bombeiros e socorristas encontram trabalho, nas estradas de acesso ao Litoral Norte, para convencer muitos a desistir da viagem, dar meia meia-volta e seguir para seus locais de origem.

Uma parte dos insistentes deseja iniciar a temporada apesar da proximidade com a tragédia. Outra tenta retornar às praias de São Sebastião mesmo tendo deixado a cidade depois da chuva iniciada no final da noite de sexta-feira (17). Um espanto.

Desde o início das chuvas no Litoral Norte%2C muita gente%2C sobretudo de classes econômicas favorecidas%2C fez estoques exagerados%2C claramente superdimensionados%2C comprando o que via pela frente em mercados%2C bares%2C mercearias%2C barracas%2C lojas de conveniência e em qualquer outro lugar onde se localizasse alguém disposto a vender algo

Bom dia. Me dê o mercado inteiro – A preocupação em garantir o sustento próprio e dos familiares é legítima. Mas, desde o início das chuvas no Litoral Norte, muita gente, sobretudo de classes econômicas favorecidas, fez estoques exagerados, claramente superdimensionados, comprando o que via pela frente em mercados, bares, mercearias, barracas, lojas de conveniência e em qualquer outro lugar onde se localizasse alguém disposto a vender algo.

Na suprema maioria dos casos, essas atitudes descalibradas roçaram a desumanidade. Contribuíram para o esvaziamento do comércio nos pontos mais atingidos, dificultando as ações de ajuda e alimentação dos mais necessitados, principalmente nas primeiras horas e dias após a chuva forte de sexta-feira (17). Donos de restaurantes e grupos de ajuda empenhados em doar marmitas tiveram dificuldade em encontrar insumos.

Por essas e outras, comerciantes desabastecidos passaram, por exemplo, a vender pequenos galões de água a preços entre R$ 93 e R$ 150. Comprar o necessário e voltar para a casa de origem à primeira oportunidade teria sido mais sensato.

O Litoral Norte do Estado de São Paulo, um dos pontos mais exuberantes da costa brasileira, está gravemente ferido – mas, felizmente, não de morte.

Se até mesmo o prefeito de São Sebastião apela aos turistas para adiar as visitas, atitude certamente difícil de ser tomada por gestores de cidades dependentes do turismo, não custa nada conter a ansiedade – e em alguns casos também o egoísmo – e esperar o momento certo para voltar a desfrutar das belezas da região.

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