Golpe da pochete e da máquina de cartão: veja como criminosos agem no Carnaval e como se proteger
Especialistas falam da importância de redobrar a atenção durante a folia para não ser vítima de furtos
São Paulo|Isabelle Amaral, do R7
Os tradicionais furtos de celular em blocos de carnaval neste ano são apenas um dos riscos para quem quer curtir a folia. De acordo com especialistas em segurança e vítimas entrevistadas pelo R7, os golpes da máquina de cartão e da pochete são tendência entre os criminosos, fora outros já conhecidos como o do boa noite, Cinderela e até o do Pix.
Fantasiada de anjo, com uma maquiagem cheia de brilho e uma pochete decorada com lantejolas prateadas, a publicitária Raiane Porfírio foi curtir o Carnaval em um bloquinho de rua na zona oeste de São Paulo. Quando mexeu na pochete para pegar o celular, a surpresa: o bolso estava aberto e o aparelho havia desaparecido.
"Eu comprei a pochete justamente para ter os meus pertences, principalmente o celular, perto o suficiente de mim enquanto eu curtia e, mesmo assim, na rapidez, alguém passou e pegou", conta. A jovem, de 26 anos, acredita que o furto tenha ocorrido no momento em que ela curtia o show no meio da aglomeração.
O golpe normalmente funciona assim: um criminoso passa e puxa o zíper da pochete. Em seguida, outro passa e coloca a mão para furtar o que estiver lá dentro.
Uma situação parecida ocorreu com o estudante de educação física Gabriel Silva, de 20 anos. Ele curtia um bloquinho de rua na Vila Olímpia, na zona sul da capital, quando percebeu que o zíper do bolso da bermuda estava aberto e o celular já não estava mais lá.
"É comum no meio da diversão que a pessoa esteja descontraída, mas é justamente nesse tipo de festa que a atenção deve triplicar", recomenda a delegada e diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), Raquel Gallinati.
Segundo ela, durante o Carnaval, há um aumento de crimes de roubo e furto porque quadrilhas se aproveitam justamente da aglomeração, já que acaba ficando difícil a identificação. "O ideal é que as pessoas que vão nesse tipo de evento levem só o necessário, como documentos, porque joias, relógios, dinheiro e celular deixa elas muito suscetíveis", completa.
Além disso, ainda que a pessoa não tenha sido abordada, é importante que ela registre um boletim de ocorrência para que a polícia investigue o crime naquela região.
"Por meio desses boletins, a polícia faz o mapeamento da situação e define o modo de ação dessas quadrilhas. Isso ajuda tanto na possível identificação do autor quanto para que outras pessoas não sejam vítimas. A subnotificação disso faz com que os criminosos se sintam impunes", afirma Raquel.
Golpe da máquina de cartão
Além de roubos e furtos em pochetes, bolsas e bolsos da roupa, um outro crime que pode aumentar durante as festas de Carnaval é o do golpe da máquina de cartão, quando o criminoso cobra um valor alto por determinado produto, mesmo que tenha informado um outro valor e, sem perceber, a vítima paga.
Isso ocorre, principalmente, quando a pessoa utiliza cartões que debitam um valor por aproximação, ainda segundo a delegada. "O melhor a se fazer é tirar essa funcionalidade do cartão, além de excluir aplicativos de banco do celular, porque isso também deixa a pessoa mais suscetível", diz.
Com a vítima em seu poder, os criminosos buscam, entre outras coisas, fazer transferências por meio do Pix. O serviço de transferências foi lançado em 2020 e, desde então, fez explodir o número de casos de extorsão mediante sequestro.
Outro crime que pode ocorrer com esse tipo de mecanismo de pagamento é o de um vendedor golpista tentar trocar o cartão da pessoa por um outro parecido. Depois, esse criminoso usa o saldo ou o crédito, e a vítima só é informada quando chega a fatura. Nesses casos, fica ainda mais fácil para o golpista se o cartão for de aproximação.
Golpe do Boa noite, Cinderela e do Pix
A diretora da Adepol ainda faz um alerta para o golpe mais antigo conhecido: o do boa noite, Cinderela. Segundo ela, em festas com muita bebedeira, típicas do Carnaval, esses crimes podem ficar ainda mais recorrentes.
"O criminoso coloca sonífero no copo da vítima. Antes, era muito usado para crimes sexuais, o que continua ocorrendo, mas hoje eles utilizam isso para pegar o celular da pessoa e fazer transferências bancárias", afirma Raquel.
Para evitar cair nesse tipo de golpe, a delegada aconselha que as pessoas fiquem atentas ao copo de bebida, para não deixar com estranhos, nem para ir ao banheiro, além de não aceitar nenhum tipo de líquido de pessoas que não conhece.
Só no pré-Carnaval a polícia recuperou mais de cem celulares roubados
As polícias civil e militar recuperaram pelo menos 110 celulares roubados ou furtados no sábado (11) e no domingo (12), durante as festividades de pré-Carnaval na cidade de São Paulo e prenderam cerca de 14 pessoas suspeitas de estarem envolvidas nesses crimes.
Na zona oeste da capital, três mulheres e um homem foram presos em flagrante, e uma adolescente foi apreendida nos bairros de Pinheiros e Barra Funda. No total, 44 aparelhos foram recuperados.
No centro, cinco mulheres e um homem foram detidos nas regiões do Pari e da República. Ao todo, as ocorrências resultaram na apreensão de 64 celulares. No mesmo local, três adolescentes foram apreendidos, e um celular, avaliado em cerca de R$ 8.000, foi devolvido à vítima.
Além de fazer as apreensões, policiais militares da Força Tática prenderam um homem de 36 anos procurado pelo crime de roubo, na rua Conselheiro Crispiniano. Ele foi encaminhado ao 77º DP (Santa Cecília), onde permanece à disposição da Justiça.
No fim da tarde deste domingo (12), um suspeito foi detido com 31 cartões bancários e uma máquina de cartões escondidos nos bolsos da calça, também na região de Pinheiros. Ele informou que adquiriu os cartões de uma pessoa em um bloco de Carnaval e foi conduzido ao 14º DP para o registro do boletim de ocorrência.
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), as ações da polícia foram ampliadas neste mês para combater crimes de diversas modalidades e garantir a segurança durante a folia.