O imóvel da empresa Multiteiner, cujo desabamento da laje de um mezanino deixou ao menos nove mortos em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, na terça-feira (20), estava irregular, segundo informações da prefeitura. Em nota, a administração afirmou que o galpão está em uma área de proteção e recuperação de mananciais e que, por isso, é necessário um licenciamento da Cetesb (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) antes da licença municipal. No entanto, o projeto aprovado pela estatal acabou “irregularmente alterado” pelo proprietário. Assim, a empresa ainda não havia concluído a fase de regularização com a Cetesb e não tem, portanto, licença municipal. Ainda assim, operava normalmente e recebia até eventos públicos. A queda da laje deixou ao menos nove mortos, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros, e outras 31 pessoas foram resgatadas com vida. Já a prefeitura contabilizou 28 resgatados, sendo que três tiveram alta do hospital, segundo a administração. A Multiteiner, localizada na estrada Ferreira Guedes, abrigava no momento um evento para cerca de 70 pessoas. Uma arquibancada montada no mezanino recebeu os visitantes e acabou desabando com o restante da estrutura, quando o evento já estava prestes a terminar, por volta das 9h. Entre os presentes estavam os candidatos ao cargo de deputado estadual Jones Donizette, do Solidariedade, e de deputada federal Ely Santos, do Republicanos. Eles tiveram ferimentos leves e não correm risco de vida. Na tarde de terça, a ocorrência ainda não havia acabado de ser registrada na Delegacia de Itapecerica da Serra. Procurada, a empresa não se manifestou. A Cetesb afirmou que realiza a análise das questões ambientais e índices ocupacionais do imóvel — área permeável e edificada — mas não avalia as questões estruturais nem a utilização do espaço para eventos públicos ou privados. O imóvel em que ocorreu o acidente está inserido em Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais Reservatório da Guarapiranga, sendo necessário, portanto, um alvará da companhia estadual. "A empresa possuía aprovação para o uso do local, porém, atualmente, se encontra em avaliação um pedido de licenciamento com vistas à regularização do empreendimento", relatou a Cetesb. Dois colaboradores da Multiteiner afirmaram ao R7 que a estrutura que desabou era nova e servia de auditório. De acordo com um dos profissionais, que preferiu não se identificar, a empresa tinha diversas políticas de segurança e, por isso, em determinados locais era necessário usar EPIs (equipamentos de proteção individual). Além disso, havia também técnicos de segurança para a fiscalização. Entretanto, ainda segundo ele, todo material carregado lá é "muito pesado". "Nós trabalhamos com estrutura metálica pesada, não sei se alguma coisa bateu em alguma parte do auditório para acontecer isso. Nunca vi nenhum indício de que a estrutura estava danificada", disse. O outro colaborador, que também preferiu não ter o nome divulgado e trabalha na firma há oito anos, diz que houve acidentes anteriormente na empresa, justamente por conta dos metais pesados com que trabalham, "mas não foi nada grave, socorreram e conseguiram fazer um acordo com a pessoa ali mesmo". Mesmo assim, o homem afirma que sempre ficou na parte de cima do auditório em que ocorreu o acidente, e nunca notou nem uma rachadura sequer. "Quando dá indícios de que pode haver um acidente, a gente fica em alerta, mas, nesse caso, não tinha nada. Realmente não esperava por isso."