Golpe Don Juan: A aproximação com a vítima ocorre em sites de relacionamentos
ThinkstockA aproximação com a vítima ocorre em sites de relacionamentos. O golpista se apresenta como um estrangeiro bem-sucedido, com cargo relevante e interessado em um relacionamento sério. Mas, o verdadeiro objetivo é tirar dinheiro da vítima. De janeiro a outubro desse ano, a Alfândega da Receita Federal, do aeroporto de Guarulhos de São Paulo, estima que, em média 3.384 pessoas foram vítimas de golpes como esses. Isso significa dizer que o órgão atendeu cerca de 12 ligações por dia de pessoas atingidas.
Conhecido como "golpe Don Juan" ou "golpe do amor", o interlocutor conversa com a vítima por meio de aplicativos e sites de relacionamento, cria intimidade com ela e promete o envio de um presente. O golpista passa, então, um número de conta como se fosse da Alfândega, para que a vítima faça o depósito para retirar o “presente”. Esses são os relatos mais comuns registrados pelo órgão em São Paulo.
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Nos dez primeiros meses do ano passado, o órgão da Receita Federal registrou uma média de cinco ligações de vítimas relatando que tinham sido alvo de golpistas. A Receita Federal esclarece que não recebe depósitos de pessoas físicas. De acordo com a Alfândega, cada vez mais pessoas são alvos desse tipo de estelionato. Para se ter ideia, foi registrado um crescimento de 140% em relação às ligações de vítimas em relação ao ano passado.
Desde o ano passado, a 4ª Delegacia especializada em crimes eletrônicos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) investiga grupos organizados que atuam nesse tipo de golpe. Segundo o delegado titular José Mariano de Araújo Filho, um grupo de nigerianos e camaroneses foi preso por suspeita de integrar o núcleo de uma organização especializada em dar golpes desse tipo em mulheres.
Segundo o delegado, foi comprovado que o grupo atuou de forma organizada uma vez que alguns integrantes moravam juntos e atuavam de forma articulada. “Eles percorriam todos os tipos de redes sociais e procuram despertar o interesse sentimental”, afirma. “Foi a primeira vez que percebemos integrantes de uma organização que criaram células independentes para praticar esse tipo de crime”, explica Mariano.
Perfil das vítimas
O delegado afirma que apesar de uma das células ter sido desarticulada, há indícios de que atuação de que uma nova célula em atuação. “Esse é um dos tentáculos da organização”, disse o delegado. Segundo a Alfândega, cerca de 80% das vítimas são mulheres. Apesar disso, o órgão destaca que o crescimento de idosos entre as vítimas mais frequentes nos últimos meses desse ano. "Os integrantes da organização criminosa pesquisam em redes sociais perfis de mulheres propensas a cair nos golpes."
Ainda segundo o delegado, eles costumam conquistar a confiança, identificar gostos e preferências e qual momento da vida pessoal a vítima vive. "Normalmente, são mulheres com boa qualidade financeira e com certa disponibilidade emocional." Segundo ele, mulheres viúvas não eram alvo dos golpistas por, segundo apontam as investigações, estarem menos disponíveis para relacionamentos.
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O grupo aplicava o golpe pedindo depósitos em dinheiro ou pagamentos de boletos. Um integrante chegava a falar com mais de 30 vítimas de uma só vez. Mariano afirma que começou a perceber certa movimentação de pessoas procurando delegacias de bairro para fazer boletins de ocorrência relatando sempre o mesmo meio de operação. "Os golpistas se apresentam como pessoas cultas, falam em inglês e demonstram grande interesse pela vítima e as fazem pagarem dívidas e depositarem dinheiro em contas correntes falsas”, diz o delegado.
As pessoas que se envolvem em situações como essas, explica ele, se sentem constrangidas diante de familiares. “É comum que as pessoas ao redor fiquem apontando o dedo, sem se colocar no lugar da vítima”, afirma Mariano. “Elas têm dificuldades até mesmo na hora de fazer a denúncia e o boletim de ocorrência.”
Alfândega estima que 3.384 pessoas foram vítimas do golpe do "Don Juan"
Divulgação/Receita FederalCuidados para não cair no golpe
Após algum tempo em contato com a vítima, os golpistas passam a manifestar o desejo de enviar presentes, como óculos, bolsas, celulares, anéis de ouro para noivado, por remessa expressa ou postal por meio de um viajante.
Segundo a Alfândega, os golpistas chegam a criar sites falsos de empresas de remessas expressas, inclusive com o falso rastreamento da suposta encomenda. Após o suposto envio do presente, o golpista alega que o bem foi retido na Alfândega e que há necessidade de um depósito para que o bem seja liberado.
Em alerta à recorrência do golpe e ao número crescente de ligações de vítimas, a Receita Federal informou que não exige pagamento em espécie ou por meio de depósito em conta corrente. É possível verificar no site do órgão as empresas habilitadas para receber encomendas por remessa expressa.
Caso a pessoa sinta que foi vítima de uma ação de estelionato, pode registrar a ocorrência em uma delegacia de policia especializada.