Em um mês, mais de 10 mil mulheres foram vítimas de violência em SP
Segundo promotora, cerca de 90% delas desistem de processo
São Paulo|Vanessa Sulina, do R7
Mais de 10 mil mulheres sofreram algum tipo de violência no Estado de São Paulo no últimos mês de setembro. Os dados são da SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) e foram divulgados na última quinta-feira (25). Segundo a estatística, no total, foram registrados 11.188 casos.
A ameaça, que é registrada como crime, lidera o ranking com 4.933 denúncias. Em seguida vem a lesão corporal dolosa (com intenção), com 4.750 registros. Ainda segundo a SSP, o estupro foi o crime com um dos aumentos mais expressivos: cerca de 20%. Em setembro, foram registrados 56 casos, ante 44 do mês anterior. A tentativa de homicídio contra a mulher também aumento: pulou de 21 casos em agosto para 24, em setembro.
Na avaliação da promotora de Justiça do Grupo Especial de Combate à Violência Doméstica do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), Silvia Chakian, um dos motivos do aumento de registros é o aumento do conhecimento da população sobre a lei Maria da Penha.
— Em um primeiro momento, podemos pensar que, com a lei, a violência aumentou. Mas obviamente a leitura não é essa. O que acontece é que os casos se tornam públicos. Houve tempo em que a mulher sofria calada e não sabia onde procurar ajuda. Hoje, elas se sentem mais orientadas e procuram denunciar.
Leia mais notícias de São Paulo
Preconceito e despreparo
Segundo a promotora, porém, mesmo com o aumento de denúncias, a quantidade de casos de agressão ainda é superior aos índices registrados. Além de medo, muitas vezes, a vítima que vai até a delegacia fazer a denúncia ainda enfrenta profissionais “imbuídos de todos os valores preconceituosos” e que desestimulam "a mulher a seguir com o processo”.
Na avaliação da especialista em sexualidade e presidente da ONG Coletivo Feminista, Ana Galati, ainda faltam muito recursos humanos e de infraestrutura às Delegacias da Mulher. Como uma escrivã capacitada, por exemplo.
— As mulheres sofrerem preconceito, sim, nesses locais. Eles avaliam até a roupa que ela estava usando no momento da violência. Têm mães que tiveram a filha violentada e dizem que foi a própria criança ou adolescente quem provocou. Nem todas as delegacias tem conhecimento da lei. Estamos muito aquém do necessário.
Desistência
Ainda de acorco com a promotora, em setembro passado, 78 ações penais de crimes contra a mulher foram oferecidas na Vara Central de São Paulo pelo Ministério Público. O número é 73% maior do que o do mês anterior, 45. Apesar deste aumento, Silvia afirma que cerca de 90% das mulheres que fazem boletins de ocorrências voltam atrás na denúncia.
— Existe um ciclo de três fases nos crimes de violência doméstica e sexual. Primeiro, começam os desgastes, com abuso por parte do agressor, a tentativa de controlar a mulher, minar autoestima, afastá-la do convívio com amigos. Na segunda fase, acontecem as agressões e, com medo daquele parceiro, ela procura ajuda. A terceira fase, é a chamada lua-de-mel, em que ele muda o comportamento, pede desculpas e diz que merece uma segunda chance. Nesse momento vítima tende a se retratar, assume a culpa, e ela se sente como se tivesse merecido a violência.
A promotora acrescenta que as vítimas só pedem ajuda depois de sofrerem violência diversas vezes.
— É muito raro as mulheres procurarem ajuda na primeira vez em que acontece a agressão. Elas geralmente perdoam e procuram explicar a violência cometida como um momento de explosão do parceiro, que estava alcoolizado ou no uso da droga.