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Esvaziamento dispersa Cracolândia e autoridades mantêm alerta 

Prefeitura e polícia comemoram 'retirada' a mando do PCC, mas dizem que novas concentrações tendem a surgir nos próximos dias

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

Parte dos usuários já se concentra na praça Princesa Isabel
Parte dos usuários já se concentra na praça Princesa Isabel

Apesar do esvaziamento da Cracolândia no último fim de semana, as autoridades da região se mantêm em alerta para a formação de novas concentrações de usuários de drogas. O vaivém do grupo de pessoas apontadas como traficantes e usuários de drogas por ruas do centro de São Paulo é característico da região e persiste há mais de 30 anos, mesmo após dezenas de operações do governo estadual, prefeitura e de forças de segurança.

O novo episódio desse movimento foi registrado neste fim de semana na concentração que reunia cerca de 430 pessoas entre a rua Helvetia e a alameda Cleveland. Segundo investigações da Polícia Civil, o esvaziamento súbito veio por ordem de traficantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que comanda o negócio de drogas na região.

Uma nova concentração se formou na praça Princesa Isabel, a poucos metros de onde os usuários se reuniam há uma semana. A prefeitura alega, no entanto, que a aglomeração é muito menor que a anterior, com cerca de cem usuários, e que o acampamento também não conta com o "atacado" de drogas característico do fluxo.

A praça Princesa Isabel foi palco de reagrupamentos do grupo em outras ocasiões, como em 2017, após uma megaoperação da prefeitura no local. Na ocasião, o então prefeito João Doria (PSDB) chegou a anunciar o fim da Cracolândia, mas o "fluxo" voltou meses depois ao mesmo local de onde havia sido expulso.


"A gente considera que venceu uma batalha importantíssima, mas a guerra não acabou. Foi um golpe duro para o tráfico, mas eles vão tentar se reestabelecer em outros lugares e temos que monitorar isso constantemente", afirma o secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas.

"Isso [esvaziamento da Cracolândia] não é desse fim de semana para agora. Vem acontecendo desde alguns meses e conseguimos agir nessas novas concentrações. Teve na praça General Osório, no túnel da [avenida] Paulista com a [avenida] Rebouças."


Conforme mostram dados do monitoramento da prefeitura, a movimentação na Cracolândia caiu bruscamente em 2018, mas manteve inconsistência nos anos seguintes por conta da dificuldade em dispersar o grupo da região. A média mensal em 2019, de 533 usuários, caiu para 478 um ano depois e voltou a subir em 2021, com média de 591. Em 2022, a taxa atual é de 434.

A Prefeitura de São Paulo e a Polícia Civil alegam que a mudança gradual veio após ação conjunta das forças desde o início do Programa Redenção, que ampliou o atendimento aos usuários e requalificou prédios do bairro, acompanhado da ofensiva contra traficantes da região


"A conjugação desses esforços e nossa ação repressiva fez com que o trabalho dos traficantes ficasse impossível. Nós não permitimos mais a montagem de tendas — depois também a de barracas pequenas e até de guarda-chuvas — e eles ficaram sem condições de exercer aquela atividade criminosa que era vender a céu aberto a droga", diz o delegado Roberto Monteiro, um dos responsáveis pela Operação Caronte, que prendeu 92 traficantes na região desde 2021.

Monteiro diz que a ordem do tráfico na região demonstra os avanços do trabalho policial, mas admite que esvaziamentos já ocorreram em outros períodos. "Essa determinação comprovou o que falamos há muito tempo: lá existe uma liderança hierárquica, disciplinada, tanto é que os dependentes químicos seguem a liderança do traficante", argumenta. 

Apesar do histórico de retiradas momentâneas, as autoridades comemoram a nova dispersão, que acreditam abrir a oportunidade para diminuir a gravidade do problema nos próximos anos. O motivo é a dificuldade extrema de intervenções em "fluxos" grandes, que possuem centenas de usuários prontos para defender os traficantes com quem convivem.

Essas concentrações menores permitem um maior sucesso de diversas políticas públicas%2C seja assistência social%2C atendimento em saúde ou segurança pública

(Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo)

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