Emprego e renda são os grandes desafios do próximo prefeito de SP
Avaliação comum entre especialista e líderes comunitários aponta prioridades destacadas pela sociedade paulistana para a próxima gestão municipal
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
A geração de trabalho e renda para a população foi o tema apontado por líderes comunitários e estudiosos das ciências sociais, ouvidos pelo R7, como a prioridade na agenda do vencedor do pleito à Prefeitura de São Paulo, que será realizado nos dias 15 e 29 de novembro de 2020. O desemprego, agravado pelos efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, é um dos grandes temores de parte dos paulistanos, especialmente na periferia da cidade.
O doutor em sociologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e professor da Universidade Mackenzie Rogério Baptistini acredita que, na condução a metrópole, o novo chefe do Executivo municipal também precisará de liderança política para enfrentar a questão social, minimizar o flagelo dos paulistanos que se encontram em ocupações precárias, perigosas e também as pessoas em situação de rua.
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"O próximo prefeito terá de lidar com problemas graves, a maioria derivada do desemprego e do empobrecimento da população. Questões habitacionais, comércio irregular, violência estarão na lista de consequências. Mais do que obras, é preciso liderança para fazer da cidade um lugar acolhedor e comum, onde as pessoas possam reorganizar a vida e resistir. Quem conseguir enfrentar essa situação será um bom prefeito. Não há mágica nestes tempos, infelizmente", frisou o professor Rogério Baptistini.
O sociólogo acrescenta que a saúde pública estará no centro da cena em 2021, pois, com a pandemia da covid-19, medidas de educação pública e controle sanitário serão exigidas, bem como investimentos em tratamento e prevenção de disseminação do vírus.
"São Paulo, porém, não é apenas o município. É uma metrópole. E como tal, está conurbada aos demais municípios da região. Isso exige um plano de ação metropolitano para o enfrentamento dos problemas comuns. É fundamental que o novo prefeito apresente este plano e lidere os seus pares nos demais municípios na busca de soluções e de investimentos para o transporte, o lixo e a geração de emprego e renda, por exemplo", complementou Rogério Baptistini.
Saneamento básico e urbanização de favelas
Para líderes populares de comunidades carentes, não há como debater as necessidades coletivas sem atacar o vírus. A falta de saneamento básico, — com milhares de moradias construídas sobre córregos poluídos —, piora as condições de higiene e causa riscos à saúde popular. Por isso, torna-se fundamental a urbanização das favelas.
Outra medida cobrada pelos representantes populares é a elaboração de políticas públicas que possam fazer a economia girar e oferecer aos cidadãos de camadas socioeconômicas mais baixas uma fonte de recursos que não os deixem à mercê somente de programas assistenciais, como o auxílio emergencial.
"Numa cidade gigantesca, que cresceu sem planejamento e jogou os pobres e os trabalhadores para as periferias distantes, o contraste entre as regiões tende a aumentar com a crise econômica e a falta de empregos, exigindo sensibilidade social e visão pública do chefe do executivo municipal. Localidades como Higienópolis e Heliópolis reclamam soluções que considerem os moradores igualmente cidadãos e, como tal, merecedores da mesma dignidade e direito à cidade", ponderou o professor Rogério Baptistini.
Moraria
Crenildes da Silva, conhecida como Dona Nena pelos moradores do Jardim Peri, na zona norte de São Paulo, que preside a Associação Futuro Melhor, ratifica as carências elencadas anteriormente como as reivindicações mais importantes e que, certamente, devem estar no topo da lista de ações do novo prefeito paulistano.
Dona Nena considera particularmente o acesso à habitação como o ponto fundamental para que o morador da periferia possa ter qualidade de vida e condições melhores de lutar por saúde, educação e segurança — outros itens citados como fundamentais na gestão da cidade.
"Temos outras carências, mas a principal é moradia. Porque, fazer viaduto para rico passar em cima e pobre morar embaixo é muito ruim. Habitação é o melhor legado que um prefeito poderia deixar", avaliou a líder comunitária.
Entretanto, Dona Nena se mostrou desiludida em relação à expectativa que o aumento da desigualdade social gerada pela pandemia influencie a atuação de vereadores e outros gestores públicos.
"Eles sabem dos problemas da população. Uma pequena parte faz alguma coisa. Antes da eleição, estão aqui. Quando a eleição passa, temos que ir até a Câmara Municipal e marcar hora se quisermos vê-los", finalizou.