Ex-PM morto em SP tem histórico de homicídio, lesão corporal, tráfico e violência doméstica
Fabiano Donisete Rogério Bueno, 46, foi morto a tiros na porta da escola das filhas, na zona sul da capital; DHPP investiga o caso
São Paulo|Luís Adorno, da Record TV
O ex-cabo da Polícia Militar Fabiano Donisete Rogério Bueno, 46 anos, morto na tarde de segunda-feira (28) enquanto esperava suas filhas saírem da escola, no Parque Regina, zona sul de São Paulo, tinha longo histórico de crimes — enquanto policial e depois de ter sido expulso da corporação. Após sua demissão, o ex-policial passou a trabalhar como segurança privado e tentava retornar aos quadros da PM paulista.
Em março de 2016, Bueno estava no 16º Batalhão da PM, na Vila Andrade, zona sul, quando foi expulso da corporação pelo "cometimento de atos atentatórios à instituição e ao estado, aos direitos humanos fundamentais e desonrosos", com "transgressão disciplinar de natureza grave".
A punição ocorreu após uma investigação da Corregedoria da PM tê-lo identificado como chefe de um grupo de extermínio formado por policiais e ex-policiais. Por meio desse esquadrão, segundo a Corregedoria, Bueno participou de uma ocorrência que terminou com um morto e sete baleados, em abril de 2008, no Jardim Novo Oriente, também na zona sul. O órgão fiscalizador da PM o classificou de “justiceiro”.
A defesa de Bueno, porém, rechaça o termo. “Ele, como policial militar, sempre teve uma atitude atuante. Não ‘justiceiro’, mas enérgico e cumpridor dos seus deveres. Por conta disso, foi envolvido nessa ocorrência de um homicídio consumado e sete tentados. Após todo o trâmite processual, todos foram absolvidos”, afirmou à Record TV o advogado do ex-policial, José Soares da Costa Neto. “Inclusive, por conta dessa absolvição, ele estava pretendendo voltar às fileiras da corporação”, complementou o advogado.
De acordo com o histórico criminal de Bueno, entre 2002 e 2019, ele teve envolvimento em casos de homicídios, peculato, lesão corporal, fraude processual, tráfico de drogas, violência doméstica e estupro. Até ser morto, ele estava em regime aberto por porte ilegal de arma de fogo, mas não cumprindo efetivamente, porque, durante a pandemia, estava aguardando o retorno do funcionamento dos fóruns, segundo a defesa.
Prisão um dia depois da expulsão
A expulsão de Bueno foi publicada no Diário Oficial do Estado no último dia de março de 2016. No primeiro dia de abril daquele ano, ele foi detido, em flagrante, por policiais civis pelos crimes de tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. De acordo com os policiais que fizeram a detenção, Bueno estava com outros dois suspeitos em um Fiat Palio cinza em atitude suspeita. Quando os policiais civis pediram ao motorista do Palio que parasse, ele, ao contrário, tentou fugir.
De acordo com os policiais civis, um dos integrantes do Palio jogou para fora, pela janela, uma mochila com drogas. Quando eles conseguiram interceptar os suspeitos, durante a abordagem, Bueno teria tentado correr. Após 500 metros de perseguição, ele foi pego. No momento, tentou jogar fora uma arma calibre 38, com numeração raspada e cinco munições intactas.
"Ele estava na companhia de amigos e foi preso em flagrante com outros dois amigos. Ele, por estar armado, houve porte de arma. Com relação ao crime de tráfico de drogas, todos foram absolvidos, porque ficou claramente provado que o flagrante foi ilegal. E restou o crime de porte de arma, que iria responder em regime aberto se não fosse a pandemia", explicou o advogado Costa Neto.
Agressão contra a mulher
Dos sete filhos do ex-cabo, três tinham como mãe a mulher com quem Bueno se casou em 2018. Em 2019, sua mulher afirmou à polícia sofrer constantemente violência doméstica. Apesar disso, eles não se separaram. Juntamente com a irmã e a mãe, a mulher dele foi à delegacia contar que havia sofrido um aborto após o ex-policial chutar sua barriga. Ela também contou que, quando era agredida, Bueno sempre trancava a porta de casa, sem deixá-la sair, e a impedia de ligar para qualquer pessoa.
Em janeiro de 2019, ele levou a mulher para uma área de matagal em Embu-Guaçu, próximo do local onde ele trabalhava como segurança, e a agrediu, deixando marcas de apertões, socos e mordidas em seu corpo. Depois do registro da ocorrência, a mulher ligou para a mãe e a irmã e pediu “pelo amor de Deus” que a queixa fosse retirada porque, senão, ele a mataria. Além disso, Bueno teria enviado à sogra e à cunhada mensagens dizendo que os dias delas estavam contados.
Ainda de acordo com o registro da ocorrência, o ex-PM andava pelado pela casa, sentando-se de pernas abertas para que suas filhas, meninas, vissem seu órgão genital. De acordo com o advogado Costa Neto, “de fato, [Bueno] foi denunciado pelo crime de violência doméstica e lesões corporais leves. O processo está na fase de alegações finais”. O advogado negou que o ex-policial tenha sido denunciado por estupro, conforme consta no boletim de ocorrência.
O fim
Bueno foi assassinado no carro de sua mulher, um Ford Escort 2002. Imagens de câmeras de segurança flagraram o crime. Por volta de 13h30, enquanto esperava duas de suas filhas saírem da escola estadual Zulmira Cavalheiro Faustino, outro carro, um HB20 branco, se aproximou e emparelhou com o Escort. O atirador, do banco do passageiro, atirou contra Bueno sem descer do carro. Depois, os assassinos fugiram. Horas depois, o carro foi localizado na mesma região totalmente queimado.
Na sequência, outro homem chegou ao local em uma moto e disparou mais tiros contra o ex-policial. Depois, uma terceira pessoa também chegou à cena do crime e abriu fogo contra Bueno. Segundo a Polícia Civil, os criminosos atiraram 21 vezes contra Bueno. Ao menos 15 desses disparos atingiram o ex-policial. Enquanto o ex-policial era executado à queima-roupa, muitos adolescentes que deixavam a escola saíram correndo, desesperados. Nenhum deles ficou ferido.
O caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de São Paulo.
Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os assassinos usaram um carro e duas motos para atentar contra a vida de Bueno. Também disse que ele serviu à PM entre 1997 e 2016, até responder a processo regular que resultou em sua expulsão.
"A unidade [DHPP] realiza diligências e analisa as imagens visando à elucidação do crime. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial", afirmou, em nota, a SSP.