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Furtos de celulares crescem em SP em 2021; Centro lidera estatísticas

Estudo aponta 66 mil ocorrências no ano em que não houve carnaval de rua, evento que costuma alavancar esse tipo de crime na capital paulista. Veja bairros com mais casos

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

Foram 66.107 registros de furtos de aparelho em 2021, ante 63.942 em 2020
Foram 66.107 registros de furtos de aparelho em 2021, ante 63.942 em 2020

Problema recorrente do dia a dia dos paulistanos, os furtos de celulares aumentaram 3,39% no ano passado em São Paulo (SP) em relação a 2020, segundo estudo realizado pelo Departamento de Pesquisas em Economia do Crime da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

Os dados, coletados a partir dos boletins de ocorrência da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), mostraram 66.107 registros de furtos de aparelho em 2021, ante 63.942 no ano anterior. Já os roubos, que diferentemente dos furtos consistem no uso de ameaça ou violência, caíram 2,39% - de 92.935 em 2020 para 90.711.

Para especialistas, a falta de segurança, aliada ao surgimento de aplicativos como o Pix, que permitem transferências mais rápidas acessando contas bancárias em celulares, ajudam a explicar o aumento dos furtos. Além disso, chama a atenção o avanço do crime no ano em que não houve carnaval de rua, em São Paulo, evento com aglomerações ao longo de mais de uma semana e que costuma alavancar os furtos de celulares. 

O estudo da Fecap lista os locais com maior quantidade de ocorrências dos dois delitos com celulares subtraídos na capital paulista.


No caso dos furtos, a região do centro é a predominante, com o Brás no topo (3.254 boletins emitidos), seguidos por distritos como República (3.013), Bela Vista (2.755), Pinheiros (2.089), Bom Retiro (1.913), Sé (1.801) e Jardim Paulista (1.761).

Erivaldo Vieira, pesquisador da Fecap e responsável pelo estudo diz que, em todas as edições do estudo, as regiões centrais costumam ficar no topo entre os furtos. Como há muita movimentação nesses locais, explica, a prática do furto é facilitada. “O furto se dá pela aglomeração, a população flutuante. Essas regiões têm grande movimento, com pessoas muitas vezes distraídas. É um ambiente propício no caso do furto”, afiram.


Além disso, prossegue, nas regiões mais nobres é maior uma presença bem forte de segurança e câmeras nas ruas, “o que inibe o roubo, mas não o furto”.

Os registros de roubo se sobressaem em bairros da zona sul paulistana, os mais populosos e também os mais desiguais do município. Capão Redondo, com 3.389 boletins, lidera a lista, e em sequência vêm Grajaú (2.321), Jardim Ângela (2.192), República (2.750), Campo Limpo (1.951), Jardim São Luís (1.527), São Mateus (1.526) e Cidade Ademar (1.442).


Vieira pontua também que, além de serem os bairros mais populosos da cidade, a geografia desses locais é de acesso mais difícil, o que dificulta a atuação das forças de segurança no local.

Falta de segurança

Presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), Raquel Gallinati avalia que a segurança pública está “completamente abandonada” pelo governo do estado paulista.

“Mesmo sabendo do quão grave a criminalidade assola a população, o governo nada faz para protegê-la. Temos um déficit no número de policiais, os piores salários pagos [no país], uma grande demanda de policiais que saem da instituição, um sistema caótico de segurança pública por negligência e irresponsabilidade do governo”, afirma a delegada, que prossegue: “O governo sabe que precisa estruturar a segurança para deixar a população tranquila, mas não faz.”

A respeito dos delitos, o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, aponta que subtrair aparelhos celulares se tornou ainda mais interessante para quem comete esses delitos.

“Se pode utilizar o celular para desmontá-lo e vender. Muitas vezes a manutenção é feita de forma ilegal, com peças ilegais. E hoje, os aplicativos e informações a respeito das pessoas dentro dos telefones celulares, esses aplicativos de banco e mídias sociais que acabam gerando interesse aos criminosos”, comenta.

Gallinati concorda e aponta que a recente facilidade para transações bancárias “com certeza contribui para que seja um grande atrativo na prática desses crimes”.

Alcadipani destaca que a desigualdade social é uma das explicações para a maior ocorrência de roubos em bairros como o Capão Redondo.

“Onde o crime está é porque o Estado não está. Infelizmente, as populações nas áreas periféricas da cidade têm uma menor presença do Estado, e também uma menor presença da polícia, e isso afeta indicadores de crimes. Nosso Estado deixa algumas populações mais vulneráveis, sem presença de educação, saúde, e terminam por sofrer mais nas regiões periféricas”, afirma.

Subnotificação

Erivaldo Vieira, pesquisador da Fecap, explica que, ao se tratar das estatísticas de furto e roubo, sempre houve subnotificação.

“As pessoas têm pouco incentivo a fazer, há um custo emocional e de tempo para fazer os BOs, e pouca coisa acontece: nem recuperam o celular nem encontram o criminoso. Então ficam desmotivadas a prosseguir com o boletim”, explica o pesquisador, que afirma haver a impressão de aumento na subnotificação recentemente.

Raquel Gallinati afirma que se percebe uma situação deficitária entre as polícias paulistas “no momento em que a segurança está capengando”.

“Ela é um pilar dos direitos sociais. Quando ela está caótica, percebemos o quanto há um débito do governo para estruturar os serviços sociais para a população”, conclui.

Zona sul lidera ocorrências de roubo de celulares
Zona sul lidera ocorrências de roubo de celulares

Ausência do Carnaval influenciou em menos ocorrências em 2021

O aumento no número de furtos impressiona mais se feita a ponderação de que, em 2021, não houve a realização do Carnaval com blocos de rua em São Paulo, que, em 2020, por exemplo, movimentaram 15 milhões de pessoas. Em fevereiro do ano passado, foram 4.659 ocorrências de furtos de celulares, que representam uma queda de 65% em relação ao mesmo período no ano anterior, com 13.385 registros desses furtos.

A situação de queda se repetiu em relação aos roubos de celulares: há dois anos, foram 10.717 em fevereiro, e tiveram queda de 29,82% se confrontados com o mesmo mês do ano de 2021, com 7.521 ocorrências. Para comparação, essa diferença de 3.196 roubos faria com que o total do ano passado (90.711) superasse a quantidade de 2020 (92.935).

Erivaldo Vieira comenta que esse estudo anual da Fecap começou justamente devido à incidência de casos no período de Carnaval.

“De modo geral, o Carnaval triplica o número de ocorrências de furto e roubo. O crescimento é muito grande, pois furto e roubo são comuns em aglomeração. Naqueles grandes eventos, é certo que será elevado o número de roubos e furtos”, diz Vieira.

Já Raquel Gallinati avalia a abundância de casos de roubo e furto no Carnaval como despreparado do governo do estado: “tanto a Polícia Civil como a Militar. É a ineficiência do governo em estruturar sua segurança para proteger sua população [nesses eventos].”

Posicionamento

A reportagem entrou em contato com o governo de São Paulo para responder às críticas acerca dos salários e efetivo de policiais, bem como o comentário sobre "a ineficiência do governo" para combater a criminalidade. Até o fechamento desse texto, não houve resposta.

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