Governo de SP anuncia criação de usina de oxigênio em Ribeirão Preto
Estrutura será montada pela Ambev e deverá ficar pronta em dez dias. Serão envasados 12 cilindros por dia para evitar crise
São Paulo|Do R7
O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou nesta segunda-feira (22) a instalação de uma usina de oxigênio em Ribeirão Preto, no interior do Estado, para abastecer unidades de saúde e evitar uma crise de desabastecimento.
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A estrutura será montada pela Ambev e deverá ficar pronta em dez dias, de acordo com a previsão do governo estadual. No local, será realizado o envase de 120 cilindros por dia. O vice-governador Rodrigo Garcia afirmou que, durante a reunião realizada com o governador João Doria (PSDB), setores da iniciativa privada foram mobilizados para ampliar a distribuição de oxigênio no estado.
O presidente da Invest SP, Wilson Melo, afirmou que há uma logística específica no que se refere aos cilindros utilizados para pacientes com covid-19 em UPA. "A UPA, unidade adaptada a receber paciente-covid, necessita de cilindros porque cada cilindro tem um paciente acoplado", afirmou Melo.
"Para cada paciente, precisamos de três cilindros, um que está com ele, o que está em transporte para ser recarregado e aquele está sendo recarregado. Esta é a logística que temos que fazer. Por isso, precisamos de cilindros adicionais. A Anvisa autorizou o uso de cilindros industriais para fins hospitalares. Com isso vamos buscar cilindros, fazer a higienização e fazer a recarga na usina da Amabev e em outras que se disponibilizarm."
Na reunião, segundo Garcia, os fornecedores garantiram o fornecimento do produto para atender a rede estadual, municipal, entidades filantrópicas e a rede privada. O anúncio do governo ocorre após a cidade de São Paulo registrar falta de oxigênio em uma Unidade de Pronto Atendimento de Emerlino Matarazzo, na zona leste, na madrugada do sábado (20).
Funcionários da UPA de Ermelino Matarazzo relataram por meio das redes sociais a falta de oxigênio para atender pacientes com covid-19 internados na unidade. A falta do insumo fez com que os pacientes fossem transferidos para outra unidade.
Imagens gravadas por um funcionário mostram diversas ambulâncias prestes a sair da unidade. O enfermeiro que faz o registro dos veículos diz: "Olha a UPA como está. Acha que está fácil?" Outra funcionária utilizou as redes sociais para relatar a indignação diante do colapso. "Quantas pessoas ainda vai precisar morrer para os seres humanos entender", diz uma enfermeira.
"Essa madrugada, oxigênio acaba e pacientes sendo transferidos as pressas. Pessoal tenha consciência nós temos família também precisamos voltar para nosso lar no final do expediente, tenha compaixão de nós que estamos aqui para ajudar à todos, estamos exaustos e com medo mais não vamos parar, mais por favor fique em casa."
De acordo com o secretário municipal de Saúde Edson Aparecido, um atraso no abastecimento do insumo pela empresa White Martins (produtora do insumo) ocasionou o problema. Esse foi o primeiro registro de falta de oxigênio na cidade de São Paulo. A companhia negou qualquer problema de fornecimento na UPA.
"Nossa equipe, por precaução e segurança, decidiu fazer a transferência. Felizmente, deu tempo. E não houve maiores problemas. Depois de uma hora em que os pacientes já haviam sido transferidos, o oxigênio chegou", disse Aparecido.
Segundo ele, antes da pandemia, as unidades de saúde recebiam cilindros de oxigênio uma vez por semana, mas, durante os últimos dias, essa entrega vem sendo feita três vezes ao dia. "Estamos conversando com as empresas responsáveis (White Martins e outras) para resolver as questões de logística, como a possibilidade de concentrar os pacientes em algumas unidades", disse.
Além disso, Aparecido pediu ajuda para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na aquisição de cilindros e estuda baixar um decreto que possa garantir a prioridade de abastecimento de oxigênio para os hospitais públicos.
O Hospital Municipal Doutor Ignácio de Proença Gouveia também chegou a ficar perto do limite do oxigênio disponível. Mas, neste caso, o abastecimento foi feito no tempo adequado para os pacientes não precisarem ser transferidos.
"Nestas duas últimas semanas, a evolução das internações aumentou muito. Os pacientes mais jovens demandam muito mais oxigênio. Ainda não trabalhamos com a possibilidade de falta de oxigênio na cidade, mas estamos em uma operação de guerra para dar conta de tudo", afirmou Aparecido.
Outro lado
A White Martins informou que não faltou oxigênio para a UPA Ermelino Matarazzo: "O sistema de abastecimento de oxigênio na unidade funcionou para que o produto continuasse sendo fornecido ininterruptamente, conforme as normas vigentes no país . No dia 19 de março de 2021, a UPA consumiu todo o produto do tanque de oxigênio (suprimento primário) e o sistema iniciou automaticamente o uso da central reserva de cilindros (suprimento secundário). Esta central reserva (dotada de duas baterias independentes de cilindros) entrou em operação como estabelece a referida norma. Durante o uso do suprimento secundário, o suprimento primário (tanque) foi abastecido, não ocorrendo falta de produto."
Ainda de acordo com a nota distribuída pela empresa, "a rede interna de distribuição do oxigênio para uso terapêutico é de responsabilidade dos estabelecimentos assistenciais de saúde e a White Martins tem alertado exaustivamente seus clientes sobre os riscos envolvidos na transformação de unidades de pronto atendimento em unidades de internação para pacientes com Covid-19 sem um planejamento adequado."
"Muitas unidades não possuem redes centralizadas com a dimensão adequada para expansão do consumo, agravando demasiadamente a condição de fornecimento de gás para suportar ventiladores, inaladores e outras práticas terapêuticas. Essas condições interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás."
No caso específico da UPA de Ermelino Matarazzo, a empresa afirmou que a unidade já foi notificada formalmente sobre a necessidade de informar previamente qualquer incremento de consumo do produto à fornecedora.